Bolsa e dólar fecham em queda, com temores sobre juros nos EUA limitando efeito da Petrobras

Após passar boa parte do pregão no sinal positivo, o índice de referência da Bolsa foi afetado pela alta dos Treasuries nos EUA

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Bolsa e dólar fecham em queda, com temores sobre juros nos EUA limitando efeito da Petrobras
Notas de dolar, moeda americana. (Foto: Agência Brasil)

TAMARA NASSIF E HELENA SCHUSTER

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira fechou em queda de 0,58% nesta terça-feira (28), aos 123.779 pontos, perdendo a marca dos 124 mil pontos.

O mercado, que antes repercutia os dados de inflação do IPCA-15 abaixo do esperado e a entrevista coletiva da nova presidente da Petrobras, passou a reagir à pressão do rendimento dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, em mais um pregão marcado por temores sobre a taxa de juros norte-americana.

Ainda que os papéis da Petrobras tenham aliviado parte das perdas, a forte queda da Vale reforçou a pressão sobre o índice.

O dólar também encerrou a sessão em baixa, a 0,32%, cotado a R$ 5,154 na venda, acompanhando o desempenho no exterior em relação a outras moedas de países exportadores de commodities.

Após passar boa parte do pregão no sinal positivo, o índice de referência da Bolsa foi afetado pela alta dos Treasuries nos EUA, diante de perspectivas de juros altos por mais tempo do que o esperado.

Em falas nesta terça, o presidente do Federal Reserve de Minneapolis, Neel Kashkari, reforçou o tom cauteloso da autoridade monetária dos EUA ao afirmar que é preciso esperar por um progresso significativo na inflação antes de cortar os juros.

Ao mesmo tempo, dados sobre a confiança do consumidor mostraram que a percepção dos norte-americanos sobre a economia melhorou de forma inesperada, após três meses consecutivos de deterioração. A causa maior foi o otimismo em relação ao mercado de trabalho.

O Conference Board disse que seu índice de confiança do consumidor aumentou para 102,0 este mês, de 97,5 em abril em dado revisado para cima. Economistas consultados pela Reuters previam que o índice cairia para 95,9 em relação aos 97,0 de abril relatados anteriormente.

A perspectiva de juros altos por mais tempo nos EUA, a maior economia do mundo, tem instalado temores e cautela nos mercados globais nos últimos dias. Isso porque, quanto mais atraente é a renda fixa norte-americana, mais os investidores se tornam avessos a risco na renda variável de mercados emergentes, como o brasileiro.

O peso no Ibovespa, porém, foi atenuado pelo desempenho dos papéis da Petrobras: os preferenciais dispararam 2,13% e os ordinários, 1,76%.

O mercado reagiu à primeira entrevista coletiva de Magda Chambriard como a nova presidente da estatal, em meio, também, à alta do barril de petróleo no exterior.

A executiva defendeu um reforço na estratégia de buscar novas reservas de petróleo, sobretudo na margem equatorial, disse que a estatal não entrará em negócios que não dão lucro e que recebeu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a missão de gerir a empresa com “respeito à sociedade brasileira”.

Ela ainda afirmou que a política de preços de combustíveis da estatal seguirá “abrasileirada” em sua gestão, em linha com os procedimentos implantados na administração anterior.

Chambriard foi indicada por Lula para substituir Jean Paul Prates, demitido na semana retrasada após longo processo de fritura, que ganhou força após sua abstenção em votação sobre dividendos extraordinários sobre o lucro de 2023.

Após recuar em relação à proposta de reter 50% dos dividendos extraordinários sobre o lucro de 2023, o governo determinou à empresa que decida até o fim do ano se distribui os 50% restantes. “Precisamos ver como isso se encaixa, o que vem pela frente, o que queremos acelerar”, afirmou Magda.

“De certa forma, o mercado gostou de ter visto a posição da Magda falando de como vai tocar a empresa. Deixou claro que vai, sim, seguir algumas vontades do governo, mas vai ponderar justamente as vontades e necessidades dos acionistas”, avalia Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos.

Mais cedo nesta terça, o mercado reagiu ao IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), que registrou aceleração da inflação em maio a 0,44%, após dois meses de alívio, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado ficou abaixo do esperado: a mediana das estimativas de analistas consultados pela Bloomberg apontava para uma inflação de 0,47% em maio.

No acumulado dos últimos 12 meses, o IBGE registrou um índice de 3,70%, enquanto o mercado esperava que a inflação ficasse em 3,74% no período. Em março, a taxa era de 3,77% nesse recorte de tempo.

A variação de preços medida pelo IPCA-15 é considerada uma espécie de “prévia” do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial da inflação do país. Isso porque o período de coleta é diferente: o IPCA-15 é aferido entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação.

Ou seja, ele sinaliza a tendência de aceleração ou desaceleração antes da contagem oficial.

Por esse motivo, o IPCA-15 funciona como um termômetro -e, em meio a ruídos de uma inflação mais alta, ajuda a ancorar expectativas de política monetária, já que a taxa Selic é o principal instrumento do BC (Banco Central) para controlar os preços do país.

Os dados vêm na esteira de falas do presidente do BC, Roberto Campos Neto, que reconheceu que as expectativas de inflação se elevaram e que a credibilidade da autarquia contribuiu com a piora, conforme destacou a XP em relatório a clientes.

A XP mencionou ainda o fato de Campos Neto ter ressaltado o caráter técnico das decisões de juros do Copom (Comitê de Política Monetária) e que as expectativas de inflação voltarão a cair, acrescentando que a fala foi considerada menos restritiva pelo mercado.

Em resposta ao IPCA-15, as taxas de juros futuros de curto prazo sustentaram leves baixas até o fechamento do pregão da Bolsa nesta terça, ao passo que as curvas de longo prazo subiram, na esteira do rendimento dos Treasuries.

No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,37%, ante 10,371% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,685%, ante 10,715% do ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 estava em 11,01%, ante 11,028%.

Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,31%, ante 11,295%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,72%, ante 11,668%.

“Os juros futuros reagiram positivamente ao IPCA-15 abaixo das expectativas, com núcleos bem comportados, mas ainda há dúvidas se permitirá ao BC prosseguir com os cortes da Selic diante da desancoragem das expectativas de inflação”, afirma Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Na cena corporativa, as ações da MRV fecharam com ganhos de 2,20%, assim como outros papéis mais sensíveis a juros em resposta ao IPCA-15, como os do Grupo Pão de Açúcar (0,97%).

Em dia de baixa no minério de ferro na China, Vale adicionou mais peso sobre o Ibovespa, com recuo de 2,16%. CSN Mineração caiu pelo mesmo motivo, a 3,93%.

Magazine Luiza (6,54%), Azul (4,84%) e CVC (3,32%) completam as maiores quedas.

Na segunda-feira, o dólar fechou perto da estabilidade, com leve alta de 0,07%, cotado a R$ 5,171 na venda. A Bolsa brasileira também teve pouca alteração e avançou 0,15%, a 124.495 pontos.

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