Juiz dá 5 dias para que governo Trump explique se obedeceu decisão que barra voo de deportados
Decisão aprofunda embate entre a Casa Branca e Justiça americana após série de decretos e medidas serem bloqueados por juízes federais

GUILHERME BOTACINI
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A resposta do governo do presidente Donald Trump ao pedido da Justiça dos Estados Unidos por mais detalhes sobre a deportação de centenas de migrantes venezuelanos foi “lamentavelmente insuficiente”, disse nesta quinta-feira (20) o juiz federal em Washington James Boasberg, responsável pelo caso.
O magistrado avalia se a gestão do republicano desobedeceu sua ordem de bloqueio das deportações e deu cinco dias, até a próxima terça-feira (25), para que o governo explique por qual razão a falha em paralisar as remoções dos migrantes não teria violado a ordem judicial.
A decisão do juiz exigindo explicações do governo aprofunda o embate entre a Casa Branca e Justiça americana após uma série outros de decretos e medidas de Trump serem bloqueados por juízes federais de primeira instância.
O republicano e seus aliados, como o bilionário Elon Musk, têm subido o tom das críticas aos juízes responsáveis pelas ordens de bloqueio, ao ponto de defenderem o impeachment desses magistrados sob o argumento de que eles interferem no Poder Executivo de forma indevida.
Em rara crítica ao Trump, o presidente da Suprema Corte do país, John Roberts, disse na terça-feira (18) que pedir a destituição de um juiz por discordar de suas decisões não é uma “resposta apropriada”.
Especialistas americanos já soam alertas de que o embate cada vez mais estridente entre os Poderes e as ameaças do presidente de não cumprir decisões judiciais têm o potencial de provocar uma grave crise constitucional no país.
Trump, por sua vez, apesar das críticas e bravatas contra o Poder Judiciário, afirmou em meio ao embate que não desafiaria nenhuma ordem judicial.
Boasberg já havia dito anteriormente que estava apenas tentando determinar se o governo havia violado sua ordem liminar (temporária) de bloqueio dos voos de deportação, proferida no mesmo dia em que os voos ocorreram, no último sábado (15).
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Até aqui, as audiências durante a semana apenas buscaram detalhes como horários dos voos, sob que lei o governo deportava os imigrantes e outras informações que serviriam de substrato para decisão final do juiz.
O bloqueio temporário ocorreu após processo aberto por organizações civis contra o uso de uma lei de guerra do século 18 como base para as deportações -o governo Trump argumenta que a gangue venezuelana Tren de Arágua, tratada pela Casa Branca como grupo terrorista, conduz “uma guerra irregular e toma ações hostis contra os EUA”.
A ordem desta quinta é a primeira no caso a exigir diretamente que a gestão Trump explique se violou ou não a ordem inicial de Boasberg ao seguir com os voos de deportação apesar do bloqueio judicial.
Audiências durante esta semana foram marcadas por medidas vistas por críticos do republicano como provocativas e desafiadoras ao Judiciário. Advogados do governo protocolaram documentos dizendo que não responderiam a perguntas do magistrado e que o juiz deveria ser removido do caso em razão de “procedimentos altamente incomuns e inadequados”.
A defesa do governo disse que não compartilharia as informações por questões de segurança nacional, sem detalhar os motivos para tal, e sugeriu que os voos já estavam no ar quando a ordem de bloqueio foi dada, embora esse argumento não tenha sido aceito pela Justiça. A Casa Branca afirma que agiu dentro da lei.