Morre Tuire Kayapó, uma das maiores líderes indígenas da história recente
Um registro do momento em que bradava seu facão contra o rosto do então presidente da Eletronorte eternizou a resistência dos povos indígenas
Tuire Kayapó Mebengokre morreu de agravamento do câncer de colo de útero, aos 56 anos, neste sábado (10), em Redenção. Tuire ficou mundialmente conhecida quando esteve à frente da luta contra a construção de hidrelétricas no Xingu, em especial do projeto da Usina Hidrelétrica Kararaô, que mais tarde se tornou a Usina de Belo Monte.
Um registro do momento em que bradava seu facão contra o rosto do então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes eternizou a resistência dos povos indígenas em defesa de suas terras. O episódio marca um período importante para a sociedade brasileira, que passava a tomar conhecimento ali das lideranças femininas dos povos originários e da importância de seus posicionamentos, que sempre estiveram ligados ao cuidado com os territórios e as famílias.
Só depois da imagem rodar o mundo e de Tuire ser reconhecida no exterior como uma agente importante na mobilização ambiental, que a sociedade brasileira passou a compreender a inestimável contribuição das mulheres indígenas para o Brasil.
A partir de Tuire, não indígenas passaram a acompanhar muitas outras mulheres indígenas que sempre se destacaram em suas comunidades, mas que ainda enfrentavam e (ainda enfrentam) o total desconhecimento da sociedade não indígena. Uma sociedade que – sabemos – foi muitas vezes incapaz de reconhecer os grandes nomes que foram profundamente relevantes para a manutenção das florestas e do bem viver coletivo.
Tuire muito provavelmente não estará nos livros de história, mas marca um dos importantes momentos deste Brasil que acontece nas florestas e longe dos grandes centros. O Brasil que nem sempre sai no jornal para além de fotografias de ilustração.
O vídeo é de Simone Giovine, da Associação Floresta Protegida