Show de Kanye West em SP segue sem local definido a menos de um mês do evento
Rapper fez declarações consideradas antissemitas, racistas e de exaltação do nazismo, além de ter lançado neste ano uma música chamada "Heil Hitler"
LUCAS BRÊDA
O show de Kanye West no Brasil, agendado para o dia 29 de novembro, em São Paulo, não tem um local definido. Marcada inicialmente para o Autódromo de Interlagos, a apresentação teve que ser remanejada e, faltando 21 dias, ainda não encontrou uma nova casa.
Mas os organizadores afirmam que o show vai acontecer. “Ele quer vir, a gente quer, vamos fazer acontecer”, diz Guilherme Cavalcante, um dos quatro sócios do evento. “É um valor de cachê muito alto que foi pago, não tem como cancelar o show, ele tem que acontecer. Mas também não dá pra fazer em qualquer lugar.”
Cavalcante afirma que a organização do evento foi pega de surpresa pela Prefeitura de São Paulo, que desistiu de maneira unilateral do acordo para uso do autódromo. “Do meu ponto de vista, foi uma sacanagem”, ele diz. “Só pagamos o artista porque eles confirmaram o local. Como você dá uma guia de pagamento e confirma o local, num show gigantesco, caro para caramba? O descaso deles é absurdo.”
Em comunicado enviado à Folha, a Prefeitura de São Paulo afirmou em nota que desistiu de ceder o autódromo por causa do histórico de polêmicas de Kanye West. O rapper fez declarações consideradas antissemitas, racistas e de exaltação do nazismo, além de ter lançado neste ano uma música chamada “Heil Hitler”, banida de plataformas como o YouTube e o Spotify.
“No momento da reserva da data para o evento, os organizadores não informaram ao Município qual artista seria contratado para realização do show”, diz a nota da gestão comandada pelo prefeito Ricardo Nunes, do MBD.
“Após definição posterior pelos promotores, a Prefeitura de São Paulo decidiu revogar o termo mencionado, uma medida prevista em contrato. A atual gestão não compactua com qualquer conduta criminosa de apologia ao nazismo e/ou racismo e, por isso, não permitirá eventos com essa conotação em equipamentos municipais. O pagamento da taxa tem restituição integral, conforme também previsão em contrato.”
Cavalcante afirma que a organização estava preparada para impedir manifestações de cunho nazista. “A gente quer que o evento aconteça da melhor forma, que as pessoas aproveitem”, afirma.
“Em relação ao nazismo, foi respondido que é abominável. Seria feita uma força-tarefa no dia para o caso de alguém aparecer com qualquer tipo de camiseta ou algo do tipo. Todo mundo ia estar vigilante. E o próprio artista, se fizesse qualquer tipo de apelação ou cantasse esse tipo de música. O Ministério Público fez uma citação e foi respondido que qualquer coisa nesse sentido é abominável.”
Agora, a organização negocia com a Live Nation para levar o show para o estádio do Morumbi, que neste mês recebe apresentações de Dua Lipa e Oasis, entre outros. Houve uma tentativa de levar o show ao Pacaembu, porém o estádio não tinha uma data livre.
Há também a possibilidade de Kanye West se juntar ao lineup do festival Cena, dedicado ao trap, que conta com atrações internacionais como o americano Young Thug e o inglês Skepta. O Cena está marcado para os dias 21, 22 e 23 de novembro na Neo Química Arena, o estádio do Corinthians, em Itaquera. Neste caso, West ganharia um dia dedicado a ele dentro do festival.
O promotor diz que já pagou o cachê de US$ 5 milhões, ou quase R$ 27 milhões, pedido pelo rapper. Também afirma que até a última sexta-feira (7), cerca de 30 mil ingressos haviam sido vendidos. Se o show for adiado, ele diz, quem comprou será reembolsado.
Para Cavalcante, mesmo que o show aconteça em outro lugar, isso não anula o que chama de descaso da gestão de Ricardo Nunes. “E se a gente não conseguir um local? E todo esse prejuízo gigantesco? É muita sacanagem.”
Nos últimos dias, Kanye West adiou pela terceira vez o lançamento de seu próximo álbum, “Bully”, que chegaria ao streaming na última sexta (7). Ele também divulgou um vídeo que mostra um encontro do artista com um rabino chamado Yoshiyahu Yosef Pinto em Nova York.
O rapper pediu desculpas públicas pelos comentários antissemitas feitos ao longo do ano. “Me sinto realmente abençoado por poder sentar aqui com você hoje e simplesmente assumir a responsabilidade. Eu estava lidando com várias questões do transtorno bipolar, então isso pegava as ideias que eu tinha e me fazia levá-las ao extremo”, disse. “Estes são os primeiros passos, tijolo por tijolo, para reconstruir muros fortes.”
Uma das pessoas que trabalha no show de Kanye West no Brasil, Jean Fabrício Ramos, que se apresenta como Fabulouz Fabz, disse à Folha em junho que o rapper não era nazista. “Ele está num caminho, se você olhar o Twitter, já começou a se retratar. Artista a gente conhece…
Ele é muito estratégico em várias situações de causar polêmicas, devido aos contratos que ele tem.”
Não cabe aos promotores opinarem sobre isso, ele afirmou. “Quem quiser ir, vai”, afirma. “Musicalmente, o cara é um gênio. Ele tem o histórico dele. Nem Deus agradou todo mundo. Estamos aqui para trazer uma atração foda. Temos uma assessoria de imprensa para lidar com essa situação, ele já está começando a se retratar e, pela conversa que eu tive, vem coisa boa aí. Ele está virando uma outra pessoa. A realidade é que ele não é nazista –ele está causando.”
Fabz ainda disse que a organização do show não é conivente com nazismo, e não iria permitir manifestações desse tipo no evento. “Vamos tomar as medidas. Isso é inaceitável. A gente não apoia isso. Vamos deixar bem claro que não é o nosso caso. Somos contra tudo isso.”
Se o show acontecer, será a primeira vez que Kanye West vem ao Brasil desde 2013, e sua primeira apresentação por aqui desde 2011, quando foi atração do festival SWU.






