Temer diz que divergências internas do governo Lula afetam estabilidade e credibilidade

Emedebista não citou nomes, mas fez referência a diferenças de opiniões entre ministros

Folhapress Folhapress -
Temer diz que divergências internas do governo Lula afetam estabilidade e credibilidade
Ex-presidente Michel Temer durante evento. (Foto: Yuri Murakami /Fotoarena/Folhapress)

JULIA CHAIB – O ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmou neste sábado (12) que o governo Lula (PT) tem muitas divergências e que isso gera instabilidade e pode abalar a credibilidade do país.

O emedebista não citou nomes, mas fez referência a diferenças de opiniões entre ministros. “Quando um ministro piscava feio para o outro [no meu governo], eu chamava os dois e resolvia”, disse.

A declaração foi dada durante participação do magistrado na Brazil Conference, evento organizado por estudantes brasileiros de Harvard e do MIT, em Cambridge, nos EUA.

“O que há é isso, seja em função de partido, há muita divergência. Isso causa instabilidade. Nós que estamos olhando de fora queremos segurança”, avaliou.

Posições diferentes entre ministros na área econômica, têm sido uma marca do governo Lula. As discordâncias mais evidentes são entre o ministro Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil).

O primeiro costuma defender uma agenda de contenção de gastos, em nome do equilíbrio fiscal do governo, sendo criticado dentro do PT por sua postura. Já Costa avalia que a agenda pode brecar investimentos em obras e outras medidas que poderiam ser vitrines ao governo.

Recentemente, como mostrou a Folha de S.Paulo, o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) tem feito críticas a Haddad em conversas privadas, alinhando-se à postura do chefe da Casa Civil.

Neste sábado, Temer também foi questionado sobre qual conselho daria ao presidente da Câmara, Hugo Motta, e disse que seria para que ele se atenha à Constituição. O ex-presidente ainda pregou a necessidade de conversas entre os Poderes para manter a “harmonia institucional”.

“A gente acha que quem ocupa um espaço de poder é senhor absoluto daquele poder. O que está na Constituição não é vontade do constituinte. Eu representei [quando presidente da Câmara] a vontade da única autoridade que existe no país, que é o povo”, disse Temer.

O ex-presidente ainda comentou que era criticado quando conversava com ministros do STF e de outros Poderes, mas encorajou que Motta faça isso em busca de consensos. “Como você harmoniza as relações institucionais se você não dialogar com as pessoas de diversos poderes”, questionou.

Nesse momento, Temer fez um elogio ao STF, diante do ministro Gilmar Mendes, do Supremo, que estava na plateia, falando sobre o esforço para manter a democracia.

“Tenho convicção que ele vai cumprir o texto como contribuir para a democracia plena, que temos hoje no Brasil. STF fez um esforço extraordinário para manter íntegra a democracia brasileira.”

Como mostrou a Folha de S.Paulo, Motta tem tentado articular um acordo entre Supremo e governo por uma saída à pressão da oposição pela aprovação de um projeto que anistie os condenados pelos ataques ao 8 de janeiro.

Temer ainda comentou a relação entre o governo Lula e Donald Trump e opinou que ela deve se dar no campo “institucional”.

“A relação não é de Donald Trump com Luiz Inácio. É entre o presidente dos EUA com o do Brasil. As pessoas têm que ter consciência disso. Adotou-se uma técnica de simpatia por alguns presidentes ou candidatos”, disse.

“A relação não tem que ser entre a simpatia do Luiz Inácio e do Trump com A, B ou C.”

Os aliados de Jair Bolsonaro (PL) buscam se aproveitar da proximidade com o governo Trump para tentar impor sanções a ministros do STF e tentar ajudar no processo contra Bolsonaro. Lula, por ora, tem buscado se manter pragmático para evitar uma escalada de Trump em medidas que podem prejudicar o Brasil, como a imposição de tarifas.

Além de Temer, participam desta edição da Brazil Conference o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), o procurador-geral da República, Paulo Gonet, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. O prefeito de Recife, João Campos, e a deputada Tábata Amaral (PSB).

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