Metrópoles, O Popular e “até o DM Anápolis” repercutiram relatório sigiloso contra deputado, mas estranhamente delegado indiciou jornalistas do Portal 6 dizendo que documento é falso
Escândalo que revelou esquema de corrupção em colégios militares foi tornado público, em 2024, por repórter da Globo em Goiás, Honório Jacometto. Além de acionar a Corregedoria da Polícia Civil, o Portal 6 pedirá para que a Fenaj, Ajor e Abraji também acompanhem a ação

Em uma ação de celeridade atípica e questionável, o delegado titular do Grupo Especial de Investigação Criminal (GEIC) de Anápolis, Luiz Carlos Cruz, indiciou os jornalistas do Portal 6, Samuel Leão e Danilo Boaventura, por calúnia, injúria e difamação.
A investigação, solicitada pelo deputado estadual Coronel Adailton (Solidariedade), foi motivada por uma publicação da coluna Rápidas que expôs um detalhe explosivo do “Relatório de Inteligência 43”, até então ignorado pela imprensa: o documento não apenas revelava um esquema de corrupção nos colégios militares, mas também apontava o próprio deputado como líder do esquema, com supostos vínculos com Natair de Morais Júnior, um dos maiores traficantes do estado.
O mais curioso é que o relatório não é novidade. Tornado público em 2024 pelo repórter da TV Globo em Goiás, Honório Jacometto, o escândalo foi amplamente coberto por grandes veículos.
O portal Metrópoles noticiou: “Deputado articula esquema de corrupção em colégios militares”. O Jornal O Popular e a TV Anhanguera também repercutiram o caso, com o Comandante Geral da PMGO indo no estúdio do JA 1ª Edição para comentar o “relatório sigiloso”.
Até mesmo o DM Anápolis publicou a manchete: “Relatório aponta envolvimento de Coronel Adailton em esquema nos colégios militares de Goiás”.
Apesar da extensa cobertura de veículos grandes, e também do pequeno, o deputado só se moveu para questionar a veracidade do documento um ano depois, e apenas contra o Portal 6.
A base para o indiciamento é frágil e parece ignorar o contexto. Após a publicação da coluna Rápidas, Adailton enviou um ofício à Secretaria de Segurança Pública (SSP) questionando a autenticidade do relatório.
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A resposta do secretário Renato Brum foi inconclusiva, afirmando ser impossível atestar a veracidade ou falsidade com base apenas nos fragmentos publicados. No entanto, para o delegado Luiz Carlos, essa resposta foi suficiente para classificar o documento como “sabidamente falso” e iniciar uma perseguição aos jornalistas, com direito a intimações e ameaças de prisão, num claro abuso de autoridade e tentativa de intimidação da imprensa.
Em um contorcionismo hermenêutico, o delegado concluiu que os jornalistas “desconheciam que o relatório é falso”, ignorando que a veracidade do documento foi sustentada durante os depoimentos e corroborada por meses de cobertura da imprensa goiana.
A ironia final é que o DM Anápolis, que também noticiou o envolvimento do deputado, hoje pertence à família de Adailton, conforme noticiado pelo Jornal Opção. Fica a pergunta: o deputado, mesmo com um ano de atraso, também pedirá ao delegado para investigar o jornal do próprio filho por publicar “fake news”? A conclusão do delegado, ao que parece, ele já conhece.