O presidente da Bolívia, Luis Arce, disse nesta quarta-feira (3) em entrevista à agência de notícias AFP que o presidente da Argentina, Javier Milei, é conflituoso e que isso “não ajuda a boa vizinhança” na América do Sul.
Arce fez as críticas a Milei dias depois que o governo argentino chamou a tentativa de golpe fracassada na Bolívia do último dia 26 de farsa, e disse em nota que repudiava “a falsa denúncia de golpe de Estado”. Em resposta, La Paz convocou o embaixador argentino para dar explicações.
No fim de junho, o general boliviano Juan José Zúñiga cercou o palácio presidencial onde estava Arce com blindados e tropas fortemente armadas para exigir uma troca ministerial no governo. Arce demitiu os chefes das Forças Armadas, nomeou substitutos e ordenou que os soldados deixassem o local –após horas de tensão, a ordem foi obedecida, e Zúñiga foi preso.
Ao ser detido, o militar afirmou, sem apresentar provas, que agiu a mando de Arce e que o presidente teria ordenado um autogolpe para supostamente aumentar sua popularidade. O governo nega e diz que Zúñiga mente, mas a acusação levou Evo Morales, ex-presidente e rival de Arce, a dizer que estava mais convencido de que a quartelada foi um autogolpe -sentimento ecoado por Milei.
“Não é de se estranhar que Milei faça essas declarações”, disse Arce à AFP. “Tem conflitos com a Espanha, tem conflitos com o Brasil, tem conflitos com o Paraguai, teve problemas com o Chile também”, enumerou. “Na verdade, acho que essas declarações não contribuem para a boa convivência.”
O presidente boliviano fazia referência à troca de insultos entre Milei e Pedro Sánchez, primeiro-ministro da Espanha, às repetidas ofensas do argentino contra Lula, que chama de corrupto e comunista.
“Sabemos da fraude que aconteceu na Bolívia e o perfeito idiota, ao invés de aceitar seu erro, me critica por expor sua estupidez”, disse Milei no X, sem mencionar Arce.
O presidente boliviano também aproveitou para criticar Evo na entrevista. Antigos aliados, Arce foi ministro da Economia do ex-presidente e teve sua candidatura em 2020 apoiada por ele, mas os dois se afastaram nos últimos anos,
“O que mais nos estranha é a coincidência entre Milei e Evo Morales”, disse o presidente boliviano, acrescentando que o líder argentino usou Evo “como fonte” para desqualificar o golpe de Estado. “Acredito que está na hora de Evo decidir de que lado da história quer ficar, porque claramente a posição que defende Milei não é uma posição de esquerda.”