Promotores pedem multa de US$ 10 mil a Trump por violação a ordem de silêncio

"Ele sabe que não pode fazer e o faz mesmo assim. Sua desobediência à ordem é intencional", disse o promotor de Nova York

Folhapress Folhapress -
Promotores pedem multa de US$ 10 mil a Trump por violação a ordem de silêncio
Donald Trump. (Foto: Reprodução/Captura via Youtube)

Promotores de Nova York pediram nesta terça-feira (23) que o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump seja multado em US$ 10 mil (R$ 52 mil) por supostamente violar uma ordem de silêncio que o impede de criticar envolvidos no julgamento em que é acusado de comprar o silêncio de uma atriz pornô durante a campanha eleitoral de 2016.

Em sua segunda semana comparecendo à corte, o empresário assistiu da mesa de defesa ao promotor de Nova York, Christopher Conroy, citar publicações que teriam desrespeitado a medida do juiz responsável pelo caso, Juan Merchan. “Ele sabe que não pode fazer e o faz mesmo assim”, disse Conroy. “Sua desobediência à ordem é intencional.”

No início da semana passada, quando a Justiça de Nova York ainda estava na etapa de escolha dos jurados para o caso, os promotores pediram para o juiz multar Trump em US$ 3.000 por violar a ordem de silêncio três vezes. Na quinta (18), eles voltaram a afirmar no tribunal que o republicano continuava desafiado a medida – àquela altura, seriam mais de sete violações.

Nesta terça, os promotores afirmaram que Trump desrespeitou a decisão 11 vezes e pediram a multa, apesar de desacatos também serem passíveis de punição com penas de prisão de até 30 dias no estado de Nova York. O valor seria relativamente pequeno para o republicano, que já pagou US$ 266,6 milhões em fiança em dois outros casos que enfrenta na esfera civil.

Em algumas das supostas violações, o empresário chamou seu ex-advogado Michael Cohen de “mentiroso em série” e endossou as declarações da comentarista da Fox News Jesse Watters, que alegou, sem provas, que estavam selecionando “ativistas progressistas infiltrados que mentem ao juiz” para o júri que definirá a sentença.

A publicação teve consequências para o caso – no dia seguinte, uma candidata ao júri desistiu do processo por medo de ser reconhecida. Para evitar intimidações e assédio, o juiz decretou o anonimato dos 12 integrantes do júri e dos seis suplentes, que respondem apenas por um número.

No início de abril, Trump chegou a ofender o próprio juiz ao mencionar uma eventual detenção. “Se esse lacaio partidário quiser me colocar na prisão por dizer a VERDADE aberta e óbvia, com prazer me tornarei um Nelson Mandela moderno. Será uma GRANDE HONRA”, afirmou.

Nesta terça, o promotor Conroy citou, por exemplo, uma publicação de 10 de abril de Trump que chamava Stormy Daniels, uma atriz pornô, e Michael Cohen, ex-advogado do republicano, de “safados”. Ambos devem testemunhar nesse que é o primeiro julgamento criminal de um ex-presidente dos EUA.

O promotor disse ainda que não pediria a prisão de Trump apesar de o réu “parecer buscar isso”. Durante uma pausa no julgamento, o republicano usou a sua plataforma, a Truth Social, para acusar o juiz, Merchan, de retirar seu “direito à liberdade de expressão” e afirmar que não tinha permissão para se defender.

O advogado de Trump, Todd Blanche, argumentou que as publicações de seu cliente eram respostas a Cohen e não estavam relacionadas ao testemunho de seu ex-advogado. “Ele tem permissão para responder a ataques políticos”, afirmou.

Merchan não se mostrou convencido e perguntou por exemplos específicos. A tensão na corte aumentou quando ele não foi respondido. “Eu pergunto repetidamente a você por exemplos específicos e não recebo uma resposta”, disse o juiz. Ao insistir que Trump estava tentando seguir as regras, Blanche foi interrompido. “Você está perdendo toda a sua credibilidade junto ao tribunal”, disse Merchan.

Trump é acusado de tentar esconder histórias que poderiam ser prejudiciais para sua campanha de 2016. O esquema envolveria o pagamento de US$ 130 mil feito por Michael Cohen, advogado de Trump à época, à atriz pornô Stormy Daniels para que ela não revelasse um suposto encontro sexual com o empresário uma década antes.

O ex-presidente reembolsou Cohen, segundo os promotores, e maquiou as despesas nas contas de sua empresa para que elas fossem consideradas gastos de campanha. Os promotores afirmam ainda que isso fazia parte de um esquema mais amplo para esconder informações desfavoráveis dos eleitores em um momento em que ele enfrentava outros escândalos de cunho sexual.

“O réu, Donald Trump, orquestrou um esquema criminoso para corromper as eleições presidenciais de 2016”, disse o promotor Matthew Colangelo nesta segunda-feira (22), quando o julgamento entrou em uma fase oral com a apresentação das acusações e das testemunhas. “Foi fraude eleitoral, pura e simples.”

Em sua declaração de abertura na segunda, o advogado de defesa Todd Blanche disse que Trump não cometeu crimes. “Não há nada de errado em tentar influenciar uma eleição. Isso se chama democracia”, disse Blanche aos jurados. Ele afirma que Trump agiu para proteger sua família e sua reputação e acusou Daniels de tentar lucrar com uma acusação falsa de que tiveram relações sexuais.

O caso é visto por muitos especialistas jurídicos como o de menor peso dos processos de Trump, com base em fatos que são públicos desde 2018. No entanto, pode ser o único dos quatro processos criminais do republicano a ir a julgamento antes de sua revanche eleitoral contra o atual presidente, o democrata Joe Biden, no dia 5 de novembro.

Um veredito de culpado não o impediria de assumir o cargo, mas poderia prejudicar sua candidatura. Pesquisas da Reuters/Ipsos mostram que metade dos eleitores independentes e um em cada quatro republicanos dizem que não votariam em Trump se ele for condenado por um crime.

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