Espanha conta 205 mortos, mais do que o RS, e ainda busca desaparecidos

São 202 vítimas apenas na comunidade de Valência. Um necrotério temporário foi montado em um centro de convenções da cidade

Folhapress Folhapress -
Espanha conta 205 mortos, mais do que o RS, e ainda busca desaparecidos
Tempestades atingiram fortemente a Espanha (Foto: Captura de tela)

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE – Autoridades da Espanha anunciaram nesta sexta-feira (1°) que chegou a 205 o número de mortos após inundações provocadas pela maior tempestade do século no país. São 202 vítimas apenas na comunidade de Valência. Um necrotério temporário foi montado em um centro de convenções da cidade.

A tragédia já é um dos maiores desastres naturais da Espanha e a enchente mais fatal da Europa desde 1970, quando 209 pessoas morreram na Romênia. Supera também o número de mortos registrados no sul do Brasil, entre abril e maio deste ano. As inundações em Porto Alegre e outras cidades do Rio Grande do Sul mataram 183, segundo dados da Defesa Civil.

Apenas em Chiva, localidade na região valenciana, choveu em oito horas mais do que esperado para o ano, 491 mm. Para efeito de comparação, a marca supera o registrado em cidades como Caxias (473 mm) e Santa Maria (470,7 mm) em três dias, no ápice da chuva que devastou Porto Alegre, de acordo com análise da MetSul Meteorologia.

Em todo o mês de maio, a capital gaúcha recebeu 539,9 mm, um recorde histórico, dado que ajuda a dimensionar a violência do evento na Espanha. A Dana (depressão isolada em níveis altos, na sigla em espanhol), uma tempestade forte, com granizo, trovoadas e ventanias, é um evento característicos do outono na região, mas desta vez a intensidade surpreendeu.

O serviço meteorológico espanhol chegou a fazer alertas sobre o temporal, mas o aviso das autoridades chegou tarde à população, por volta das 20h de terça-feira (29). “Estava com água e lama pelo pescoço, e o celular apitou. Parecia piada”, declarou um desabrigado a uma emissora local.

O governo espanhol mobilizou mais 500 militares nas tarefas de resgate na região de Valência, a comunidade mais afetada. Somam-se aos 1.200 integrantes das Forças Armadas já enviados na quarta-feira (30), quando o país acordou abalado pela tragédia que só crescia desde a noite anterior. A ministra da Defesa, Margarita Robles, afirmou que mandará o efetivo que for necessário.

Há relatos de saques e prisões. Ao jornal El País, um saqueador afirmou que era um ato de sobrevivência. Cortes de energia afetam diversas localidades, e bombeiros procuram gasolina em tanques de carros abandonados para abastecer geradores.

Milhares de pessoas aproveitaram o feriado de Todos os Santos para levar mantimentos aos afetados. Enormes filas de pessoas a pé carregando alimentos, vassouras e todo tipo de equipamento eram vistas por estradas e avenidas.

Carlos Mazón, presidente da comunidade de Valência, que agrega a terceira maior cidade da Espanha e diversos outros municípios, fez um apelo para que os voluntários voltassem ou mantivessem as vias abertas para os veículos de socorro.

Horas mais tarde, voltou atrás e convocou os interessados a se reunir em um ponto específico na manhã de sábado (2) para que o esforço fosse organizado.

Ainda chove em partes do leste e do sul da Espanha, e algumas regiões do país seguem sob alerta de chuva forte, notadamente as Ilhas Baleares (Maiorca, Minorca, Ibiza e Formenteira), conhecido ponto turístico.

Em missa nesta sexta-feira (1°), em Roma, o papa Francisco fez referência à “catástrofe ambiental”. “Rezamos pelas pessoas da península Ibérica, varridas por uma tempestade.”

A crise climática, provocada pelo aquecimento global e a queima de combustíveis fósseis, é apontada como agente causador da maior violência, frequência e impacto desses eventos. Estudos de atribuição já estão em curso para confirmar as análises preliminares despecialistas.

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