Índia revisa para baixo número de mortos em queda de avião e contabiliza ‘mais de 240’; só 1 passageiro sobrevive
Acidente desta quinta deve se tornar o pior no país ao menos desde 1996


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um avião da Air India que transportava 242 pessoas caiu em uma área residencial pouco depois de decolar em Ahmedabad, nesta quinta-feira (12) -o pior desastre aéreo do mundo em uma década. O avião estava a caminho do aeroporto Gatwick, em Londres, no Reino Unido. Segundo a companhia aérea, somente um passageiro sobreviveu.
Autoridades policiais disseram inicialmente que mais de 290 pessoas haviam morrido no acidente, com ao menos 41 feridos. Mais tarde, Vidhi Chaudhary, chefe de polícia em Ahmedabad, declarou à Reuters que o número foi revisado para “mais de 240” vítimas porque partes de corpos foram contadas em duplicidade. A Air India também informou que, das pessoas a bordo, 241 tiveram suas mortes confirmadas.
Entre os mortos estão pelo menos cinco estudantes de medicina que estavam no refeitório de um alojamento universitário que foi atingido na queda, de acordo com a reitora da B.J. Medical College, Minakshi Parikh.
Em um primeiro momento, o chefe da polícia local, G.S. Malik, afirmou que parecia não haver sobreviventes no local. “O avião caiu em um bairro residencial, no qual há alguns escritórios. O acidente causou ainda mais vítimas”, afirmou a autoridade à AFP.
Posteriormente, no entanto, Malik afirmou à agência de notícias indiana ANI que o passageiro do assento 11A havia sido encontrado com vida e estava internado. O homem identificado como Vishwash Kumar Ramesh contou mais tarde que estava próximo a uma saída de emergência e conseguiu pular.
“Quando me levantei, havia corpos ao meu redor. Fiquei com medo. Levantei-me e corri. Havia pedaços do avião ao meu redor. Alguém me agarrou, me colocou em uma ambulância e me levou para o hospital”, disse ele ao jornal indiano Hindustan Times. Um vídeo que circula em redes sociais mostra um homem que aparenta ser Ramesh caminhando até uma ambulância após a queda do avião.
O acidente desta quinta deve se tornar o pior no país ao menos desde 1996, quando um Boeing 747 da Saudi Arabian Airlines e um Ilyushin Il-76 da Kazakhstan Airlines colidiram sobre Charkhi Dadri, cidade a pouco mais de 100 quilômetros de Nova Déli. As 349 pessoas a bordo das duas aeronaves morreram -a colisão aérea mais mortal da história e o terceiro pior acidente envolvendo um avião do mundo.
Anteriormente, em junho de 1985, um voo da Air India que saía de Montreal para o país asiático, com escala prevista em Londres, foi interrompido por uma explosão na costa da Irlanda, matando todas as 329 pessoas que estavam na aeronave. O acidente foi causado por uma bomba plantada provavelmente por separatistas canadenses da minoria religiosa indiana sikh.
O ministro da Aviação Civil do país, Ram Mohan Naidu Kinjarapu, declarou que uma investigação formal já foi iniciada pelo departamento de investigação de acidentes aéreos. Ainda afirmou que o governo “está constituindo um comitê de alto nível composto por especialistas de múltiplas áreas” para examinar o caso detalhadamente.
Segundo Dhananjay Dwivedi, secretário de Saúde de Gujarat, estado onde ocorreu o acidente, parentes das possíveis vítimas foram instruídas a fornecer amostras de DNA para identificar os mortos.
Havia no voo 217 adultos, 11 crianças e dois bebês, disse um funcionário da Air India à Reuters. De acordo com a companhia, eram 169 cidadãos indianos, 53 britânicos, sete portugueses e um canadense. Havia ainda dois pilotos e dez tripulantes na aeronave.
Na lista de mortos está o político Vijay Rupani. Ele foi governador de Gujarat de 2016 a 2021, cargo ocupado também pelo atual premiê indiano, Narendra Modi, de 2001 a 2014.
“Neste momento, estamos apurando os detalhes e compartilharemos atualizações adicionais”, disse a Air India na rede social X. Segundo o site de rastreamento de aviação Flightradar24, o avião era um Boeing 787-8 Dreamliner, uma das aeronaves de passageiros mais modernas atualmente.
O acidente ocorreu quando a aeronave estava ganhando altitude. Uma emissora mostrou o avião decolando sobre uma área residencial e, depois, desaparecendo da tela antes de uma enorme nuvem de fogo subir acima das casas. As imagens sugerem perda de potência da aeronave.
De acordo com o controle de tráfego aéreo do aeroporto de Ahmedabad, cidade no oeste da Índia, a aeronave partiu às 13h39 locais (5h09 no Brasil) da pista 23. Emitiu um chamado “Mayday”, sinalizando uma emergência, mas depois não houve mais resposta. O site Flightradar24 também informou que recebeu o último sinal da aeronave segundos após a decolagem.
Trata-se do primeiro acidente com o modelo, que começou a voar comercialmente em 2011, de acordo com o banco de dados da Aviation Safety Network. O avião que caiu nesta quinta voou pela primeira vez em 2013 e foi entregue à Air India em janeiro de 2014, segundo o Flightradar24.
No local, o cenário era de caos. Imagens mostravam destroços em chamas, uma espessa fumaça preta próxima ao aeroporto e pessoas sendo transportadas em macas e levadas em ambulâncias. O prédio do alojamento da universidade que foi atingido ficou com pedaços da cauda e da fuselagem da aeronave saindo da construção.
“Minha cunhada estava indo para Londres. Em uma hora, recebi a notícia de que o avião havia caído”, disse Poonam Patel à ANI no hospital governamental de Ahmedabad. Ramila, mãe de um estudante da faculdade de medicina, disse à agência que seu filho tinha ido ao alojamento para o intervalo do almoço quando o avião caiu. “Meu filho está seguro, e eu falei com ele. Ele pulou do segundo andar, por isso sofreu alguns ferimentos”, afirmou.
O presidente da companhia aérea, Natarajan Chandrasekaran, lamentou o acidente em um comunicado. “Nossos pensamentos e profundas condolências estão com as famílias e entes queridos de todos os afetados por este evento devastador”, afirmou. Segundo o executivo, foram ativados um centro de emergência e uma equipe de apoio para atender às famílias que buscam informações.
A diretora executiva da Boeing, Kelly Ortberg, prestou suas condolências às vítimas e a todos os afetados pelo incidente. Em comunicado, afirmou já ter falado com o presidente da empresa. “Conversei com o presidente da Air India, N. Chandrasekaran, para oferecer nosso total apoio, e uma equipe da Boeing está pronta para apoiar a investigação liderada pelo Escritório de Investigação de Acidentes de Aeronaves da Índia”.
Queixas sobre a qualidade do serviço da Air India têm sido frequentes, e um homem que se identificou como Akash Vatsa publicou vídeos nas redes sociais em que aponta problemas no que seria o mesmo Boeing 787-8 que caiu. Ele postou a fotografia de um bilhete em seu nome no voo anterior, de Nova Déli para Ahmedabad, que chegou ao aeroporto local cerca de duas horas antes da decolagem que levou à morte de 290 pessoas.
Segundo Vatsa, o ar-condicionado e o sistema de entretenimento a bordo não estavam funcionando. “Estamos prestes a pousar. Olhem ao redor. O ar-condicionado simplesmente não funciona. E, como sempre, as telas das TVs também não funcionam. Nem mesmo as luzes. Isso é o que vocês oferecem?”, diz ele no vídeo.
Autoridades de ambos os países com mais passageiros na aeronave, Índia e Reino Unido, se manifestaram após o incidente. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi afirmou que o acidente é “de partir o coração, indescritível”. “Neste momento de tristeza, meus pensamentos estão com todos os afetados. Mantenho contato com ministros e autoridades que estão trabalhando para ajudar os afetados”, escreveu no X.
Já o premiê do Reino Unido, Keir Starmer, disse que as cenas eram devastadoras. “Estou sendo mantido atualizado conforme a situação se desenvolve, e meus pensamentos estão com os passageiros e suas famílias neste momento profundamente angustiante”, afirmou.
O rei Charles 3º afirmou que ele e sua esposa, a rainha Camilla, ficaram em choque. “Gostaria de prestar uma homenagem especial aos esforços heroicos dos serviços de emergência e a todos aqueles que prestaram ajuda e apoio neste momento tão doloroso e traumático”, disse o monarca.
Além do indiano e dos britânicos, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que o país fornecerá todo o apoio necessário para as investigações. O Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA (NTSB) informou que uma equipe de investigadores americanos irá para a Índia auxiliar as autoridades locais. O secretário de Transportes dos EUA, Sean Duffy, declarou que a Administração Federal de Aviação (FAA) trabalhará em estreita colaboração com o NTSB no auxílio aos oficiais indianos.
Após o acidente, o aeroporto de Ahmedabad suspendeu temporariamente todos os voos. Horas depois, retomou parcialmente as operações.
O último acidente aéreo fatal na Índia havia sido em 2020, envolvendo a Air India Express, o braço de baixo custo da companhia aérea. O Boeing-737 da companhia aérea ultrapassou a pista no Aeroporto Internacional de Kozhikode, no sul do país, mergulhou em um vale e colidiu com o solo. Vinte e uma pessoas morreram nesse acidente. Já em maio de 2010, outro Boeing 737 da Air India proveniente de Dubai saiu da pista no aeroporto de Mangaluru, também no sul, matando 158 pessoas a bordo.
A Air India, anteriormente estatal, foi assumida pelo conglomerado indiano Tata Group em 2022 e fundida com a Vistara -uma joint venture entre o grupo e a Singapore Airlines- em 2024.