Relatório aponta vinho na parede e festas até 4h na sede do governo do Reino Unido

Após a divulgação do material, Boris voltou a pedir desculpas e disse assumir total responsabilidade

Folhapress Folhapress -
O premiê britânico, Boris Johnson. (Foto: Romena Fogliati/Folhapress)

GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) – O esperado relatório do governo do Reino Unido sobre as festas realizadas durante o período de lockdown na Inglaterra devido à pandemia de coronavírus -algumas das quais com a presença do premiê Boris Johnson- foi divulgado nesta quarta (25). O caso, conhecido como “partygate”, abriu uma crise no país.

O documento de 60 páginas, produzido por Sue Gray, funcionária pública desde a década de 1970, afirma que as celebrações que violaram regras para combater a Covid-19 contrariaram as orientações relacionadas à crise sanitária na época e envolveram, ao todo, 83 pessoas ligadas ao governo.

“Os eventos investigados contaram com a participação de líderes do governo; muitos funcionários públicos de baixo escalão acreditaram que a sua participação era permitida, uma vez que os chefes estavam presentes”, diz o documento entregue ao primeiro-ministro.

O material traz, pela primeira vez, detalhes de como foram as festas -Boris esteve presente em ao menos oito delas. Em uma celebração com queijo e vinho em 18 de dezembro de 2020, Gray relata, citando uma faxineira, que havia vinho tinto derramado em uma parede e em objetos do local.

Em outra festa, em abril do ano passado, funcionários teriam sido instruídos a sair pelas portas dos fundos do prédio. Dois deles permaneceram até 3h e 4h20. A ocasião celebrava a despedida do diretor de comunicação James Slack. Outro convescote ocorreu na véspera do funeral do príncipe Philip.

Um dos eventos que contou com a presença do premiê, uma festa de aniversário em 19 de junho de 2020 que durou cerca de 30 minutos, afirma Gray, não era de conhecimento de Boris. “Ele não estava ciente com antecedência, e isso não fazia parte do diário oficial do dia.” O político, porém, foi multado pela ocasião.

Já em uma festa na véspera “houve consumo excessivo de álcool por algumas pessoas, e dois indivíduos se alteraram”, diz outro trecho. Gray afirmou já ter recomendado que regras sobre o consumo de álcool no espaço de trabalho sejam impostas, mas salientou que não tem o poder de sugerir ações disciplinares.

Ela disse, ainda, ter identificado um problema de gestão em Downing Street, a sede do governo, com ausência de linhas claras de liderança e “vários exemplos de falta de respeito a trabalhadores da segurança e da limpeza”. Acrescentou, porém, que mudanças nesse sentido já foram feitas: “Espero que isso incorpore uma cultura de acolhimento para que todos os níveis se sintam confortáveis para falar”.

O conteúdo do documento, porém, parece não revelar tudo que aconteceu na sede do governo britânico. No total, 15 eventos foram investigados, e Gray afirma que contou com a colaboração de muitas pessoas para obter informações. Parte das descobertas, no entanto, só veio à tona por meio da imprensa.

“Isso é decepcionante”, afirmou. “A maneira fragmentada com que os fatos foram trazidos ao nosso conhecimento revela que é possível que tenham ocorrido eventos que não foram objeto de investigação.”

Após a divulgação do relatório, Boris voltou a pedir desculpas e disse assumir total responsabilidade. Mas também relativizou a gravidade de alguns eventos, dizendo que algumas das “breves reuniões” foram realizadas para agradecer funcionários que estavam se despedindo de suas funções públicas.

Ele acrescentou que eventos do tipo ocorreram posteriormente, o que, afirmou aos parlamentares, foi errado. “Não tinha conhecimento desses procedimentos, pois não estava lá”, disse ele durante a sessão semanal em que responde a questionamentos feitos por membros do Parlamento britânico.

A oposição, que pede a saída de Boris, voltou a criticar a participação dele nas celebrações. O líder trabalhista, Keir Starmer, disse que o relatório “desnuda a podridão” do governo e mostra como a gestão “tratou o sacrifício do povo britânico com total desprezo”, referindo-se às restrições durante a pandemia.

A autora do relatório também disse estar convicta de que os casos analisados não refletem a cultura predominante no funcionalismo público, mas pediu respeito aos cidadãos. “A população tem o direito de esperar os mais altos padrões de comportamento, e o que aconteceu ficou muito aquém disso.”

Outro relatório interno, também capitaneado por Gray, foi divulgado em janeiro. Enxuto, o documento continha 12 páginas, mas já dizia haver um problema de liderança em Downing Street.

Como houve interferência policial, limitando a atuação de Gray, um novo relatório, mais robusto, foi encomendado.

Ao todo, a Polícia Metropolitana de Londres emitiu 126 multas relacionadas aos eventos irregulares. Além de Boris, sua esposa, Carrie, e seu secretário de Finanças, Rishi Sunak, entraram na lista de multados.

O escândalo teve repercussões eleitorais para o Partido Conservador, que sofreu derrotas nas eleições regionais no início deste mês.

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