Conservador acusado de apalpar homens quando bêbado renuncia e cria nova crise para Boris
Oposição e também alguns parlamentares cobram que o mandato parlamentar de Pincher seja cassado
Mais um escândalo bateu à porta do premiê do Reino Unido, Boris Johnson. O deputado conservador Christopher Pincher, vice-chefe do cargo conhecido “whip” (chicote) -responsável pela disciplina parlamentar dos deputados-, renunciou nesta quinta (30) após virem à tona denúncias de assédio sexual.
Fontes anônimas relataram a diversos veículos da mídia britânica que Pincher teria assediado sexualmente dois homens, sendo um deles deputado, em um clube privado no centro de Londres essa semana. A oposição e também alguns parlamentares conservadores cobram que o mandato parlamentar de Pincher seja cassado.
Boris, porém, disse por meio de um porta-voz que considera o assunto encerrado após a renúncia e afirmou que desconhecia quaisquer queixas sobre a conduta do parlamentar antes de nomeá-lo. Para que o Parlamento o investigue, seria preciso que as supostas vítimas apresentassem queixas formais -ou, então, a polícia, caso haja crime.
Na carta de renúncia que apresentou ao premiê, Pincher diz que envergonhou a si mesmo e a outras pessoas após beber em excesso. “Devo isso a você e às pessoas que aborreci ao fazer isso; garanto que você continuará a ter meu total apoio”, disse ele em mensagem a Boris.
Não se trata do primeiro caso de escândalo sexual no governo do primeiro-ministro conservador. Em abril, o também conservador Neil Parish renunciou após admitir ter visto filmes pornográficos duas vezes em seu celular enquanto estava no Parlamento. Pouco depois, em maio, outro correligionário, cujo nome não foi revelado, foi preso por suspeita de estupro e agressão sexual.
Também não é a primeira vez que Christopher Pincher está envolvido em casos do tipo. Em 2017, ele foi inocentado em uma investigação interna após ser acusado de assediar sexualmente o ex-remador olímpico Alex Story. À época, ele também se afastou da equipe do “whip”, que já compunha.
O mais recente episódio fez crescer as críticas ao Partido Conservador. Boris, após semanas tumultuadas, regressava de importantes viagens ao exterior -participou da reunião do G7, grupo das principais economias do mundo, na Alemanha, e, depois, do encontro da cúpula da Otan (aliança militar ocidental) em Madri.
Caroline Nokes e Karen Bradley, duas parlamentares conservadoras, disseram em comunicado conjunto que o partido tem uma abordagem frágil e pouco transparente para casos de má conduta sexual.
“O partido e, por extensão, o governo correm o risco de sérios danos à reputação com a abordagem que temos hoje”, disseram. Elas pedem que seja implementada uma política de tolerância zero, de modo que todos os casos sejam prontamente investigados.
O premiê sobreviveu há um mês a um voto de desconfiança de seu próprio partido motivado por escândalos relacionados ao caso conhecido como “partygate”, quando membros do governo, incluindo Boris, participaram de festas durante a vigência de restrições sanitárias para conter o avanço do coronavírus.
De lá para cá, ele prometeu um pacote de medidas econômicas, visando retomar apoio de setores do partido que têm o abandonado, e voltou a sofrer uma derrota em eleições legislativas, quando os conservadores perderam mais dois assentos parlamentares. Outro revés eleitoral para o premiê já havia sido registrado em maio.
Pesam ainda os conflitos que extrapolam as fronteiras da Inglaterra. Na Escócia, o governo local anunciou planos para que um novo referendo sobre a independência do país seja realizado no próximo ano. Londres também entrou na mira da UE após indicar a quebra de acordos feitos na época do brexit e relacionados a protocolos comerciais com a Irlanda do Norte.