Na divisa com Goiás, maior favela do Brasil tem mais de 100 mil habitantes
Comunidade já supera Rocinha em domicílios e população, segundo dados oficiais do IBGE


Na periferia Oeste do Distrito Federal, colada à divisa com o estado de Goiás, uma comunidade cresceu tanto que já figura como a maior favela do Brasil.
Sol Nascente/Pôr do Sol ultrapassou a Rocinha, no Rio de Janeiro, em número de residências e habitantes, conforme dados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o levantamento, Sol Nascente/Pôr do Sol possui 32.081 domicílios, contra 30.955 da Rocinha. Em número de moradores, a região administrativa do Distrito Federal já conta com mais de 101 mil habitantes, superando várias cidades brasileiras de médio porte.
O reconhecimento oficial foi feito pelo IBGE em março de 2023 e reafirmado em 2024 por atualizações do próprio Governo do Distrito Federal (GDF).
Crescimento desordenado e urbanização tardia
A ocupação teve início no final dos anos 1990, com a venda clandestina de terrenos em área rural de Ceilândia. Sem presença efetiva do poder público, a comunidade cresceu de forma desordenada, sem saneamento, asfalto ou qualquer estrutura mínima de habitação urbana.
Em 2019, Sol Nascente/Pôr do Sol foi oficialmente desmembrada de Ceilândia e elevada à condição de Região Administrativa — a 32ª do DF. Desde então, recebeu obras de infraestrutura, mas a defasagem acumulada ainda é visível nas ruas de terra, valas abertas e moradias improvisadas.
De acordo com a Secretaria de Obras do DF, já foram investidos mais de R$ 800 milhões em pavimentação, drenagem, iluminação pública e construção de calçadas. Mesmo assim, parte significativa dos trechos continua sem urbanização completa.
Desigualdade estrutural
De acordo com estudo da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), Sol Nascente/Pôr do Sol figura entre as regiões com maior carência de serviços públicos.
Há escassez de escolas, unidades de saúde, áreas de lazer e policiamento. Apenas 4% dos imóveis possuem escritura definitiva, o que impede a maioria dos moradores de acessar crédito ou vender legalmente seus lotes.
A precariedade não impede, no entanto, o fortalecimento da vida comunitária. A região tem um comércio informal pujante e abriga centenas de pequenos negócios, além de projetos sociais, igrejas e centros culturais que ajudam a suprir parte das lacunas deixadas pelo Estado.
Posição estratégica e pressão demográfica
Localizada entre Brasília e o Entorno goiano, a comunidade faz divisa com cidades como Águas Lindas de Goiás, Santo Antônio do Descoberto e Cidade Ocidental.
Muitos moradores trabalham ou estudam em municípios goianos, e a região absorve também fluxos diários de trabalhadores vindos do interior de Goiás.
Esse intercâmbio reforça a pressão sobre os serviços públicos e evidencia a importância da comunidade no contexto metropolitano do Centro-Oeste.
Em entrevista ao portal Metrópoles, o urbanista e professor da UnB Frederico Flósculo definiu a trajetória da comunidade como um exemplo da ausência histórica do poder público na expansão urbana:
“É uma comunidade que cresceu à margem do Estado, impulsionada pela urgência de moradia e pelo alto custo da terra urbanizada”, afirmou o especialista em 2023.
Para ele, o título de “maior favela do Brasil” revela mais do que números: escancara o déficit habitacional crônico e a falta de planejamento urbano que ainda marca as periferias brasileiras.
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