Vibradores não viciam, mas podem limitar prazer da mulher, dizem especialistas

Uso constante do aparelho, sem variação de estímulos, pode limitar a satisfação sexual

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Vibradores não viciam, mas podem limitar prazer da mulher, dizem especialistas
Tatyanna Hayne, 39, apelidou seus vibradores de Tião, Susu e Vivi. (Foto: Karime Xavier/Folhapress)

GEOVANA OLIVEIRA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A vida sexual de muitas mulheres mudou quando descobriram um parceiro quase perfeito. Ele acha facilmente o clitóris, se mexe em diferentes velocidades e nunca perde a constância. Sem precisar dizer uma palavra, pode ficar mais lento, rápido, profundo ou superficial. Faz movimentos circulares ou em zig zag. Só não tem um corpo, já que é um brinquedo vibrador, e precisa ser usado com moderação.

Especialistas apontam que o uso constante de vibradores, sem variação de estímulos no corpo, pode limitar a satisfação sexual –efeito contrário ao desejado por quem o procura.

“A pessoa se habitua a esse tipo de estímulo e qualquer outro que não seja da mesma ordem acaba não sendo interessante”, diz Carmita Abdo, psiquiatra e coordenadora do ProSex (Programa de Estudos em Sexualidade), da USP (Universidade de São Paulo).

A advogada Lorena (nome fictício, a pedido), 35, começou a usar o artefato há cinco anos para ativar a libido, o que funcionou. Com o passar do tempo, porém, ficou dependente do brinquedo para chegar ao orgasmo.

“Você impulsiona tanto a área, com grande potência, que acaba se acostumando a uma estimulação muito forte”, diz ela.

Agora, diz que seu prazer está “mecanizado”, concentrado no órgão genital e sem tanta intensidade em outras partes do corpo.

Lorena tem cinco vibradores de diferentes formatos, dos quais não pretende abrir mão. “Quero adquirir mais, mas melhorar minha relação com o uso”, afirma. “Venho maturando a ideia de procurar terapias sexuais”.

Até o momento, não há pesquisas que indiquem qualquer tipo de vício pelo vibrador possa prejudicar a sensibilidade da região do clitóris.

Segundo a especialista em sexualidade humana pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Michelle Sampaio, pacientes relatam dificuldade em ter orgasmo sem o auxílio brinquedo sexual. A resposta, então, seria variar o estímulo.

Dedos, prática oral, penetração por outras pessoas e contato corporal são indicados. Além disso, os vibradores podem ser usados em diferentes pulsações, intensidades e locais do corpo.

“Toda mulher deveria usar vibrador, a gente só precisa tomar cuidado com o excesso”, diz Sampaio.

Segundo a terapeuta de casais e sexóloga Marcela Benati, os vibradores têm mais benefícios do que malefícios.

“No consultório, a gente usa o vibrador para tratar quase todos os tipos de disfunções sexuais das mulheres. Ele é um massageador e, massageando a musculatura genital, aumenta a irrigação, então aumenta o prazer, a lubrificação e melhora a atrofia vaginal”, afirma

Um estudo feito nos Estados Unidos, publicado no último ano na revista científica The Journal of Urology, concluiu que o uso regular de vibradores por mulheres proporciona benefícios além do prazer sexual. Os pesquisadores da Cedar-Sinai Medical Center afirmaram que o aparelho estimula a saúde e força do assoalho pélvico, reduz a dor vulvar e é favorável no tratamento da incontinência urinária.

A produtora cultural Tatyanna Hayne, 39, embaixadora da organização Livres de Assédio, tem três brinquedos sexuais que são sua companhia por onde quer que ela vá. Eles receberam os apelidos carinhosos de Vivi (um vibrador), Susu (um sugador) e Tião (que vibra e suga).

“Minha relação com a masturbação começou bem nova, não com vibrador, mas com outros objetos. Minha mãe sempre conversou comigo e disse que era importante ter o meu prazer”, diz.

Ela afirma que o uso não interferiu nos seus relacionamentos com homens. “Sinceramente, acho que isso não tem a ver com a constância, pode até melhorar a relação”, diz, citando que varia as formas de uso dos aparelhos.

Isso não significa, porém, facilidade no orgasmo com parceiros de carne e osso. “Você tem que estar muito à vontade. Já não vou mais para relações sexuais com tanta frequência e deixou de ser um problema para mim”.

Carmita Abdo diz que esperar a mesma intensidade de estímulo do vibrador em relações sexuais a dois (ou mais) pode ser frustrante. Mesmo que alcançável, exige conversa. No sexo, segundo ela, a mulher precisa comunicar o que mais gosta, sem sentir vergonha ou ter medo de melindrar a outra pessoa. Para isso, é necessário treino.

O ideal é que as mulheres ampliem ao máximo as possibilidades de satisfação sexual, diz ela. “Ninguém precisa demonizar o vibrador ou a masturbação, o problema é dosar. Se você exclui tudo e deposita no vibrador, você se limita -e a ideia é ampliar”.

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