Professora da UFG explica como redes sociais e falta de leitura podem afetar o cérebro

Levantamento realizado no país apresentou dados preocupantes para especialistas

Thiago Alonso Thiago Alonso -
leitura
Estante de livros. (Foto: Pixabay/ Pexels)

A leitura está em declínio no Brasil. Pela primeira vez desde que a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil começou a ser realizada, o número de brasileiros que não leu nenhum livro nos três meses anteriores à entrevista superou o dos que leram.

Segundo o levantamento mais recente, divulgado em novembro do ano passado, 53% dos entrevistados não leram nem parte de um livro – seja físico ou digital. No Centro-Oeste, o índice é um pouco menor, mas ainda preocupante: 47%.

Mas, afinal, estamos, de fato, perdendo habilidades cognitivas essenciais por causa do uso excessivo das redes sociais e da queda no hábito de leitura?

Para a professora Neuda Lago, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás (UFG), sim. Segundo ela, a sociedade está cada vez mais hiperconectada, privilegiando tarefas simultâneas e consumos rápidos, o que reduz significativamente o tempo e a disposição para leituras mais aprofundadas.

De acordo com a pesquisa, que ouviu 5,5 mil pessoas em 208 cidades brasileiras, apenas 27% dos brasileiros disseram ter lido um livro inteiro nesse período. Entre os motivos, a falta de tempo foi apontada por 46% dos entrevistado.

Preocupação

Diante desses dados, cresce a preocupação sobre os efeitos da redução do hábito de leitura, uma vez que a prática aprimora a construção do raciocínio, habilidades fundamentais para a compreensão do mundo e para o exercício da cidadania. Esse fator é ainda mais determinante quando se olha para os jovens.

“Em uma sociedade onde o hábito de leitura diminui, há o risco de formar gerações mais suscetíveis à manipulação da informação, ao pensamento raso e à aceitação passiva de ideias sem a devida reflexão crítica”, refletiu Neuda.

Mais do que uma atividade de lazer, a leitura é um exercício que fortalece habilidades cognitivas e emocionais. Neuda explica que o consumo constante de conteúdos rápidos e fragmentados – como postagens curtas e vídeos nas redes sociais – pode afetar negativamente o cérebro, diminuindo a capacidade de concentração e o desenvolvimento de um pensamento crítico mais profundo.

“Quando uma pessoa lê, ela é desafiada a analisar, interpretar, questionar ideias e conceitos, e a pensar em argumentos. A leitura é um dos meios centrais para desenvolver nossa capacidade crítica”, pontuou.

A professora também destaca que a leitura de textos densos – como filosofia, história, política e jornalismo – pode ampliar o vocabulário e a capacidade argumentativa.

Sem esse contato constante, há o risco de formar gerações mais suscetíveis à manipulação de informações e menos preparadas para o debate público.

“Temos que considerar que a leitura é um dos meios centrais pelos quais desenvolvemos nossa capacidade crítica”, afirmou.

Fatores importantes também estão ligados a falta do hábito de leitura, como o custo elevado de livros físicos e a falta de bibliotecas públicas bem equipadas.

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