O choro imprevisível do meu pai
Há 29 anos foi criado no Brasil, por iniciativa da Ordem Nacional dos Escritores, o Dia do Homem, que é comemorado em 15 de Julho, com o objetivo central de conscientizar a população masculina sobre os cuidados que deve tomar com a sua saúde.
Campanhas como o Novembro Azul são realizadas anualmente, em especial a respeito de doenças masculinas com ênfase na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer de próstata, o mais comum entre os homens e a causa de morte de quase 30% daqueles que desenvolvem neoplasia as malignas. Dados do Instituto Nacional do Câncer apontam que um homem morre a cada 38 minutos devido ao câncer de próstata.
Neste sentido, quero com esse artigo chamar atenção não somente à saúde física mas também à saúde mental. Comportamentos repressivos e introspectivos, que podem culminar em situações drásticas como o suicídio.
Como salienta o amigo e psiquiatra Dr. Daniel Gamero, que chama a atenção também aos preconceitos que englobam a figura masculina, como falar de sentimentos e a necessidade de um posicionamento apático, os fazendo conviver com um silêncio ensurdecedor.
A Associação Brasileira de Psiquiatria em parceria com o Conselho Federal de Medicina, através de uma cartilha Suicídio: informando para prevenir, divulgou que óbitos por suicídio são três vezes maiores entre os homens do que entre mulheres. Principais fatores de risco: depressão, abuso de drogas, desemprego, antecedentes de doenças mentais e desilusões amorosas.
Não há mal algum em chorar e demonstrar o que sente. O choro da perda, o choro da saudade, o choro da alegria, o choro da vitória, o choro do sucesso profissional. Choro que inunda o nosso coração, podendo ser eterno ou esquecido de acordo com os caminhos e escolhas da vida, nos entrincheirando na necessidade de se reinventar. Na tentativa de um vôo de pingüim, que mesmo sendo aves, não voam e ficam “presos em liberdade”.
Nessa semana, presenciei uma cena rara: meu pai, com 74 anos, chorando!!! Chorou através das teclas de seu acordeon, executando a música Let It Be (The Beatles), no velório de um dos seus melhores amigos. Max, filho do também falecido músico Zé Rebeca. Tocaram por muitos anos no grupo ZR5, sensação aqui em Anápolis, nos anos 60 e 70.
Nesse Dia dos Homens, quero cumprimentar a todos com a certeza de que, contrariando os poetas, homens choram por dor e por amor de diferentes formas, inclusive pelas teclas de um instrumento, através das linhas de um artigo ou ouvindo e cantando, em alto som, Bruno e Marrone , a música Chorar (2015).
José Fernandes é médico (ortopedista e legista) e bacharel em direito. Atualmente vereador em Anápolis pelo PSB. Escreve todas às sextas-feiras. Siga-o no Instagram.
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