Médico é demitido após prescrever sorvete e videogame para criança com dor de garganta

Apesar da atitude ter sido considerada desrespeitosa pela mãe do garoto, profissional também orientou no receituário os demais remédios corretos para o problema de saúde

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Receita entregue por médico instruía que criança tomasse sorvete e jogasse jogo online para curar problema de saúde. (Foto: Reprodução)Médico é demitido após prescrever sorvete e videogame para criança com dor de garganta
Receita entregue por médico instruía que criança tomasse sorvete e jogasse jogo online para curar problema de saúde. (Foto: Reprodução)

Um médico que atendia na rede pública de Osasco, na Grande São Paulo, foi demitido depois de prescrever sorvete de chocolate e videogame para tratar uma criança de 9 anos que estava com inflamação na garganta e sintomas gripais.

A mãe da criança, Priscila da Silva Ramos, 37, reclama do atendimento. “Eu acho que foi um deboche do meu filho doente”, afirmou.

O atendimento ocorreu na madrugada do último dia 18, na UPA Jardim Conceição, em Osasco.

“Meu filho passou bastante mal, vomitou, aí eu fui levar ele. O médico atendeu, não levou nem cinco minutos na sala. Ele perguntou se eu tinha olhado a garganta do menino. Eu falei que não, que era ele o médico e quem tinha que estar olhando a garganta do menino”, relatou.

No entanto, ainda assim, segundo a mãe, o médico não examinou a criança. A reportagem não conseguiu contato com o profissional.

“Ele começou a escrever a receita sem examinar meu filho, sem olhar a garganta, sem examinar o peito, sem nada nada. Aí ele perguntou para o meu filho se ele gostava de sorvete, ele falou que sim. Perguntou se de chocolate ou morango, meu filho respondeu de chocolate. Só que até então não imaginava que ele prescreveu o sorvete na receita. Aí ele prescreveu o sorvete e prescreveu o jogo”, contou.

Na receita médica constam cinco indicações de medicamentos: amoxicilina, ibuprofeno, dipirona, prednisolona e acetilcisteína -além de sorvete de chocolate duas vezes por dia, mais Free Fire diário.

Ramos contou que viu a lista de medicamentos, mas não percebeu a prescrição do sorvete e do jogo no final da receita. “Alguns remédios eu conhecia, outros não. Mas ele não explicou nada, simplesmente escreveu e me dispensou”, afirmou.

Só no dia seguinte a tia do menino pegou a receita e estranhou a indicação do médico. “Depois eu e minha irmã resolvemos colocar no Facebook”, explicou.

No site do CFM (Conselho Federal de Medicina) a situação dele consta como regular, mas sem especialidade registrada.

Segundo a Prefeitura de Osasco, a OS (Organização Social) responsável pelas UPAs informou que desligou médico de seu quadro de prestadores de serviços.

Para o advogado Henderson Furst, presidente da Comissão de Bioética da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil, seção São Paulo), esse tipo de prescrição, geralmente, tem o objetivo de humanizar a relação.

“Alguns médicos que têm uma prática de humanizar a relação fazendo umas receitas que contenham algumas coisas fora do comum, mas que representam naquela relação um um ato de humanização. Já vi receita, por exemplo, que o médico falava ‘cuide-se, você é especial, abrace mais’. É claro que essa mesma receita feita por um médico no contexto em que a relação médico-paciente está ruim pode soar muito estranha”, disse.

De acordo com o advogado, não é possível opinar sobre a conduta sem conhecer o contexto. “Não temos como saber se ele realmente não foi diligente, não atendeu bem. Mas não dá para condenar a prática em si”, afirmou.

“Pode ser que o profissional tenha dosado mal a mão ao não perceber que a mãe estava angustiada, preocupada com a situação da criança e que aquela mensagem não iria cair bem. Talvez, em outro contexto, isso viralizaria como algo muito positivo”, avaliou.

A mãe da criança disse que espera que o caso traga melhora nos atendimentos médicos na cidade. “Que deem mais atenção, principalmente quando é criança. A gente fala, muitas vezes ignoram, não olham na cara, fingem que escutam, uma ignorância tão grande. Que comecem a ouvir mais o paciente. A gente vai porque necessita, ninguém quer viver em hospital”, disse.

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