Renovação parcial da Câmara de Anápolis: a velha política ainda resiste no Legislativo
O brasileiro é um ser difícil de ser entendido. Foi para rua, protestou vários meses, compartilhou memes na internet falando sobre renovar a política e eleger políticos novos, tirando os velhos do poder… Mesmo assim, em Anápolis, dos 23 vereadores, oito ainda se reelegeram. Isso dá praticamente um terço da Câmara. Claro que esse resultado se dá também, devido às novas regras de dimensionamento de votos por coligação e quociente eleitoral, que deixou muitos dinossauros bem votados de fora.
Essa eleição também tem números bem marcantes. De uma população votante de 260.567 eleitores, somente 210.781 votaram, o que nos deixa com uma abstenção de quase 20%, com aproximadamente 50 mil faltosos. Além disso, ainda tivemos mais de 8 mil votos brancos e 11 mil votos nulos. Só restaram 191.291 votos válidos, dos quais ainda tivemos 11.288 votos direcionados para legendas. O que deixou 180.003 votos para serem disputados pelos 561 candidatos a vereador da cidade, que se digladiaram pelas 23 vagas no Legislativo.
Ao contrário do Executivo, onde os votos são bem distribuídos, os votos para vereadores são pulverizados, e até então nenhum vereador de Anápolis havia sido eleito com mais de 4 mil votos. O destaque desta eleição ficou por conta do ex-prefeito Antônio Gomide (PT), que foi eleito vereador (cargo para o qual já foi eleito em 1996, 2000 e 2004) e voltou agora com uma votação expressiva. Foram mais de 11 mil votos, representando 6,09% dos votos válidos. No Estado de Goiás inteiro, Gomide foi o segundo vereador mais bem votado, ficando atrás apenas de Kajuru, eleito em Goiânia com 37 mil votos, ou 5,65% dos votos válidos.
Proporcionalmente Gomide foi o vereador com mais votos no Estado. Isso permitiu que ele levasse consigo mais três vereadores de sua coligação – todos já antigos na Câmara dos Vereadores. Apesar de expressivo, o número de votos recebido pelo ex-prefeito, reeleito em 2012 com quase 90% dos votos, ficou abaixo do que muitos analistas esperavam. Porém, aparentemente o desgaste que o PT tem sofrido em todo país não é tão forte em Anápolis. O partido obteve o maior número de cadeiras na Câmara, quatro, sendo todas ocupadas por candidatos que concorriam à reeleição: Lisieux Borges, atual presidente da Câmara, Luiz Lacerda e Professora Geli. Há de se destacar que alguns deles entraram graças ao quociente eleitoral, mas o fato é que estão na Câmara.
Além dos quatro petistas eleitos, os partidos que apoiavam o prefeito João Gomes ainda elegeram outros 6 candidatos. Deixando a base aliada original com dez vereadores até agora, afinal ainda podem ser feitas novas alianças para o segundo turno. Destes seis, dois estão se reelegendo: Pedro Mariano (PRP) e Jackson Charles (PSB). Dos outros quatro eleitos, alguns só entraram graças ao famoso quociente eleitoral, com destaque para a filha do candidato a vice de João Gomes, Elinner Rosa (PMDB), eleita com apenas 1045 votos, deixando de fora candidatos muito mais bem votados, como João Feitosa, que obteve 1714 votos, e acabou ficando como suplente. Além dela, também foram eleitos Valdete Fernandes (PDT), Teles Junior (PMN) e Luzimar Silva (PMN).
Os conservadores também colocaram seus representantes na Câmara. O PSC, que não conseguiu emplacar seu candidato a prefeito, teve dois vereadores eleitos. Graças ao grande número de votos recebidos pela radialista Vilma Rodrigues, mais de 3.500, o partido conseguiu ainda puxar Lélio Alvarenga, que na última eleição saiu como candidato pelo PT e ficara como suplente. No pleito anterior, o PSC também havia eleito dois vereadores, que estavam disputando a reeleição este ano e não conseguiram: Pr. Wilmar Silvestre e Wederson Lopes ficaram de fora a partir de 2017.
O PSDB conseguiu eleger três candidatos, se tornando a segunda maior bancada da Câmara, dos quais, dois são novos: Pr. Elias Ferreira e Américo. Dos antigos na casa, somente o Maurão conseguiu se reeleger. Mirian Garcia, Vespa e Pedrinho Porto Rico, apesar de bem votados, ficaram de fora e não conseguirão voltar para a Câmara no próximo mandato. Porém, além dos três no partido, a coligação que apoiava o candidato Carlos Antônio conseguiu ainda eleger outros três candidatos. Thais Presidente da ASPAAN (PSL), Deusmar Japão do Municipal (PSL) e João da Luz (PHS).
A coligação ligada a Roberto do Órion, que disputa o segundo turno, conseguiu reeleger quatro candidatos: Amilton Filho (SDD), que teve mais de 3 mil votos, recebendo o terceiro maior número de eleitores neste pleito, e Jean Carlos (PTB), que completam o grupo com os novatos Leandro Ribeiro, também do PTB, e Fernando Paiva, do PTN. Além deles, o PV, partido do candidato José de Lima, conseguiu a eleição de Dominguinhos do Cedro, fechando assim a nova Câmara.
Teremos neste ano dois terços da Câmara formados por novatos na política, ou ao menos candidatos que não estavam na câmara no último mandato. Estes candidatos farão companhia aos velhos de casa, que são em sua maioria da base aliada do atual prefeito, comandados pelo ex-prefeito Antônio Gomide, que tem uma forte aceitação por parte da população e rejeição mínima. Ele é considerado por muitos o prefeito que revolucionou a cidade e poderá ter forças para avançar projetos na Câmara com apoio da população e poderá ser uma grande fonte de oposição para o novo prefeito, caso este não seja João Gomes.
Cabe à população gravar bem o nome e a “cara” dos candidatos eleitos e cobrar deles ações e projetos que beneficiem toda a cidade, e não apenas um grupo específico.
Temos quatro anos pela frente que podem ser de avanço ou retrocesso, dependendo apenas da postura da população frente aos seus novos representantes.
Bruno Rodrigues Ferreira é psicólogo e jornalista. Especialista em Educação e Tecnologia e Gestão em Saúde. Twitter: @ferreirarbruno