Proposta de China e Brasil para Guerra da Ucrânia ganha apoios, diz Pequim
Comentário foi feito ao ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, durante a reunião de chanceleres dos países do Brics
NELSON DE SÁ
O chanceler da China, Wang Yi, disse que o documento sobre a Guerra da Ucrânia assinado há três semanas com Celso Amorim tem recebido apoio crescente. O comentário foi feito ao ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, durante a reunião de chanceleres dos países do Brics em Nijni Novgorod, na Rússia.
“Recentemente, China e Brasil emitiram conjuntamente seis entendimentos comuns sobre a solução política da questão da Ucrânia”, afirmou Wang, segundo relato da diplomacia chinesa e da agência Xinhua. “Cada vez mais países entendem e aprovam.”
Segundo o porta-voz Lin Jian, em entrevista coletiva em Pequim, “52 países e organizações internacionais confirmaram que endossam os entendimentos comuns ou que estão analisando a forma de endossá-los”. Procurado na noite de quinta na capital chinesa, o ministério adiantou dois, Hungria e Nicarágua.
Em artigo publicado na Folha de S.Paulo, Amorim escreveu, por parte do Brasil, que “vários dos países contatados demonstraram compartilhar da mesma visão” expressa no documento.
Wang, com Vieira, observou ainda que este é o ano inaugural de “cooperação do Brics ampliado” e que a China quer trabalhar com o Brasil para isso, “permitindo que o mecanismo Brics desempenhe um papel maior na governança global e na salvaguarda dos interesses dos países em desenvolvimento”.
De sua parte, segundo o relato chinês, o chanceler brasileiro citou a “visita bem-sucedida” do vice-presidente Geraldo Alckmin a Pequim e disse que “Brasil e China compartilham posições semelhantes em muitas questões”, acrescentando que a “declaração conjunta sobre os seis entendimentos comuns é de importância significativa”.
O documento foi anunciado no último dia 23, após reunião de três horas entre Wang, também diretor de política internacional do Partido Comunista da China, e Amorim na chamada Casa de Hóspedes Diaoyutai, um parque fechado no centro de Pequim.
Entre os entendimentos está o de que China e Brasil “apoiam uma conferência internacional de paz, que seja reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes relevantes, além de uma discussão justa de todos os planos de paz”.
Segundo informou na ocasião a assessoria de Amorim, Brasil e China “devem engajar países amigos para construir” a conferência. A proposta contrasta com o encontro convocado para este fim de semana na Suíça. A Rússia não foi convidada, o que levou o Brasil e outros países a argumentarem que não faz sentido falar em um fim negociado para a guerra sem um dos lados presente.
A diplomacia brasileira será representada no encontro por sua embaixadora em Berna, Claudia Buzzi.
No dia seguinte à reunião com o chanceler chinês, questionado sobre como seria, na prática, a negociação de paz que Brasil e China pretendem encaminhar, Amorim respondeu: “Bom, esse é outro passo. O primeiro é aceitar uma solução que envolva Rússia e Ucrânia.
Vamos aguardar a repercussão que isso vai ter”.
O presidente Lula conversou na última segunda (10) com o presidente russo, Vladimir Putin, e segundo o governo brasileiro “reiterou a defesa de negociações de paz que envolvam os dois lados do conflito, em linha com documento assinado” por Amorim e Wang.
Além da participação russa, os “entendimentos comuns” sobre a guerra incluíram estes cinco, resumidamente:
China e Brasil “apelam a todos os atores relevantes a observarem três princípios para a desescalada da situação, a saber: não expansão do campo de batalha, não escalada dos combates e não inflamação da situação por qualquer parte”;
“São necessários esforços para aumentar a assistência humanitária em áreas relevantes e prevenir uma crise humanitária de maior escala”;
“O uso de armas de destruição em massa, em particular armas nucleares, químicas e biológicas, deve ser rejeitado. Todos os esforços possíveis devem ser feitos para prevenir a proliferação nuclear e evitar uma crise nuclear.”;
“Ataques contra usinas nucleares ou outras instalações nucleares pacíficas devem ser rejeitados.”
“A divisão do mundo em grupos políticos ou econômicos isolados deveria ser evitada.”