Funcionários relatam como era o dia a dia da empresa que falsificava prêmios e fraudava sorteios

"Já cheguei a ver quase R$ 100 mil em grana viva sendo levado ao cofre da administração", revelou um deles ao Portal 6

Samuel Leão Samuel Leão -
Funcionários relatam bastidores das empresas investigadas na Operação Las Vegas. (Foto: Samuel Leão)

Ostentações com carros de luxo e maletas de dinheiro mascaravam a realidade de exploração trabalhista, confusões e fraudes. Com a eclosão da “Operação Las Vegas”, nesta segunda-feira (08), diversos ex-funcionários decidiram expor o que viveram trabalhando nas empresas, que realizavam fraudes em sorteios de Goiânia e Anápolis.

Ao Portal 6, as testemunhas – que não quiseram se identificar – apontaram a percepção interna dos sorteios e vendas de bilhetes, especialmente na equipe da Rede de Prêmios e na Ana Prêmios.

“A sede da empresa contava com seguranças, por conta do risco que os funcionários corriam pela quantidade de dinheiro que era trazido pelos motoqueiros aos sábados, antes dos sorteios que aconteciam aos domingos. Já cheguei a ver quase R$ 100 mil em grana viva sendo levado ao cofre da administração”, apontou uma delas.

Além do fluxo impressionante de dinheiro, os funcionários relataram uma equivalência desproporcional entre as comissões e as vendas. Suspeitas de lavagem de dinheiro ou irregularidades eram uma realidade entre supervisores e vendedores.

“Se a gente fizesse R$ 15 mil em vendas, ganhava R$ 150 na outra semana. Os supervisores diziam que quem falasse em direitos trabalhistas seria demitido. De cara, todos que entravam percebiam que tinha lavagem de dinheiro, mas todos precisavam da grana. Os supervisores até brincavam dizendo que ‘uma hora ia cair’, contou.

Equipamentos eram distribuídos entre os funcionários, que recebiam orientações de “como mentir” para os clientes. Apesar do CNPJ estar situado em Goiânia, as empresas funcionavam em um prédio residencial em Anápolis.

“Tinha a Ana Brasil e a Rede de Prêmios, um de frente para o outro em salas diferentes, e a gente tinha que fingir que não conhecia um ao outro. Falavam que era para mentirmos, falar que éramos de São Paulo e Goiânia, e usavam nossa imagem para anúncios nas redes sociais”, continuou.

Ainda foi relatado que clientes estranhavam o nome de “Paulo Madureira”, um dos líderes do grupo, aparecer como o pix da empresa. Mensagens prontas, apontando portarias que provariam a legalidade dos sorteios e usando argumentos para convencer os clientes, eram passadas aos vendedores.

“Em 2022, um ganhador do Giro da Sorte ficou bravo porque não queria tirar foto com o cheque, ele quebrou o portão da empresa e xingou funcionários. Paulo dava presente de Natal e ano novo em dinheiro para os funcionários e fazia belíssimos banquetes de comemoração”, completou.

Em tempo

Já foram cumpridos nove mandados de prisão e 16 mandados de busca, sendo que das pessoas presas, cinco são de Anápolis e quatro de Goiânia. Do grupo, seis são homens e três são mulheres.

Confira a lista com o nome de todos os nove presos clicando aqui.

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