‘Democracia está sob ataque no mundo todo’, diz Biden ao abrir Cúpula das Américas
Expectativa do evento é que sejam firmados compromissos em várias áreas, incluindo, além da democracia, energia limpa, imigração, inclusão digital e outros
RAFAEL BALAGO
LOS ANGELES, EUA (FOLHAPRESS) – O presidente Joe Biden deu destaque ao riscos enfrentados pela democracia no início do discurso de abertura da Cúpula das Américas, nesta quarta (8) em Los Angeles.
“Em um momento em que a democracia está sob ataque no mundo todo, vamos nos unir de novo e renovar nossa convicção de que a democracia não é só o fator definidor da história americana, é um ingrediente essencial da história americana”, discursou.
A defesa da democracia é um dos principais temas da cúpula, que reúne chefes de Estado do continente até sexta (10) em Los Angeles. Nos próximos dias, haverá várias rodadas de conversa. A expectativa é que sejam firmados compromissos em várias áreas, incluindo, além da democracia, energia limpa, imigração, inclusão digital e parcerias em saúde pública.
Na fala de abertura, Biden citou o Brasil apenas uma vez, como um dos maiores exportadores de comida do continente, ao lado de países como Argentina, Canadá e México.
O americano fará sua primeira reunião bilateral com o presidente Jair Bolsonaro nesta quinta (9). O líder brasileiro fez diversos ataques ao sistema eleitoral do país, e também questiona o resultado das eleições americanas de 2020, quando Biden foi eleito. Nesta quarta, Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional, disse que as eleições serão um tópico importante da conversa, assim como a preservação da Amazônia.
Antes da cerimônia, Biden cumprimentou e posou para fotos com chefes de 30 delegações estrangeiras que já chegaram a Los Angeles. Bolsonaro não participou do evento, pois desembarca na cidade na manhã de quinta (9). O líder brasileiro deve fazer um discurso na sexta (10).
Na abertura, Biden anunciou uma Parceria Americana para a Prosperidade Econômica, uma estratégia dividida em cinco pontos: revigorar as instituições econômicas regionais, especialmente o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), aumentar a resiliência das cadeias de suprimentos, melhorar serviços públicos, criar empregos com a transição para energias verdes e aumentar o comércio exterior regional.
O líder americano também falou sobre a criação de um Corpo de Saúde das Américas, que capacitará 500 mil profissionais do continente, ao custo de US$ 100 milhões. Parte do valor será custeado pelos EUA, que também oferecerá treinamentos em instituições do país.
Sobre imigração, um dos temas do encontro, disse que a vinda de estrangeiros é benéfica, mas que a “imigração ilegal é inaceitável”. O governo americano quer assinar, na sexta, uma declaração conjunta com os países vizinhos com medidas para conter o tráfico de pessoas e a imigração irregular.
O evento de abertura teve vários discursos breves. A vice-presidente Kamala Harris disse que a cúpula tem grandes ambições, como a de melhorar a vida das pessoas no continente, e que as condições do continente afetam diretamente a segurança e a prosperidade dos EUA. “Os desafios encarados pelo nosso hemisfério nos meses e anos à frente são significativos. A crise do clima, insegurança alimentar, desigualdade econômica, corrupção e violência de gênero. Eles demandam novas e inovadoras coalizões”, disse a vice-presidente.
O presidente do Peru, Pedro Castillo, falando em espanhol, destacou compromissos feitos em eventos anteriores para combater a corrupção no continente e criar novas parcerias econômicas. “A América para os americanos”, defendeu, ao final do discurso.
A abertura foi realizada em um teatro, com distribuição de pipoca e refrigerante grátis para os convidados. Entre as falas, houve números musicais e apresentações de vídeos. Um deles mostrou crianças dos países da América falando de suas nações. Nicarágua e Venezuela foram citadas. O Brasil foi descrito como um grande produtor de café.
Biden sentou-se na plateia ao lado do presidente colombiano Iván Duque. No começo de seu discurso, ao menos duas pessoas gritaram palavras de protesto contra o democrata. Uma mulher foi retirada do local por policiais.
Os EUA buscam usar o evento para se reaproximar da América Latina. O governo Biden tem anunciado uma série de novas iniciativas para beneficiar países do continente em áreas como recuperação econômica, melhora do sistema de saúde e adoção de energias limpas.
Na terça, Kamala havia anunciado investimentos que devem ser feitos pelo setor privado em novos negócios na América Central, no total de US$ 1,9 bilhão. A lista de novos empreendimentos inclui redes de banda larga fixa e de telefonia móvel, expansão de pagamentos digitais, fábricas de roupas e autopeças e plantações de banana e abacate.
Após a pandemia e a Guerra na Ucrânia, os Estados Unidos passaram a falar em near-shoring, um movimento de trazer para mais perto indústrias e cadeias de produção espalhadas pelo planeta, em um movimento que pode beneficiar a América Latina. O governo americano espera que isso, além de melhorar a economia da região, também ajude a desestimular a migração de latino-americanos rumo aos EUA.
Apesar dos gestos, o começo do evento é marcado pela ausência de 11 chefes de Estado. Oito deles, incluindo México e Honduras, fizeram um boicote como forma de crítica pelo fato de os EUA não terem convidado Cuba, Nicarágua e Venezuela, consideradas ditaduras pelo governo americano.
Nesta quarta, Biden conversou por telefone com Juan Guaidó, que os EUA reconhecem como presidente interino da Venezuela, apesar de ele não possuir o comando do país. O líder americano defendeu que as negociações entre a oposição venezuelana são a melhor saída para restaurar a democracia na Venezuela.