Desempregada recebe proposta muito boa, mas se arrepende de aceitar o emprego depois de descobrir como seria

Relato de uma babá no Rio expõe a falta de empatia e as condições abusivas enfrentadas por muitas profissionais domésticas

Gabriel Yuri Souto Gabriel Yuri Souto -
Relato entrevista de emprego babá
Relato de uma entrevista de emprego para o cargo de babá (Imagem: Ilustração)

Conseguir um emprego no Brasil nem sempre significa alcançar estabilidade, em alguns casos, pode significar entrar em um novo ciclo de desgaste e humilhação.

Foi o que viveu uma babá do Rio de Janeiro, que decidiu compartilhar sua experiência em um grupo no Facebook voltado a trabalhadoras domésticas.

Moradora da capital, ela contou que trabalha há sete anos na área e sempre teve boas referências.

Quando recebeu uma proposta para cuidar de duas crianças na Barra da Tijuca um dos bairros mais nobres e caros da cidade, acreditou que estava diante de uma excelente oportunidade.

O salário era tentador, e o casal de empregadores, ambos médicos anestesistas, parecia tratar bem as funcionárias.

Mas a realidade foi bem diferente

A rotina era exaustiva: ela chegava cedo, já encontrava a bebê suja e faminta, e passava o dia inteiro cuidando da criança sem qualquer ajuda da mãe, que, segundo o relato, “não demonstrava prazer em cuidar da filha”.

Mesmo assim, a babá se esforçava, dava conta das tarefas e recebia elogios constantes pelo trabalho.

Cinco meses depois, tudo mudou. A trabalhadora descobriu que estava grávida e comunicou a novidade ao casal.

A partir desse momento, segundo ela, os elogios se transformaram em críticas, cobranças e constrangimentos.

Com uma jornada que começava às 5h da manhã e terminava às 20h, precisou chegar atrasada em alguns dias para fazer exames do pré-natal, sempre com aviso e atestado médico.

Foi o suficiente para despertar a fúria da patroa, que a acusou de engravidar de propósito e disse que “não tinha obrigação de se sacrificar para cuidar da própria filha enquanto a funcionária cuidava da gestação”.

Em meio à discussão, a babá passou mal, começou a sangrar e acabou perdendo o bebê dias depois, vítima de um aborto espontâneo.

Após o período de afastamento médico, ela foi demitida. “Essas pessoas não têm humanidade nenhuma, acham que doméstica tem que abrir mão da própria vida para viver a delas”, desabafou.

Seis meses após o episódio, a babá ainda tenta se recuperar emocionalmente.

Universitária, diz que tem dificuldade para conseguir emprego em outras áreas e pensa em voltar a trabalhar em casas de família mesmo com medo de reviver a dor do passado.

“Infelizmente, muitas dessas pessoas não querem mudar. Acham que ter empregada é sinônimo de poder. Mas a gente também é gente, também sofre, também sente”, escreveu.

O relato foi publicado na páginaEu, Empregada Doméstica”, que reúne milhares de histórias semelhantes, denúncias que expõem a realidade silenciosa de um trabalho essencial, mas ainda marcado por abusos e desrespeito.

Dados de pesquisa

Com efeito, de acordo com dados do IBGE, mais de 5,6 milhões de brasileiros trabalham atualmente como empregados domésticos.

Desses, cerca de 70% são mulheres negras, e apenas um terço possui carteira assinada.

Contudo, especialistas apontam que casos como o relatado pela babá do Rio mostram o quanto ainda falta para que a sociedade trate a profissão com o respeito e as garantias previstas em lei.

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Gabriel Yuri Souto

Gabriel Yuri Souto

Redator e gestor de tráfego. Especialista em SEO. Colabora com Portal 6 desde 2023.

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