Ações de Gustavo Gayer causam revolta e sentimento de opressão em professores de Goiás

Professor apontou que ele e outros colegas têm enfrentado situações em que  alunos discutem e até ameaçam docentes

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
Gustavo Gayer
Gustavo Gayer. (Foto: Reprodução/ Redes Sociais)

O comportamento do deputado federal Gustavo Gayer (PL) e a massa que o acompanha nas redes sociais vem causando sentimento de revolta e de cerceamento em profissionais de ensino no estado.

Somente nas duas últimas semanas, a retirada de um livro da grade de vestibular e a demissão de uma professora da história da arte são apenas o resultado prático percebido fora da sala de aula, mas desdobramentos também estão sendo sentidos dentro dela.

“Estamos nos sentindo pressionados, subjugados”, explica o professor de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), João Batista Valverde.

O docente afirmou ao Portal 6 que recentemente, vem ocorrendo o chamado “patrulhamento de ideologia” por parte de alguns segmentos da sociedade brasileira. “Eles acham que têm opiniões verdadeiras e isentas e, a partir disso, julgam quem eles acham que não deveria ter opinião”, explica.

Porém, o professor aponta que a classe têm o direito a autonomia de cátedra, assegurada por lei, que diz respeito à liberdade de dar aula como julgar melhor. Para João Batista, a inserção de figuras externas e sem conhecimento na sala de aula apresenta um risco crescente.

Em sala de aula, o professor apontou que ele e outros colegas têm enfrentado situações em que  alunos discutem e até ameaçam docentes. Houve até um caso em que um estudante gritou e ofendeu pessoalmente o professor com discurso de ódio na PUC.

Para a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado de Goiás (Sintego) e deputada estadual, Bia de Lima, a situação é grave ao ponto de acionar o Ministério Público. Ela afirma que tanto o deputado como os seguidores deste têm continuamente usado do mecanismo de denúncia para coibir e constranger professores.

Relembre

No dia 26 de abril, após uma onda intensa de críticas estimuladas pelo parlamentar Gustavo Gayer, a Universidade de Rio Verde (UniRV) publicou uma nota confirmando a retirada do livro “Eu receberia as piores notícias dos seus lábios lindos”, de Marçal Aquino, das indicações para o vestibular da instituição.

O deputado fez campanha conta a obra por considerá-la “pornográfica”. Agora, Gustavo volta a tecer críticas contra uma professora pela escolha de roupa, o que resultou no desligamento da profissional da escola em que trabalhava.

A professora de história da arte usava uma camiseta vermelha escrita “Seja marginal, seja herói”, uma referência à obra de Hélio Oiticica, um dos mais importantes artistas brasileiros e frequentemente trabalhado em sala de aula.

Nas redes sociais, o deputado federal publicou uma montagem da roupa com a legenda falsa “professora de história com look petista em sala de aula”, como se ela tivesse realizado a postagem.

Além das campanhas, o parlamentar ainda lançou um site para que a população pudesse fazer denúncias contra a suposta “doutrinação ideológica” por profissionais da educação.

Resposta

Frente ao cerceamento, diversas instituições de ensino se manifestaram contra ataques aos professores, como foi o caso da Associação Nacional de História – seção Goiás (Anpuh-GO), que emitiu nota de repúdio no último domingo (07).

O comunicado contou com a assinatura da Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás (UFG), Curso de História da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC), entre outros.

Maria Luiza Valeriano

Maria Luiza Valeriano

Jornalista formada pela Universidade Federal de Goiás. É repórter do Portal 6 desde fevereiro de 2023.

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