Psicologia revela habilidades mentais comuns nos anos 60 e 70 que estão se perdendo

Estilo de vida sem telas e com mais responsabilidades ajudou a formar competências emocionais hoje cada vez mais raras

Isabella Valverde Isabella Valverde -
Psicologia revela habilidades mentais comuns nos anos 60 e 70 que estão se perdendo
(Foto: Ilustração/Pexels/cottonbro studio)

Enquanto as novas gerações crescem em meio a telas, algoritmos e respostas instantâneas, a psicologia começa a olhar para trás em busca de respostas. Pesquisadores e profissionais da área alertam que algumas habilidades mentais, comuns em quem nasceu nas décadas de 1960 e 1970, estão se tornando cada vez mais difíceis de encontrar entre jovens criados em um ambiente digital acelerado.

O debate não se limita mais às crianças. Estudos indicam que essas mudanças já impactam a Geração Z, hoje maioria no mercado de trabalho e cada vez mais próxima dos dilemas enfrentados por adultos.

Em contrapartida, uma pesquisa divulgada pelo jornal francês Ouest-France aponta que pessoas acima dos 50 e 60 anos carregam competências emocionais moldadas por um cotidiano mais simples — e, ao mesmo tempo, mais exigente.

Sem celulares, redes sociais ou inteligência artificial, essas gerações cresceram aprendendo a lidar com o tempo, o tédio e a frustração de forma direta.

A necessidade de assumir responsabilidades cedo, somada à ausência de estímulos imediatos, contribuiu para o desenvolvimento de habilidades hoje consideradas raras, como autonomia emocional, paciência e resiliência.

Entre os pontos mais destacados está a paciência. Em um período em que a informação demorava a chegar e o entretenimento dependia da criatividade, esperar fazia parte da rotina. Psicólogos apontam que essa vivência ajudou a formar adultos mais reflexivos e menos impulsivos, capazes de tomar decisões com mais calma.

Outra característica marcante é a maior tolerância à frustração. Crianças dos anos 60 e 70 cresceram em um ambiente com menos proteção emocional: erros não eram suavizados e o fracasso fazia parte do aprendizado. Esse contato precoce com limites ajudou a construir uma relação mais saudável com derrotas e obstáculos.

A capacidade de regular emoções também aparece como um diferencial. Embora o tema emocional fosse menos discutido na época, o autocontrole desenvolvido na infância está associado, segundo estudos, a menores níveis de ansiedade e estresse ao longo da vida.

Há ainda a satisfação com o que se tem. Crescer com menos bens materiais e expectativas mais realistas contribuiu para uma relação menos ansiosa com consumo e sucesso. Isso se conecta diretamente à tolerância ao desconforto, outra habilidade citada pela psicologia como resultado de um ritmo de vida menos imediato.

A concentração prolongada é outro ponto de contraste. Atividades comuns no passado, como leitura contínua, escrita de cartas ou ouvir álbuns inteiros de música, fortaleceram a atenção sustentada — algo cada vez mais desafiador em um mundo de notificações constantes e conteúdos fragmentados.

Por fim, destaca-se a gestão direta de conflitos. Resolver problemas cara a cara exigia diálogo, interpretação de gestos e escuta ativa, habilidades que ajudavam a construir relações mais sólidas, mesmo em situações desconfortáveis.

Os próprios pesquisadores fazem um alerta importante: nada disso deve ser romantizado. As décadas de 60 e 70 foram marcadas por desigualdades e dificuldades profundas. Em países como a Espanha, por exemplo, muitos jovens precisaram começar a trabalhar ainda na adolescência, em condições precárias, para ajudar suas famílias.

Ainda assim, o contraste entre gerações levanta uma reflexão inevitável: enquanto a tecnologia trouxe avanços inegáveis, ela também pode estar contribuindo para a perda de habilidades emocionais fundamentais — justamente aquelas que ajudaram gerações anteriores a lidar melhor com o tempo, o fracasso e a vida real.

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Isabella Valverde

Isabella Valverde

Jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, com passagens por veículos como a TV Anhanguera, afiliada da TV Globo no estado. É editora do Portal 6 e especialista em SEO e mídias sociais, atuando na integração entre jornalismo de qualidade e estratégias digitais para ampliar o alcance e o engajamento das notícias.

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