Mesmo com terceirização, que deveria reduzir a máquina pública, Roberto Naves ampliou em 61% os cargos comissionados expostos à barganha política
Dados foram levantados pela equipe de transição do prefeito eleito Márcio Corrêa, que calculou que a Prefeitura gasta R$ 5 milhões mensais somente com essa estrutura
Terceirizar a gestão de unidades de saúde do município para Organizações Sociais (OSs) é uma das heranças que o prefeito Roberto Naves (Republicanos) deixará para os anapolinos.
No entanto, ao contrário do que o modelo promete, a prática adotada pela atual gestão em Anápolis, que deveria enxugar a máquina pública, tem se mostrado pouco transparente – na maioria dos casos, não houve processo licitatório – e pouco eficiente.
Um exemplo disso é o aumento no número de assessores gerais, cargos frequentemente associados ao “balcão de negócios”, onde o apoio de vereadores é trocado por nomeações no Executivo.
A equipe de transição do prefeito eleito Márcio Corrêa (PL) elaborou um comparativo entre 2018 e 2024, utilizando dados da folha de pagamento consultados no Portal da Transparência do Município, com base no mês de outubro de cada ano.
Conforme relatório obtido pelo Portal 6, o número de assessores gerais (atualmente divididos entre os níveis 1 e 2, após a extinção do nível 3, que tinha o menor salário) saltou de 653 para 1.056 em seis anos, um aumento de 61,7%.
Crescimento, que embora tenha sido significativo, não ocorreu de forma linear.
“Um ponto que sugere o uso desses cargos para barganha política é o fato de que apenas em 2022 e 2024 a folha superou a marca de mil contratações”, observou um membro da equipe de transição ouvido pela reportagem.
Esses dois anos coincidem com disputas eleitorais – para deputado estadual em 2022 e para prefeito em 2024 –, quando Roberto colocou a máquina para trabalhar pelas candidaturas da esposa Vivian Naves (PP) e da secretária Eerizania Freitas (UB).
Os cargos de assessor geral não exigem perfil técnico, o que os torna mais suscetíveis a nomeações e exonerações em massa, muitas vezes associadas a acordos e rupturas entre o Executivo e o Legislativo.
Ainda com base nos dados do Portal da Transparência, em outubro, cada um dos 726 assessores gerais nível 2 recebeu salário bruto de R$ 2.272,24, enquanto os 330 assessores gerais nível 1 receberam R$ 3.508,40.
A soma dos salários desses cargos chega a quase R$ 5 milhões mensais, sem incluir outros comissionados e servidores efetivos da folha. Além disso, o município gasta R$ 15 milhões por mês com as OSs.