Ao lado de Trump, Netanyahu diz concordar com plano dos EUA para paz em Gaza
Entre os pontos há previsão de anistia aos membros do Hamas que depuserem armas e o estabelecimento de um governo provisório

JULIA CHAIB E VICTOR LACOMBE – Em um momento importante da guerra em Gaza, prestes a completar dois anos, o presidente dos EUA, Donald Trump, recebeu nesta segunda-feira (29) o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e apresentou um plano de 20 pontos para encerrar o conflito. Netanyahu afirmou que concorda com a proposta e jogou a pressão sobre o grupo terrorista Hamas, que disse ainda não ter recebido o documento de forma oficial.
“Eu acredito que hoje estamos dando um passo crítico para acabar com a guerra em Gaza e preparando o terreno para avançar na paz no Oriente Médio. Eu apoio o seu plano para acabar a guerra em Gaza”, afirmou Netanyahu, ao lado do americano.
A declaração foi dada à imprensa após a reunião entre os líderes, na Casa Branca. Segundo Trump, se o Hamas concordar com a ideia, a guerra deverá acabar imediatamente. Entre os pontos há previsão de anistia aos membros do grupo que depuserem armas e o estabelecimento de um governo provisório.
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Trump disse estar “ouvindo” que a facção também quer que isso seja resolvido, mas ameaçou. “Se o Hamas recusar o acordo… isso é possível, mas acho que eles aceitarão. Caso contrário, Israel terá meu total apoio para fazer o que for preciso para destruir o Hamas”, disse o presidente americano.
Logo depois da declaração à imprensa, um funcionário do Hamas afirmou que o grupo não tinha ainda recebido as propostas por escrito. Netanyahu reforçou que, se o Hamas não apoiar o plano, eliminará o grupo. “Isso pode se dar de um jeito fácil ou do jeito difícil”, disse o premiê israelense.
A proposta apresentada prevê que Trump será o chefe do “Conselho da Paz”, que incluirá também o ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair em nota, o político britânico chamou o plano de “corajoso e inteligente”.Esse órgão seria responsável por supervisionar o futuro governo de Gaza, que seria comandado temporariamente por um “comitê palestino de transição, tecnocrático e apolítico”. Esse colegiado administraria os serviços no território.
“Esse órgão definirá a estrutura e cuidará do financiamento para a reconstrução de Gaza, até que a Autoridade Palestina conclua seu programa de reformas conforme proposto em diferentes iniciativas, incluindo o plano de paz de Trump de 2020 e a proposta saudita-francesa e possa reassumir o controle de Gaza de forma segura e eficaz”, diz o plano divulgado pela Casa Branca.
O plano prevê ainda que Gaza será desmilitarizada e que ninguém será forçado a deixar a região. “Incentivaremos as pessoas a permanecerem e ofereceremos a oportunidade de construir uma Gaza melhor”, diz o plano. Em outros momentos, Trump chegou a falar sobre saída forçada dos civis.
O americano afirmou que desta vez, os países estão muito próximos de chegar à paz. “Israel coexistirá com outros povos e países na região, da Síria ao Líbano à Arábia Saudita. Isso é o mais próximo que já chegamos da paz, paz de verdade, não uma paz de tolo.”
“Esperamos que até mesmo o Irã faça parte desse acordo [de reconhecimento diplomático de Israel]. Acho que isso é possível. Queremos ter boas relações com o Irã”, continuou o presidente americano. Até a tarde desta segunda (29), o regime de Teerã ainda não havia se pronunciado sobre as falas de Trump.
O líder americano mencionou as manifestações organizadas por famílias de reféns em Israel. “Por alguma razão, Bibi, eles gostam de mim, não sei por quê”, afirmou, em relação a cartazes nos atos que pedem a intervenção do republicano para encerrar a guerra e recuperar os sequestrados. O Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos divulgou um comunicado com a oração Shehecheyanu em resposta ao anúncio do presidente dos EUA, o que expressa gratidão.
Em 7 de outubro de 2023, os terroristas do Hamas mataram cerca de 1.200 israelenses, a maioria civis, e sequestraram 251 pessoas. Deste total, 47 ainda permanecem em Gaza, mas 25 destes reféns são considerados mortos pelo Exército de Israel.
Trump ainda criticou a decisão da maioria dos países de apoiar a criação do Estado da Palestina, ao contrário do que defendem os EUA e Israel. Na semana passada, dezenas de delegações, incluindo a do Brasil, deixaram o plenário da Assembleia-Geral das Nações Unidas antes do discurso de Netanyahu.
“Netanyahu foi muito claro em relação à sua oposição a um Estado palestino, e eu respeito isso, mas o que o primeiro-ministro está fazendo agora é muito, muito importante para Israel.”
Antes da declaração à imprensa, a Casa Branca também informou que Netanyahu telefonou, ao lado de Trump, para o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman, e pediu desculpas pelo ataque em Doha no início de setembro. O premiê israelense afirmou que a ação não se repetirá, de acordo com o comunicado americano.