Mãe é ser, estar…
O elo de uma criança acontece com a mãe desde o ventre – mas há muitas mulheres que apenas geram, outras que não geram e são mães. Tem pais com a alma-mãe, isso demonstra que esse privilégio não é apenas das mulheres. Ser mãe é criar uma ligação emocional-espiritual com o filho desde antes de nascer – dos adotivos desde o primeiro olhar. Essa ligação acontece com a alma-que-é-mãe, por isso, tantas mães que nunca geraram são mães por natureza.
Para o ser-mãe não é necessário ter anteriormente experiências de amor para poder doá-lo – isso é egoísmo e egocentrismo – o ser-mãe se doa incondicionalmente a despeito do passado ou do sofrimento que lhe foram causados pela vida. De fato, não há espelho melhor para si mesma do que a alma que é mãe por essência.
O ser-mãe não tem preterimentos. A mulher-que-gera direciona seu “amor” àquele que herda suas características e que se identifica nele. Ser mãe não é uma tarefa fácil, é pulsante, intrínseco, vem das entranhas do ser, é alma-mãe – vai muito além dos limites do apego.
O ser-mãe forma caráter e não se restringe apenas à provisão. Ser-mãe é estar ali quando houver machucados e realiza a cura como bálsamo reconfortante. Ser mãe é direcionar a visão do filho para o melhor do que ele pode ser. Ser mãe é ensinar o caminho e não controlá-lo. Ser mãe é abraçar, beijar, dizer que ama; afinal esse é o seu limiar e como tal flui e desemboca como o rio no mar, naturalmente.
Ser-mãe não é ser perfeita, mas sim assumir a responsabilidade por suas falhas e não transferi-las ao filho como válvula de escape, e, a cada passo errado, voltar atrás e buscar aperfeiçoar-se – afinal esse aroma da maternidade a acompanhará pela eternidade. Ser-mãe é disciplinar e jamais produzir a ferida. Ser-mãe é construir cidadão que produz e deixá-lo alçar vôos que nem ela jamais ousou fazê-lo, incentivando-o.
Ser-mãe é acreditar sempre e não fazê-lo desacreditado. Ser-mãe é aquela que com amor e com prazer têm tempo apesar do cansaço da lida, conversa e ouve, sugestiona e ouve, aconselha e ouve, silencia e ouve. Ser mãe é demonstrar na pele os mais difíceis gestos de perdão. Ser-mãe é ser uma eterna avaliadora de si mesmo afinal o que foi impresso nos filhos desde a infância começou em nós ou foi permitido por nós.
Ser-mãe-estar é todo dia. É força, determinação, pró-atividade, estar pronta sempre pra uma boa risada, cozinhar com carinho, receber a presença dos filhos com liberdade. Ser mãe é como o bom vinho, quanto mais velha, melhor deve ficar. Esse é o legado do apetite e do sabor que precisamos carregar, não se importando com o que esteja acontecendo, jamais podemos perder nossas características. O ser-mãe é a materialização da bondade de Deus na terra dos viventes, é um chamado que nos convida a abrir mão de nós mesmos, de conceitos pré-fabricados e que persevera em caridade.
Temos a responsabilidade de construir nossos filhos em amor e jamais transferir e eles nossas frustrações ou responsabilidades – uma coisa é ensinar o caminho, outra é a demagoga exigência de um padrão que nem mesmo alcançamos. Nossa tarefa como mães começa no espírito e na alma, e tem o passo inicial em nós – não podemos jogar essa incumbência ao filho, como se a obrigação da inspiração de ser mãe começasse nele – caso contrário, jamais será manifestado em nós algo que não começou no nosso íntimo. Ser mãe não é algo pronto que vem com manual de instruções, é a sabedoria que precisa ser buscada como tesouro, é um aprendizado eterno, mas não podemos fazer de nossos filhos as nossas vítimas ou alvo de nossas transgressões.
Nada paga o abraço voluntário, o beijo caloroso e elogios sinceros que brotam do coração de um filho que sem pretensão alguma te diz o que o coração dele está cheio. O olhar intenso e apaixonado de um filho a uma mãe, que externa esse elo emocional que começou a construção desde antes de nascer pelo ser-mãe, essa ponte que nós mães temos a responsabilidade de mantê-la intacta e sustentá-la mesmo com os braços já cansados, o amor incondicional que salta aos olhos da mãe para o filho e que tem correspondência, o zelo que foi impresso no coração, as palavras benditas que alcançaram lugar pra morar na alma, o toque, o cuidado e o carinho não cabem em palavras ou homenagens.
Deniza L. Zucchetti é escritora nas horas vagas e mãe em período integral. Escreve todas as segundas-feiras.