Uruguai vai de modelo no combate à Covid-19 a líder em mortes na região

Nesta terça (20), o mandatário deve se reunir com líderes políticos regionais que pedem mais medidas restritivas para enfrentar a pandemia

Folhapress Folhapress -
Uruguai vai de modelo no combate à Covid-19 a líder em mortes na região

Sylvia Colombo, da Argentina – Considerado modelo no combate à pandemia do coronavírus na América do Sul, o Uruguai se tornou, em menos de um mês, o recordista de mortos por milhão de habitantes -superando o Brasil e se estabelecendo na terceira posição no ranking mundial da média móvel de novas mortes por Covid.

Ao mesmo tempo em que acompanha a subida dos números, o país vê desmoronar a coesão que se estabeleceu no começo da crise sanitária entre o governo nacional, comandado pelo presidente de centro-direita, Luis Lacalle Pou, e a oposição, liderada pela esquerdista Frente Ampla.

Nesta terça (20), o mandatário deve se reunir com líderes políticos regionais que pedem mais medidas restritivas para enfrentar a pandemia. Na mesma linha, o presidente recebeu uma carta assinada por médicos e cientistas de várias regiões do país cobrando ações mais duras.

Com 3,4 milhões de habitantes, o Uruguai registrou no domingo (18) uma média móvel de 2.872 nos últimos sete dias, somando 164.744 infectados e 1.908 mortos, segundo dados do site Our World in Data.

Sem estabelecer regras rígidas de quarentena nem suspender aulas durante o ano passado, Lacalle Pou apostou na “consciência cidadã” e fez um apelo para que a população ficasse em casa e tomasse as precauções necessárias.

Houve interrupções apenas temporárias em alguns setores do comércio, nos restaurantes e na construção civil, além das atividades que geram aglomerações como shows e espetáculos feitos ao ar livre.

Com as fronteiras fechadas para estrangeiros não-residentes, o país conseguiu ter uma boa performance na primeira etapa da pandemia.

“Creio que isso ajudou a instalar clima de ‘já ganhou’ entre as pessoas”, afirma o infectologista Julio Medina, que integra o Grupo Assessor Científico Honorário (GACH), que aconselha a Presidência em relação à crise sanitária.

Ele lista como possíveis causas da disparada de casos: o relaxamento dos cuidados pessoais, o aumento de reuniões sociais e familiares no fim de ano, a mobilidade das pessoas pelo país no período de férias e a chegada da variante brasileira P1, mais contagiosa.

Segundo dados do ministério da saúde uruguaio, a P1 já circula em 16 departamentos e é dominante em alguns deles, como Rivera, Rio Negro e Artigas (em 80% dos casos), bem como em Montevidéu (59%).

O fechamento das fronteiras, que teve função importante na primeira fase da crise, não conseguiu frear as variantes. Em parte porque argentinos com residência no Uruguai puderam viajar, num momento em que a pandemia está em situação crítica do outro lado do Rio da Prata.
Além disso, a fronteira com o Brasil é muito porosa -e não conseguiu parar o espalhamento do vírus, apesar do aumento do controle e da vacinação na região de Rivera.

“É hora de adotar medidas mais duras, fechar mais a circulação para dar tempo de vacinar mais gente, mesmo que isso seja algo impopular”, afirma Oscar Ventura, professor da Universidade da República.

A vacinação no país, embora esteja sendo realizada com rapidez, demorou muito a começar. Apenas em fevereiro chegaram os primeiros lotes de imunizantes, enquanto o Brasil e a Argentina já haviam começado suas campanhas.

Também houve hesitação na hora de comprar vacinas, e o governo alegou que esperava receber antes os imunizantes do consórcio Covax -algo que acabou não acontecendo. Com o aumento da pressão sobre Lacalle Pou, ele foi atrás de contatos de emergência com laboratórios.

Uma das negociações aproveitou a brecha de um contrato frustrado da Argentina com a Pfizer -que não foi adiante porque o presidente Alberto Fernández considerou que a russa Sputnik V tinha melhor custo-benefício, além de não precisar de ultracongeladores.

Assim, a Argentina perdeu a posição de preferência para comprar imunizantes do laboratório americano, embora tenha sediado ensaios clínicos. Com isso, o Uruguai conseguiu garantir 2 milhões de doses desse imunizante.

Além disso, mesmo negociados às pressas, chegaram rapidamente ao país imunizantes da Sinovac e da AstraZeneca.

Até agora, o país já aplicou ao menos uma dose da vacina em 30,6%% de sua população, ultrapassando a Argentina, que vacinou 12,1%. Em números absolutos, o Uruguai aplicou uma dose em 1.063.228 pessoas e duas em 294.461.

Em seu mais recente pronunciamento na TV, Lacalle Pou anunciou que as aulas presenciais não seriam retomadas no início do ano letivo e que continuariam assim pelo menos até maio.

O presidente mostrou-se visivelmente irritado e fez críticas aos integrantes do GACH, que tinham se pronunciado publicamente pedindo mais ações do governo. “O GACH não faz política, as decisões políticas quem toma sou eu”.

Um dos integrantes da comissão, Rafael Radi afirmou que existe no grupo um setor que crê que o governo deveria endurecer as restrições, mas que, por enquanto, o que eles podem é apenas “apresentar um menu de opções” ao governo. “O presidente é quem aceita ou não, acata de forma parcial ou total”, disse.

Nas últimas semanas, Lacalle Pou também recebeu críticas por ajudar a mediar a doação de 50 mil doses da Coronavac pelo laboratório chinês à Conmebol, para imunizar os jogadores que participam de torneios como a Copa Libertadores e a Sulamericana.

Esse será um dos pontos a serem levados por prefeitos na reunião com o presidente.

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