Trump condiciona sanções à Rússia a fim de compra de petróleo pela Otan
Carta é uma resposta firme à pressão que tem sido aplicada ao presidente americano por seus aliados europeus

VICTOR LACOMBE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dias depois da resposta inédita da Polônia à invasão de seu espaço aéreo por drones russos, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgou neste sábado (13) uma carta aberta a líderes da Otan, condicionando a aplicação de novas sanções contra a Rússia ao fim da compra de petróleo de Moscou por países da aliança militar liderada por Washington.
“Estou pronto para pesadas sanções à Rússia quando todas as nações da Otan concordarem e começarem a fazer o mesmo e quando todos os países da Otan PARAREM DE COMPRAR PETRÓLEO DA RÚSSIA”, diz o republicano na carta, parcialmente em maiúsculas, publicada na sua rede Truth Social. “Como vocês sabem, o comprometimento da Otan com a VITÓRIA tem sido bem menor do que 100%, e a compra de petróleo russo é chocante!”
A carta é uma resposta firme à pressão que tem sido aplicada ao presidente americano por seus aliados europeus após o incidente na Polônia na última terça-feira (9), quando Varsóvia abateu drones de Moscou em meio a um mega-ataque da Rússia contra a Ucrânia, invadida por
Vladimir Putin em 2022. O episódio aumentou a tensão no continente e levou o governo polonês a invocar o artigo 4 da Otan, que prevê consultas ativas entre seus membros quando há violações de soberania de um dos integrantes da aliança.
“Isso [a compra de petróleo] enfraquece enormemente nossa posição nas negociações, e nosso poder de barganha, com a Rússia. De qualquer modo, estou pronto para começar quando vocês estiverem. Basta dizer quando?”, prossegue Trump na mensagem. “Acredito que isso, além da imposição de TARIFAS CONTRA A CHINA de 50% a 100% por toda a Otan, que seriam retiradas depois que a GUERRA entre Rússia e Ucrânia terminar, também será de grande ajuda para ACABAR com essa GUERRA mortal, mas RIDÍCULA.”
A ameaça de sanções secundárias a países que compram petróleo russo, principalmente Índia e China, vem sendo feita repetidamente por Trump nas últimas semanas. O Brasil, que também tem relação comercial importante com a Rússia, especialmente na importação de fertilizantes e diesel, pode ser afetado pela medida –a depender do escopo que ela tomar, o que ainda não está claro.
“A China tem um forte controle, até mesmo domínio, sobre a Rússia, e essas tarifas poderosas vão quebrar esse domínio. Essa não é A GUERRA DO TRUMP (nem teria começado se eu fosse presidente!), é a GUERRA de [Joe] Biden e [Volodimir] Zelenski”, escreveu o presidente americano, voltando a culpar o líder ucraniano pelo conflito. Trump não citou Putin na mensagem.
O republicano encerra a carta com uma espécie de ameaça de retirar o apoio de Washington a Kiev e à Europa. “Se a Otan fizer o que eu digo, a GUERRA vai terminar rapidamente, salvando muitas vidas! Caso contrário, vocês estão apenas desperdiçando meu tempo, e o tempo, energia e dinheiro dos Estados Unidos”.
Newsletter Lá Fora Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo *** A reclamação de Trump não é totalmente infundada. De acordo com o Centro de Pesquisa sobre Energia e Ar Limpo (Crea, em inglês), think tank com sede na Finlândia, somente países da União Europeia compraram quase EUR 22 bilhões (cerca de R$ 138 bilhões) em combustível russo em 2024 -os principais importadores de gás natural liquefeito de Moscou são a França e a Bélgica, que revendem o insumo para o resto do bloco.
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A título de comparação, o valor é quase 30% de toda a receita da Petrobras em 2024 –a estatal brasileira de petróleo, uma das maiores do mundo, arrecadou R$ 490 bilhões no ano passado.
Os países europeus também compram petróleo russo indiretamente ao importar o produto refinado da Turquia e da Índia, segundo relatório do Crea de abril. O centro de pesquisa afirma que o valor superou o gasto em auxílio militar à Ucrânia pelo bloco em 2024, que foi de EUR 18,7 bilhões (R$ 117 bi).
Ao todo, o governo de Putin arrecadou EUR 242 bilhões (R$ 1,5 trilhão) com venda de combustíveis fósseis em 2024, o terceiro ano da Guerra da Ucrânia. Os principais compradores são a China, a Índia e a Turquia, país membro da Otan que foi responsável por 6% de todas as exportações de petróleo de Moscou de dezembro de 2022 a junho de 2025.
A carta de Trump deste sábado deve ser recebida com preocupação nas capitais europeias. Após o incidente na Polônia, o presidente americano primeiro sugeriu que a reação dos aliados era exagerada, depois comprou a versão da Rússia de que se tratava de um acidente -dizendo que a incursão dos drones no espaço aéreo polonês “parece ter sido um erro”- e por fim, na sexta-feira (12), voltou a dizer que sua paciência com Putin estava acabando.
Em entrevista à Fox News, porém, Trump disse algo incompreensível ao ser questionado sobre o tema. “Não vou defender ninguém, exceto a Polônia. Eles [drones] foram derrubados e caíram em uma área, mas você não deveria estar perto da Polônia de qualquer maneira.”
Depois, os EUA assinaram com outros 42 países uma declaração “expressando preocupação” com o incidente e dizendo que a guerra na Ucrânia desrespeita convenções internacionais. O documento foi apresentado ao Conselho de Segurança da ONU.