Inferno vivido por sargento na Ala 2 de Anápolis terminou da pior maneira possível
Militar mostrou provas de que estava sendo humilhada e preterida durante o trabalho, mas FAB não reconheceu assédio moral


Uma sargento da Força Aérea Brasileira (FAB) está acionando a Justiça para reparar os absurdos que viveu na Ala 2, em Anápolis, até ser dispensada do serviço militar temporário mesmo estando grávida.
Ela, que pediu para não ser identificada, compartilhou com a coluna Rápidas áudios que registraram momentos de humilhação no ambiente de trabalho.
A sargento ingressou na FAB em junho de 2022 e foi transferida para a Ala 2 em agosto de 2024. Segundo ela, o ambiente tóxico começou logo após a chegada, quando a chefe imediata determinou que ela teria apenas 10 minutos para almoçar, cronometrando o tempo.
O advogado da militar, Luciano Borges, destacou à coluna que “menos de duas semanas depois que ela fez a denúncia de abuso de autoridade saiu a decisão para licenciamento dela”. Segundo ele, mesmo com os superiores tendo ciência da situação, “colocaram empecilhos no pedido administrativo para reversão”, o que levou à busca pela Justiça.
Áudios revelam humilhações constantes
Os áudios obtidos pela coluna Rápidas comprovam as humilhações sofridas pela sargento. Em um deles, a superior questiona “por que seu marido quis se casar com uma baleia como você” e, em outra ocasião, refere-se à militar como “jumenta” e “jumenta grávida”.
“E comendo igual uma jumenta?”, diz a superior em um dos registros, seguido de “tá parecendo uma jumenta grávida”. Em outro áudio, a sargento é impedida de participar de uma confraternização com a frase: “Você não vai comer bolo, precisa emagrecer”.
“Ela me proibia de ir na copa tomar o café da tarde, quando tinha alguma confraternização não me deixava participar, dizia que eu precisava emagrecer”, relatou à coluna. A militar também foi impedida de participar das atividades do Outubro Rosa, mesmo tendo sido responsável pela confecção dos cartões distribuídos no evento.
Ameaça de expulsão por buscar tratamento médico
Em um dos áudios mais graves, uma Major ameaça a sargento: “Se você levar mais um atestado, você vai ser desligada”. A militar relata que, por medo, interrompeu o tratamento médico para transtorno de ansiedade.
“Quando procurei um médico que atende psiquiatria dentro da Base, ele me disse que se pudesse fazer um ofício com todas as pessoas que chegaram até ele com problemas psiquiátricos por conta dela ele fazia, mas não iria adiantar”, contou a sargento.
Em outro áudio, quando a militar tentou argumentar sobre o direito ao recesso, recebeu como resposta: “Você tem direito de ficar calada”, em tom claramente intimidador.
PAD não puniu superiores apesar das provas
Após apresentar uma denúncia formal ao Comandante em fevereiro de 2024, a sargento comunicou a gravidez em 21 de março e, três dias depois, teve o desligamento publicado. “O que minha chefe e a Major ameaçaram fazer se cumpriu”, afirmou.
Apesar das evidências apresentadas, incluindo os áudios que a coluna teve acesso, o Processo Administrativo Disciplinar (PAD) instaurado não resultou em punição para os superiores envolvidos nas humilhações.
“Na decisão da denúncia não foi configurado assédio moral, porque foram poucas vezes os vexatórios e em tons de brincadeiras”, lamentou a militar.
Consequências para saúde e carreira
As humilhações constantes desencadearam sérios problemas de saúde na sargento. “Desenvolvi compulsão alimentar severa. Tive vários taquicardia dormindo, pensava que estava tendo um infarto”, relatou.
Além dos danos à saúde mental, a militar, que agora está grávida, desenvolveu problemas que tornaram a gestação de alto risco para pré-eclâmpsia, devido ao estresse causado pela situação.
Profissionalmente, a sargento, que afirma nunca ter recebido qualquer repreensão antes da transferência para a Ala 2, viu a carreira militar interrompida abruptamente, mesmo estando em período gestacional.
FAB minimiza caso como sendo “brincadeiras”
Em nota enviada ao Portal 6, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou que “foi instaurado um processo administrativo com o intuito de apurar os fatos, concluindo que não foram identificadas evidências que confirmassem as alegações de assédio moral”.
A FAB também afirmou que “a militar, do quadro temporário, continua integrando o efetivo da Instituição”, contradizendo a alegação de desligamento, e minimizou os episódios registrados em áudio como meras “brincadeiras no ambiente de trabalho”.
A instituição encerrou a nota reforçando o “compromisso com a ética e a justiça” e mencionando “comunicação transparente e responsável”, sem, no entanto, explicar por que não houve punição aos ofensores mesmo diante dos áudios apresentados.
Manifestação da FAB na íntegra
A Força Aérea Brasileira (FAB), por meio do Comando de Preparo (COMPREP), informa que foi instaurado um processo administrativo com o intuito de apurar os fatos, concluindo que não foram identificadas evidências que confirmassem as alegações de assédio moral.
Destaca-se, ainda, que a militar, do quadro temporário, continua integrando o efetivo da Instituição.
A FAB reforça o seu compromisso com a ética e a justiça, sempre prezando por uma comunicação transparente e responsável.
Nota 10
Nota Zero
Para Prefeitura de Goiânia pelo despejo do Centro de Referência em Diagnóstico e Terapêutica (CRDT) por não pagamento de aluguel, prejudicando pacientes que dependem dos serviços essenciais oferecidos pela unidade.