Caiado pede e Governo Federal vai enquadrar Enel em Goiás

Empresa, que comprou a antiga estatal Celg, terá de apresentar 'plano emergencial a curto prazo'

Carlos Henrique Carlos Henrique -
Caiado pede e Governo Federal vai enquadrar Enel em Goiás

Em coletiva com o governador Ronaldo Caiado, nesta quinta-feira (14), o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Rodrigo Limp, anunciou que a Agência irá exigir da Enel, empresa responsável pela distribuição de energia no Estado, um plano emergencial a curto prazo para que o serviço seja melhorado em todo o território.

O anúncio ocorreu após o governador ter se reunido com o BNDES e representantes dos ministérios de Minas e Energia e Economia, para discutir a segurança e a qualidade na distribuição da energia em Goiás. Hoje, mais uma vez, ele ressaltou a ocorrência de danos para o Estado e disse que isso prejudica o desenvolvimento e novos investimentos.

“Essa situação atingiu a economia, mas atingiu na medula, porque está levando a um processo de desmonte daquilo que já construímos”, sintetizou.

Caiado explicou ao diretor da Aneel que a melhora na qualidade do serviço é um clamor de todos em Goiás. Segundo ele, toda população está sendo atingida pelo descaso da Enel. Ele citou que o Estado tem uma média de 26 horas de interrupção no serviço, o dobro da segunda empresa colocada no ranking de reclamações da Aneel. “Isso é grave, é o gargalo, é o garroteamento que a Enel está provocando em Goiás, não dando a oportunidade de crescer em um momento que o Estado se apresenta como a melhor opção para a instalação de indústrias. Isso estrangula todo nosso potencial de crescimento”, afirmou Ronaldo Caiado.

A Comigo, empresa que trabalha com Soja, em Palmeiras de Goiás, segundo o governador, deixou de fazer um investimento na ordem de R$ 50 milhões porque a Enel não teve como aumentar o fornecimento de energia.

“São vários casos, tenho um outro exemplo de um empresário em Jataí que com suas economias construiu uma churrascaria e ao pedir o fornecimento de energia elétrica, disseram a ele que teria que fazer um investimento de R$ 800 mil na rede de distribuição da Enel para que ele pudesse abrir a churrascaria. Ele teve que adquirir dois geradores, queimando óleo diesel dentro da cidade para poder colocar o estabelecimento em funcionamento”, reiterou o governador.

Ele ressaltou que o problema em Goiás não é resultado de falta de energia, mas de investimentos em linhas de transmissão para promover a universalização do serviço.

“Falta é rede para que a energia elétrica chegue a todos aqueles que demandam aumento ou, muitas vezes, até a instalação da energia em sua propriedade ou indústria. Esse é o grande gargalo que nós temos”, explicou.

Descaso

O governador disse que já tentou uma solução com a própria diretora da Enel, mas a resposta não foi satisfatória, já que os representantes afirmaram que a decisão de novos investimentos e soluções para as demandas de Goiás dependiam de decisão de investidores em Roma, na Itália, onde está a sede da empresa.

“Eu disse – está muito distante e o goiano começa a dizer que está com saudade da Celg – porque em uma situação como esta, não podemos aceitar, que Goiás fique na dependência da deliberação de Roma, diante de um colapso completo de energia em todas as regiões do Estado”, observou.

Caiado também relatou sua preocupação com o fato de a Enel estar se expandindo em todo Brasil. A empresa atua em várias partes do País e, recentemente, comprou a Eletropaulo, empresa de distribuição de São Paulo, que tem mais de sete milhões de consumidores.

“Precisamos saber se estão priorizando outras áreas e deixando de lado Goiás”, questionou o governador.

Ronaldo Caiado disse que irá defender o Estado contra os desmandos da empresa, até que haja satisfação dos consumidores e até o momento que a energia elétrica não seja um fato inibidor do crescimento de Goiás.

“Estamos assumindo nossa responsabilidade. Estive em Brasília e, a convite nosso, está aqui o diretor da Aneel. Também estive com o presidente do Senado (Davi Alcolumbre), presidente da Câmara (Rodrigo Maia), presidente do BNDES (Joaquim Levy) e com representantes do Ministério de Minas e Energia. Estamos aguardando o plano de emergência que vão apresentar”, reiterou Caiado, observando que irá exigir que o plano seja melhor detalhado para “que possamos identificar como daremos conta de atender às demandas solicitadas, para não ficar apenas um projeto no papel”.

Plano Emergencial

Rodrigo Limp esclareceu que todos os dados da Aneel mostram realmente que o serviço está abaixo do que exige o órgão regulador. Segundo ele, a Enel apresenta um número de interrupções e, principalmente, o tempo de interrupção ou falta do serviço de energia bem acima da média. Ele também destacou que o número de denúncias junto à Aneel (feitas pelo consumidor depois que a Enel não consegue resolver o problema) é alarmante.

“Só para se ter uma ideia, esse número já ultrapassa as reclamações da Eletropaulo, que tem sete milhões de unidades consumidoras, número bem maior que os três milhões que Goiás possui”, afirmou.

Limp disse que conversará com a diretoria da empresa nesta sexta, dia 15, para exigir um plano emergencial, a curto prazo, para que os investimentos de R$ 4 bilhões, previstos para os próximos cinco anos, ocorram em um período menor. Hoje, a empresa investe cerca de R$ 750 milhões, anualmente, segundo dados da Aneel. “Vamos conversar, para buscar antecipar investimentos e direcionar para as áreas mais atingidas. O plano é da empresa, fiscalizado pela Agência”, explicou Rodrigo Limp.

Segundo o diretor, a Enel é uma das distribuidoras que se encontram em acompanhamento especial pela Aneel, que é um plano de resultados, que serve para o órgão regulador acompanhar mais de perto as empresas que estão com um serviço aquém do esperado. Inclusive, hoje a Aneel divulgou que restringiu a distribuição de dividendos da Enel Goiás entre os acionistas da empresa, por descumprirem indicadores de qualidade.

Além disso, nos últimos dois anos, desde que a Enel assumiu a distribuição da energia no Estado, a empresa já teve que compensar ou fornecer descontos na conta de energia para seus clientes, em cerca de R$ 126 milhões. Ele disse ainda que nos últimos anos, a empresa também já foi multada pela Aneel em cerca de R$ 41 milhões, justamente pela falta de qualidade no serviço.

Picos

O senador Vanderlan Cardoso também participou da reunião com os representantes da Aneel e esclareceu que, além da interrupção no serviço, outro problema constante, que é pior para o setor produtivo, são os picos de energia, que ocorrem devido às linhas de transmissão precárias.

“Os picos de energia não deixam ninguém trabalhar, porque isso queima as máquinas. Às vezes, é até melhor a energia ir embora e voltar uma hora depois do que haver esses picos que estão acontecendo no Estado”, sublinhou. O senador também contestou os dados de investimentos da empresa: “A maioria desses investimentos é de terceiros, não é deles”.

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