Considerada a São Paulo do Centro-Oeste, Goiânia se consolida no mercado de luxo e acolhe novos consumidores

Capital dita regra para diversas outras cidades e regiões quando assunto é sofisticação

Gabriella Pinheiro Gabriella Pinheiro -
Flamboyant Shopping, em Goiânia. (Foto: Divulgação/ Shopping Flamboyant)
Flamboyant Shopping, em Goiânia. (Foto: Divulgação/ Shopping Flamboyant)

Dar uma volta no Flamboyant Shopping Center, localizado em um dos bairros mais nobres da cidade, o Jardim Goiás, é se deparar com sinais explícitos do vigor econômico da capital que ocupa o título da ‘São Paulo do Centro-Oeste’. É por lá que marcas de grifes internacionais como Gucci, Dolce & Gabbana, Giorgio Armani, Louis Vuitton e Bulgari — lojas que só possuem outras unidades próprias em SP — estão instaladas. O cenário lapidado ao longo dos últimos anos acompanha os números. Em 2023, segundo o Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (IMB), o Produto Interno Bruto (PIB) do estado foi de R$ 336,7 bilhões, representando um crescimento de 4,4%, superior à média nacional.

A evolução, impulsionada na maioria pelo setor agropecuário, se reflete nas ruas da cidade — com canteiros de construções civis e instalações de empresas com serviços de luxo variados — e, principalmente, no comportamento de quem vive na capital – cujos moradores não só não escondem como evidenciam o gosto pelo sofisticado.

O “desfile” de carros importados que toma as vias da capital é outro indicador. Seja no Setor Marista, Bueno ou mesmo no Jardim Goiás, os veículos de luxo e as tradicionais caminhonetes e picapes gigantes marcam presença. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam, inclusive, que Goiânia possui uma média de 2,75 veículos por domicílio, tendo uma frota de 136.044. A própria concessionária da Porsche, a RAM House, chega a vender mais de um carro por dia ao comercializar uma média de 45 e 50 unidades por mês.

“Goiânia hoje é a São Paulo de muita gente, principalmente do pessoal do Centro-Oeste, Nordeste e Norte. A pessoa quer passar um fim de semana bacana e Goiânia atende o mercado de luxo com gastronomia, carros… A pessoa passa uma semana maravilhosa aqui. Ela não tem que enfrentar, por exemplo, o trânsito de São Paulo e a violência de lá”, explica o proprietário da distribuidora oficial da marca Rolex, a Danglar, em Goiânia, Flávio Lima. O local, inclusive, conta com uma fila de espera que varia de 4 até 6 anos, a depender da peça.

Proprietário da distribuidora oficial da marca Rolex, a Danglar, em Goiânia, Flávio Lima. (Foto: Bruno Karim/ Arquivo Pessoal)

Herdeiro de uma tradição de joalheiros com mais de 60 anos de mercado, ele revela que 15% das vendas das unidades – já que também é dono da Montblanc – são de consumidores de outras cidades e até estado, consolidando a capital do estado como polo de artigos de luxo do Centro-Oeste.

A vinda do consumidor externo, inclusive, é a responsável por encabeçar uma extensa cadeia econômica que movimenta hotéis, restaurantes e bares de alto padrão. Assim, a busca por um único artigo faz o dinheiro ‘novo’ irrigar as engrenagens financeiras da capital e ajuda a cidade se transformar em uma das que mais crescem no Brasil.

“Isso permite uma inovação. O mercado de luxo se beneficia com produtos voltados à sustentabilidade e vem trabalhando em linhas de produtos que tragam maior popularidade para a marca e linhas mais acessíveis, econômicas e socioambientais. Elas trazem uma hibridização do mercado, o comércio de luxo é popular e tem trabalhado essa influência por meio da moda casual, linhas que tem ali o socioambiental, atraindo também outras classes. […] O mercado de luxo também consegue atender várias classes”, conforme elucida a superintendente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Goiânia (CDL), Hélia Gonçalves, à reportagem.

Apostando no apetite por itens de luxo, o setor se refina e apresenta uma nova faceta: a versatilidade. Dessa forma, além de oferecer o que já é tradicional, o mercado também amplia a oferta de produtos, oferecendo linhas mais sustentáveis, com mais identidade e exclusividade.

“A versatilidade do comércio goiano trás essa tendência para o mercado de luxo, que reflete o perfil do consumidor goiano. É um espectro comercial que abrange uma diversa gama de produtos de luxo como relógio, joias e até roupas. […] A gente tem cada vez mais demanda por coisas de luxo”, diz.

Assim, de forma gradativa, a cidade se transforma. Só no ano passado, conforme dados da Junta Comercial do Estado de Goiás (Juceg), 1.103.860 empresas foram abertas no estado. Referências de diversos setores do serviço, indo desde joalheiros em alta cotação até cabeleireiros, desembarcaram na capital. Ian Baiocchi é um deles. O chefe de cozinha, que já trabalhou ao lado de nomes conhecidos como Helena Rizzo e Alex Atala, atualmente é dono de sete estabelecimentos na cidade e virou sucesso com o rooftop, o Grá Bistrô do Edifício Órion.

A indústria da música sertaneja também é outro ponto que se tornou um soft power goiano. É na cidade que artistas mais populares do país, como Maiara e Maraisa, Leonardo, Gusttavo Lima, Amado Batista, Zé Felipe e Virginia Fonseca, vivem. Os últimos, inclusive, construíram uma mansão em um dos condomínios mais disputados da cidade, o Residencial Aldeia do Vale.

Nova alta classe goiana

Em entrevista ao Portal 6, o filósofo e sociólogo Edney Augusto Cordeiro Silva explica que o “lifestyle das regalias” tem ligação direta com o setor considerado a mola propulsora da capital: o agro. Para ele, o fator é mais evidente no município porque boa parte da chamada “nova classe” é formada por pessoas que possuem ligação com o meio rural e que, antes, não tinham acesso a itens desse tipo.

“A ideia de ostentação, de apresentar uma vida de luxo, é algo de uma nova classe alta brasileira. Por que em Goiânia é mais evidente? Porque é a capital do agro. É uma classe que veio do campo, é a primeira geração que está na cidade. É uma pessoa que recebeu um dinheiro e não está acostumada e, em vez de reinvestir em estudo e cultura, vai para o gasto. […]  É uma classe que ainda está se identificando”, explicou.

(Foto: CNA/Wenderson Araujo/Trilux)

Na capital, segundo Edney, o movimento também é replicado por aqueles que integram as camadas mais baixas. Nesses tipos de situações, estabelecimentos optam por trazer versões com um toque mais sofisticado que atendam à demanda dessa categoria.

“Você vê essa tendência de consumo até da periferia. Alguns bares do Marista fazem versões para agradar essa faixa de consumo. A periferia vê essa classe de consumo alto e ela também quer ter acesso a isso, ao bar bacana, aos drinks legais, e ela tem, na versão dela”, afirma.

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