GIULIANA MIRANDA
As campanhas de Donald Trump e Kamala Harris têm propostas contrastantes para clima e meio ambiente. Enquanto a candidata democrata defende projetos de descarbonização e investimentos robustos em energias renováveis, o republicano, que já chamou a crise climática de farsa, insiste no avanço dos combustíveis fósseis e na rejeição de acordos internacionais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Maior economia do planeta e líder nas emissões per capita –atrás apenas da China em valores absolutos–, os Estados Unidos podem influenciar os rumos das políticas climáticas globais.
Enquanto presidente, Trump revogou mais de uma centena de regras ambientais, incluindo normativas sobre poluição do ar e das águas e de emissões de CO2. Em junho de 2017, o republicano retirou os EUA do Acordo de Paris, compromisso firmado pela comunidade internacional em 2015 para limitar o aquecimento global. O país foi reintegrado ao instrumento em 2021, após a posse de Joe Biden.
Em seu plano político nesta campanha, batizado de Agenda 47, Trump promete voltar a retirar os EUA do acordo, além de defender a liberação rápida de todos os projetos de geração de energia, incluindo os combustíveis fósseis, como forma de baixar rapidamente os preços aos consumidor.
Na convenção republicana, em julho, quando aceitou oficialmente a nomeação do partido, Trump deixou claro que pretende ampliar a extração de petróleo e gás. “Nós vamos perfurar, baby, perfurar”, disse.
O republicano também quer cancelar os incentivos da administração Biden para a adoção de veículos elétricos, “reduzindo regulamentações dispendiosas e onerosas”.
Embora tenha suavizado o discurso na atual campanha, o ex-presidente coleciona falsas afirmações sobre as mudanças climáticas. Em agosto, em conversa com o bilionário Elon Musk na rede social X, Trump relativizou a ameaça do aquecimento global e do aumento do nível dos oceanos, afirmando que esse cenário irá criar “mais propriedades à beira-mar”.
Kamala, por outro lado, já definiu as mudanças climáticas como uma “ameaça existencial”. No discurso em que aceitou a nomeação democrata, a candidata incluiu, em meio à defesa das liberdades fundamentais dos americanos, “a liberdade de respirar ar puro, beber água limpa e viver livre da poluição que alimenta a crise climática”.
Quando foi procuradora-geral da Califórnia, entre 2011 e 2017, Kamala atuou em várias causas ligadas ao meio ambiente. Antes, como promotora distrital de San Francisco, criou uma unidade de justiça ambiental.
Depois de ser eleita para o senado, em 2017, endossou projetos de lei relacionados ao tema. Já como vice-presidente, deu o voto decisivo para a aprovação da lei de redução da inflação, que destina mais de US$ 350 bilhões para investimentos em energia renovável e redução de gases de efeito estufa.
A candidata já se opôs ao fracking, a técnica de extração de petróleo e gás natural que permitiu aos EUA ampliar significativamente sua produção. O método é criticado por ambientalistas pelo risco de contaminação de águas subterrâneas, entre outros problemas.
Em uma manobra interpretada como forma de atrair eleitores na Pensilvânia, grande produtor de gás natural, Kamala mudou o discurso. “O que eu vi é que podemos crescer e ampliar uma economia de energia limpa próspera sem banir o fracking”, disse em uma entrevista à CNN em agosto.
Ainda assim, desde a confirmação de sua entrada na corrida presidencial, a democrata vem sendo endossada por várias organizações ambientais, como o Sierra Club e o Sunrise Movement, por cientistas, inclusive com uma carta assinada por 82 laureados com o prêmio Nobel. No quesito propostas para o clima e o ambiente, não há empate técnico entre os candidatos.