Trump estuda possibilidade de demitir presidente do Fed, diz assessor
Presidente e sua equipe têm pressionado para que o Fed retome os cortes, barateando o custo do crédito nos EUA


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, disse nesta sexta-feira (18) que o presidente Donald Trump e sua equipe estudam a possibilidade de demissão do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell.
“O presidente e sua equipe continuarão a estudar o assunto”, disse Hassett a repórteres ao ser questionado se a demissão é uma opção. “A política deste Federal Reserve foi aumentar os juros no minuto em que o presidente Trump foi eleito da última vez, para dizer que os cortes de impostos do lado da oferta seriam inflacionários”, criticou.
A taxa de juros de referência do banco central americano está na faixa entre 4,25% e 4,50% desde dezembro, após vários cortes no final do ano passado. Trump e sua equipe têm pressionado para que o Fed retome os cortes, barateando o custo do crédito nos EUA. O BC, no entanto, está atento à inflação, monitorando potenciais impactos sobre os preços das tarifas sobre importações impostas pelo atual governo -economistas dão como certo o repasse da alta de custos para o consumidor final.
Nesta semana, a Casa Branca aumentou a pressão sobre Powell, ameaçando publicamente demiti-lo. O presidente americano acusou o chefe do Fed de “fazer política” por não reduzir a taxa de juros e afirmou que tem o poder de tirá-lo do cargo “muito rapidamente”.
Em um post em sua rede social, a Truth, Trump disse que a saída de Powell “não poderia estar demorando mais”. Ele disse ainda que o presidente do Fed “deveria ter reduzido a taxa de juros, como o BCE [o Banco Central Europeu], há muito tempo”. Em sua visão, Powell está “sempre atrasado e errado”.
Os comentários ocorreram após o presidente do BC americano ter dito em um evento no Clube Econômico de Chicago, na quarta, ser obrigação do BC garantir que “um aumento pontual no nível de preços não se transforme em um problema inflacionário contínuo”. Ele também afirmou que a “independência do Fed é amplamente compreendida e apoiada em Washington e no Congresso, onde realmente importa”.
Conforme o entendimento atual estabelecido pela Suprema Corte, o presidente não tem o poder de demitir diretores de agências reguladoras, categoria que abrange o BC. “Por lei, o presidente não pode demitir um diretor do Fed, exceto ‘por justa causa’, um termo legal que significa que ele teria que demonstrar que a pessoa cometeu alguma irregularidade”, explica David Wessel, diretor do Centro Hutchins de Política Fiscal e Monetária, em um artigo para o Instituto Brookings.
Um caso pendente de decisão da Suprema Corte, porém, pode abrir uma brecha para a demissão de Powell, caso os juízes recuem de um precedente estabelecido em 1935, quando determinou-se que o presidente não poderia demitir um diretor de uma agência reguladora.
A diretoria do Fed é composta por sete integrantes que servem mandatos de 14 anos, todos indicados pelo presidente dos EUA. A chefia do banco é indicada pela Casa Branca e confirmada por uma votação no Senado a cada quatro anos. Powell foi nomeado para um segundo mandato pelo ex-presidente Joe Biden em 2022 -seu mandato atual termina em maio do ano que vem. Em seu primeiro mandato, ele foi indicado por Trump.
Além da questão legal, integrantes da equipe do republicano temem o impacto que uma eventual demissão de Trump pode causar no mercado financeiro -já em turbulência em razão das incerteza em torno das tarifas impostas por Trump a parceiros comerciais americanos.
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, tem afirmado privadamente à Casa Branca que qualquer tentativa de demitir Powell poderia desestabilizar o mercado financeiro, segundo a imprensa americana. Trump estaria ciente desse risco, e aliados do republicano veem sua pressão sobre o chefe do Fed mais como uma estratégia para culpá-lo por problemas econômicos no futuro do que uma tentativa real de demiti-lo.
Esta tampouco é a primeira vez que Trump entra em choque com Powell. Em seu primeiro mandato, o republicano se frustrou com sua escolha para o Fed após sucessivas altas de juros em 2018.