Desempregada recebe proposta muito boa, mas se arrepende de aceitar o emprego depois de descobrir como seria
Relato de uma babá no Rio expõe a falta de empatia e as condições abusivas enfrentadas por muitas profissionais domésticas

Conseguir um emprego no Brasil nem sempre significa alcançar estabilidade, em alguns casos, pode significar entrar em um novo ciclo de desgaste e humilhação.
Foi o que viveu uma babá do Rio de Janeiro, que decidiu compartilhar sua experiência em um grupo no Facebook voltado a trabalhadoras domésticas.
Moradora da capital, ela contou que trabalha há sete anos na área e sempre teve boas referências.
Quando recebeu uma proposta para cuidar de duas crianças na Barra da Tijuca um dos bairros mais nobres e caros da cidade, acreditou que estava diante de uma excelente oportunidade.
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O salário era tentador, e o casal de empregadores, ambos médicos anestesistas, parecia tratar bem as funcionárias.
Mas a realidade foi bem diferente
A rotina era exaustiva: ela chegava cedo, já encontrava a bebê suja e faminta, e passava o dia inteiro cuidando da criança sem qualquer ajuda da mãe, que, segundo o relato, “não demonstrava prazer em cuidar da filha”.
Mesmo assim, a babá se esforçava, dava conta das tarefas e recebia elogios constantes pelo trabalho.
Cinco meses depois, tudo mudou. A trabalhadora descobriu que estava grávida e comunicou a novidade ao casal.
A partir desse momento, segundo ela, os elogios se transformaram em críticas, cobranças e constrangimentos.
Com uma jornada que começava às 5h da manhã e terminava às 20h, precisou chegar atrasada em alguns dias para fazer exames do pré-natal, sempre com aviso e atestado médico.
Foi o suficiente para despertar a fúria da patroa, que a acusou de engravidar de propósito e disse que “não tinha obrigação de se sacrificar para cuidar da própria filha enquanto a funcionária cuidava da gestação”.
Em meio à discussão, a babá passou mal, começou a sangrar e acabou perdendo o bebê dias depois, vítima de um aborto espontâneo.
Após o período de afastamento médico, ela foi demitida. “Essas pessoas não têm humanidade nenhuma, acham que doméstica tem que abrir mão da própria vida para viver a delas”, desabafou.
Seis meses após o episódio, a babá ainda tenta se recuperar emocionalmente.
Universitária, diz que tem dificuldade para conseguir emprego em outras áreas e pensa em voltar a trabalhar em casas de família mesmo com medo de reviver a dor do passado.
“Infelizmente, muitas dessas pessoas não querem mudar. Acham que ter empregada é sinônimo de poder. Mas a gente também é gente, também sofre, também sente”, escreveu.
O relato foi publicado na página “Eu, Empregada Doméstica”, que reúne milhares de histórias semelhantes, denúncias que expõem a realidade silenciosa de um trabalho essencial, mas ainda marcado por abusos e desrespeito.
Dados de pesquisa
Com efeito, de acordo com dados do IBGE, mais de 5,6 milhões de brasileiros trabalham atualmente como empregados domésticos.
Desses, cerca de 70% são mulheres negras, e apenas um terço possui carteira assinada.
Contudo, especialistas apontam que casos como o relatado pela babá do Rio mostram o quanto ainda falta para que a sociedade trate a profissão com o respeito e as garantias previstas em lei.
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