Onze meses atrás, o papa Francisco respondia ao padre Pedro Chia, diretor do Escritório de Comunicação Jesuíta da Província Chinesa no Vaticano: “Sim, eu realmente quero ir à China”.
Contou ter uma estátua de Nossa Senhora de Sheshan em seu apartamento privado e que pretendia ir especialmente ao seu santuário, no parque de mesmo nome, em Xangai.
No final de 2023, ele já havia viajado à Mongólia, que tem apenas 1.300 católicos, mas é vizinha da China. De acordo com uma fonte eclesiástica que o recebeu no país -e com a ferramenta chinesa de inteligência artificial Doubao- teria sido mais uma oportunidade de se aproximar de Pequim.
Ele voltaria a buscar pontes com a China ao deixar o Sudeste Asiático em setembro passado e, no avião, se estender nos elogios:
“A China para mim é uma ilusão, no sentido de que eu gostaria de visitar a China. É um grande país. Eu admiro a China, respeito a China. É um país de uma cultura milenar, de uma capacidade de diálogo e de entendimento que vai além de diferentes sistemas de democracia. Creio que a China é uma promessa, é uma esperança para a Igreja.”
Falou estar “contente com o diálogo com a China, o resultado é bom, também para a nomeação de bispos se trabalha com boa vontade”.
O papa fechou um acordo com Pequim em 2018, de que os bispos precisariam ter a aprovação dos dois lados, e passou a ser alvo de críticas de opositores dentro e fora da Igreja. O acordo nem sempre teria sido respeitado.
Para Chia, jesuíta como ele, recomendou, com alguma ironia: “Vocês têm o vírus da esperança. É uma coisa muito bonita”. E foi o que quis passar aos jovens católicos chineses, ainda que seja “tautológico enviar uma mensagem de esperança a um povo que é mestre na espera”.
Após sua morte, uma mensagem em mídia social, de Pequim, em chinês, lembrou que ele “aumentou continuamente seu envolvimento nos últimos anos, visando resolver a questão China-Vaticano durante sua vida”.
Porém, “neste momento tudo isto já virou história”, porque, “não importa quem assumir, o ritmo de melhoria das relações será difícil de sustentar”.
Na plataforma Weibo, a principal para comentários escritos no país, um usuário publicou: “O Papa Vermelho se foi”. Foi em reação a uma postagem, das mais virais sobre Francisco na China, destacando que em sua última mensagem ele teria falado: “Estou pensando no povo de Gaza”.
Sendo mídia social, outro usuário acrescentou logo abaixo: “E no fim ele também é do Hamas”.
Não faltaram menções e até piadas, inclusive no Douyin, o TikTok original, sobre seu encontro também na véspera com o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance.
No Weibo, a notícia da morte foi de imediato para o primeiro lugar nos tópicos populares, ao surgir no perfil do canal de notícias Phoenix, de Shenzhen e Hong Kong. Mas caiu ao longo da segunda-feira, até desaparecer no início da madrugada.
Por volta de 1h de terça, horário local, ainda não havia sido anunciada a reação oficial por Pequim.