Saiba como infarto e festival de cinema fizeram estilista de Hollywood se mudar para Anápolis
Responsável por figurinos clássicos como as sapatilhas de rubi em 'O Mágico de Oz' viveu cinco anos em uma fazenda nos arredores da cidade, junto a uma estrela de cinema
Quem passa hoje pelo distrito de Interlândia, nos arredores de Anápolis, pode não imaginar que o local já foi cenário da vida não só de diversas estrelas Hollywoodianas, mas também do figurinista responsável pelos trajes marcantes do filme “O Mágico de Oz”, de 1939.
O grande nome por trás dos figurinos da produção clássica que se marcou como revolucionária, entre diversos motivos, pelas transições entre o preto e branco e as imagens coloridas, é o de Gilbert Adrian.
Vida pessoal
Nascido em 1903, o estadunidense começou a fazer sucesso no mundo da moda já na década de 1920, consagrando-se profissionalmente conforme vestia grandes nomes da Era de Ouro de Hollywood com criatividade e inovação. Foi Adrian quem criou as ombreiras icônicas de Joan Crawford, vestiu Greta Garbo e Jeanette MacDonald, trabalhando em mais de 130 filmes ao longo de toda uma vida.
Dentro do mundo cinematográfico, além do sucesso profissional, o figurinista fez sucesso no amor: conheceu a atriz Janet Gaynor, protagonista da versão original de “Nasce Uma Estrela”, de 1937. Casaram-se dois anos depois, em 1939, mesmo ano em que estreou um dos maiores sucessos de Adrian, com figurinos totalmente desenhados por ele: “O Mágico de Oz”, onde Judy Garland usou as famosas sapatilhas de rubi com lantejoulas vermelhas.
Foi com Janet Gaynor, primeira mulher a ganhar um Oscar – por três filmes diferentes – que o estilista se mudou algum tempo depois para a vida tranquila no interior de Goiás. A história com Anápolis, mesmo, começa em 1954.
Nasce o interesse pelo Cerrado
Ao Portal 6, o historiador Jairo Alves Leite, presidente fundador do Instituto de Patrimônio Histórico e Cultural Professor Jan Magalinski, explicou sobre a chegada da norte-americana.
“Para a gente entender essa vinda para Anápolis, vamos destacar a presença aqui de uma atriz norte-americana chamada Joan Lowell, que contracenou na década de 20 no cinema mudo”, disse, em entrevista à reportagem.
A presença de Lowell é importante porque ela é a primeira estrela de cinema norte-americana, na época, a se mudar para o Centro-Oeste, casada com o capitão de um navio que conheceu enquanto passava pela cidade de Santos, em São Paulo.
“Eles vêm para o Centro-Oeste, naquela região do Vale do São Patrício, ela fica doente ali na cidade de Jaraguá, vem para Anápolis e acaba fixando residência aqui. E começa a vender terras”, conta o historiador.
Em 1954, Gilbert Adrian e Janet Gaynor vêm ao Brasil para um festival de cinema internacional que celebraria os 400 anos da cidade de São Paulo, e, na festa, contam a uma atriz brasileira os planos de se aposentar – ideia que surge após Adrian sofrer com problemas cardíacos, dois anos antes. A brasileira conta sobre as terras vendidas por Lowell, e o casal logo se interessa pela tranquilidade oferecida pelo local.
Em terras brasileiras
“Logo em 1955, eles constroem uma casa e se mudam para cá, passam várias temporadas aqui. Não quiseram colocar telefone na casa, porque estavam correndo mesmo da badalação, e o Gilbert Adrian gostava muito da cidade, queria o sossego, gostava do clima, da vegetação, da fazenda que haviam construído“, explica Jairo.
Adrian chegou a visitar Goiânia e o canteiro de obras de Brasília, ainda durante a construção da capital. Passou cinco anos no interior goiano, e, em 1959, quando volta aos Estados Unidos para trabalhar no filme “Camelot”, sofre um ataque cardíaco fulminante e acaba falecendo.
Homenagens em Anápolis
Com tanta história a ser contada e tanta contribuição para os figurinos de grandes clássicos norte-americanos, o profissional virou assunto em diversas exposições anapolinas, como a chamada “Anápolis conquista a América”, que celebrava o bicentenário das relações diplomáticas do Brasil com os Estados Unidos, em maio deste ano.
Diversos locais da cidade puderam contemplar a exposição, organizada pelo historiador Jairo Alves Leite e o Instituto Jan Magalinski, como o Centro de Empreendedorismo, Inovação e Tecnologia (Ceitec), o Sindicato Rural de Anápolis, e o distrito de Interlândia durante a Festa da Banana.
As exposições contam de três casais estadunidenses que se mudaram para fazendas próximas a Anápolis: Gilbert Adrian e Janet Gaynor, Mary Martin (amiga de Janet que é conquistada pela cidade ao passar menos de 20 horas visitando) e Richard Halliday, além de Joan Lowell e Thompson Buchanan.
Elas são fruto de uma pesquisa que Jairo vem desenvolvendo há vários anos, com o objetivo de “gerar conhecimento, trazer a cultura e contribuir com o turismo local”. Ele conta que esse “é um trabalho a ser desenvolvido no campo cultural, histórico e turístico que vai contribuir muito com a cidade de Anápolis”, e afirma que quer deixar esse legado para o município.