Evento do 8 de janeiro mostra Lula e STF com discursos alinhados, mas Congresso dividido
Ato Democracia Inabalada foi realizado no Salão Negro do Congresso Nacional
CATIA SEABRA, CÉZAR FEITOZA, MARIANNA HOLANDA, RANIER BRAGON, RENATO MACHADO, THAÍSA OLIVEIRA, VICTORIA AZEVEDO E RAQUEL LOPES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ato que nesta segunda-feira (8) marcou um ano dos ataques golpistas às sedes dos três Poderes, em Brasília, mostrou um discurso alinhado entre o governo Lula (PT) e a maior parte dos integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal). Por outro lado, evidenciou o racha político existente hoje no Congresso.
O presidente da República e os ministros do Supremo Luís Roberto Barroso presidente da corte e Alexandre de Moraes, que falaram no evento, enfatizaram a necessidade de punição aos golpistas.
O Congresso se mostrou dividido.
A presença do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e de ministros do centrão e de partidos de direita contrastou com a ausência de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e de boa parte dos parlamentares dos partidos que formalmente apoiam o governo além da oposição bolsonarista, que já era um desfalque anunciado.
O ato Democracia Inabalada foi realizado no Salão Negro do Congresso Nacional, um dos palcos do vandalismo de 8 de janeiro de 2023, e também teve a presença de governadores, prefeitos e outros políticos, além dos três comandantes das Forças Armadas.
O hino nacional foi cantado pela ministra da Cultura, Margareth Menezes.
Jair Bolsonaro foi citado diretamente na fala de Lula, que o classificou como “ex-presidente golpista”.
“Todos aqueles que financiaram, planejaram e executaram a tentativa de golpe devem ser exemplarmente punidos.
Não há perdão para quem atenta contra a democracia, contra seu país e contra o seu próprio povo. O perdão soaria como impunidade. E a impunidade, como salvo conduto para novos atos terroristas”, disse Lula em sua fala, a que encerrou a solenidade.
Moraes, que é relator das investigações sobre o 8 de janeiro, novamente citou como exemplo a ser descartado a fracassada política de apaziguamento promovida por Inglaterra e França em relação a Adolf Hitler nos anos 30 do século passado, que precedeu a eclosão da Segunda Guerra Mundial.
“O fortalecimento da democracia não permite confundirmos paz e união com impunidade, apaziguamento ou esquecimento”, afirmou Moraes.
“Todos, absolutamente todos aqueles que pactuaram covardemente com a quebra da democracia e a tentativa de instalação de um estado de exceção serão devidamente investigados, processados e responsabilizados.”
Ele também aproveitou o palanque para novamente defender a regulação das redes sociais e o combate ao que chama de “novo populismo digital extremista”.
Barroso, por sua vez, disse que o 8 de janeiro “não foi um fato isolado, um caso fortuito, mero acidente de percurso”, mas que, a despeito de tudo, as instituições venceram e a democracia prevaleceu.
Em sua fala, Pacheco anunciou a retirada das grades que estão alocadas na praça dos Três Poderes.
Um ano após a invasão e depredação da sede dos três Poderes, mais de 1.400 pessoas foram denunciadas pela Procuradoria-Geral da República por crimes cometidos naquele domingo 30 já foram julgadas e condenadas pelo Supremo a penas que vão a até 17 anos de prisão.
Apesar do alinhamento no discurso de governo e STF, o evento também evidenciou o racha político existente no Congresso, em que Lula tem uma folgada maioria no papel, mas que não se reflete na prática.
Além do anunciado boicote da oposição vinculada a Bolsonaro, houve ausências de governadores Romeu Zema (Novo), de Minas, chegou a confirmar presença, mas depois recuou e líderes do centrão, entre eles o presidente da Câmara, que apresentou como justificativa problemas de saúde na família.
Uma ala dos partidos do entorno de Lira avaliou que Lula usaria o evento como palanque político. Por isso, a decisão foi não tomar o lado do petista, principalmente em ano eleitoral.
Aliados do presidente da Câmara também viram a ausência de Lira no evento como uma maneira de ele se preservar com parlamentares mais alinhados à direita na Casa, que criticaram a realização do ato.
Além do presidente da Casa, várias lideranças da Câmara desfalcaram o evento, entre eles o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), por ora o nome de Lira para sucedê-lo no cargo.
A presença dos militares também foi uma das saias justas do evento.
Em almoço recente, os militares haviam argumentado que não deveriam ir à solenidade pelo seu caráter político e defenderam que deveriam ser representados no evento pelo ministro José Múcio, da Defesa. Eles acabaram sendo convencidos do contrário.
Os comandantes não falaram com a imprensa e tiveram participação discreta no evento, aplaudindo de forma comedida os discursos. Os militares também ouviram a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), puxar o coro “sem anistia” e o presidente Lula (PT) fazer um agradecimento aos “militares legalistas”.
O ato desta segunda-feira contou com um forte esquema de segurança na Esplanada dos Ministérios.
Apenas uma mulher foi presa por policiais militares por ameaça e desacato na área externa do STF, por volta das 16h.
Segundo a Polícia Militar, a equipe foi acionada por testemunhas que presenciaram a mulher agredindo os policiais judiciários e ameaçando contaminar o ambiente com Antraz [agente biológico letal, utilizado em ataques terroristas].