91 empresas querem vir para Anápolis, mas não conseguem. Presidente da ACIA diz o porquê

São pequenas e grandes empresas que trariam mais receita e, sobretudo, mais empregos para a cidade

Danilo Boaventura Danilo Boaventura -

Prestes a lançar o “Pacto por Anápolis”, pacote de ideias e soluções para a retomada do crescimento em Anápolis, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Anápolis (ACIA), Anastácios Apóstolos Dagios, espera que o novo prefeito de Anápolis, Roberto Naves (PTB), brigue mais pela cidade junto ao Governo do Estado. Foi, segundo o líder classista, o  que faltou na gestão anterior. Sobrou mágoa. “Fomos ouvidos, [mas] não fomos atendidos”, desabafa.

Despojado, o líder classista recebeu a reportagem do Portal 6 na primeira semana de 2017 vestindo calça jeans, blusa azul quase cinza e sapatênis. Na sala de reunião onde a entrevista foi gravada, Anastácios se acomodou em uma poltrona de couro preto para falar sobre as dificuldades e limitações enfrentadas pelo setor empresarial.

Atualmente, um total de 91 empreendimentos aguardam autorização para entrar no DAIA. O distrito que décadas atrás proporcionou à economia anapolina vários saltos de desenvolvimento está com terrenos emperrados judicialmente e paralisa o ambiente de negócios na cidade.

Qual o maior impedimento atual para Anápolis voltar a crescer como já cresceu em outras épocas?

Anastácios – Na área de atração de empresas o maior impedimento é a falta de infraestrutura básica da cidade. A gente detectou que os últimos governos municipais investiram pouco na área de infraestrutura. Então, hoje nós não temos água, a energia é limitada e não temos principalmente terrenos. Não temos uma área para expansão. Ao nosso ver, as últimas administrações falharam no sentido de criar essas condições de atração para essas empresas, de criar um distrito industrial, por exemplo, municipal. Vamos pegar o exemplo Aparecida, que tem quatro distritos municipais e nós não temos nenhum. Dependemos só do nosso DAIA, que já está superlotado. Basicamente é isso. Não se criaram condições. A prefeitura não criou condições para atração dessas empresas, não se preocupou com isso.

Muitas empresas chegam aqui em e veem as dificuldades e encontram mais facilidades em Aparecida.

Anastácios – Basicamente por duas coisas: primeiro eles criaram infraestrutura. Eles têm quatro distritos municipais, um estadual e já estão criando outro. Agora, o segundo é que o prefeito deles  [Maguito Vilela até dezembro] foi muito mais protagonista do que o nosso [João Gomes até dezembro] na atração de empresas. Não sei o número exato, mas eles passaram de seis mil empresas no início do Governo do Maguito para quase 30 mil agora. Então, ele conseguiu atrair empresas, ele teve sucesso onde nós falhamos.

Mais de 90 empresas tentam vir pra Anápolis, mas esbarram na burocracia e outros problemas. O que a Prefeitura de Anápolis pode fazer para diminuir e equacionar essas dificuldades encontradas pelos investidor, pelo empresário?

Anastácios – Essas 90 empresas que estão querendo se instalar no DAIA. É um problema da Codego. A Codego tem mais de 90 empresas na lista de espera e o DAIA tem 35 áreas que estão em demanda judicial. Se essa demanda judicial fosse resolvida rapidamente a gente conseguiria acomodar essas 90 empresas. Deixando claro que são 90 empresas que querem de cinco a 50 mil metros. Tem pequenas, médias e grandes. Mas são geradoras de emprego e geradoras de receita.

Nós empresários e o prefeito, isso já foi falado para ele, temos que estar juntos. O poder municipal precisa pressionar o Governo do Estado. Temos que dar uma solução rápida nessas demandas judiciais e liberar o mais rápido possível essas 35 áreas que estão sob demanda judicial. O segundo ponto é a expansão do DAIA. Uma área de nove alqueires foi desapropriada, mas ela não tem infraestrutura. É um cerrado. Precisamos pressionar o Governo do Estado para fazer a infraestrutura básica, para que a Codego consiga locar essas empresas que estão na fila.

Só pode ser feito pelo Governo do Estado? A Prefeitura não pode fazer?

Anastácios – Bom, uma segunda via é a Prefeitura criar um Distrito Industrial. Isso é uma das promessas do prefeito Roberto Naves, mas é muito mais rápido destravar as 35 que estão prontas porque em dois ou três meses você implanta essas indústrias. Sendo que um distrito municipal vai levar no mínimo dois anos. O prefeito tem que desapropriar a área, criar o decreto, fazer a infraestrutura da área, isso não é rápido, ao passo que o DAIA, se a gente ocupar essas 35 áreas que estão paradas, sob demanda judicial, a gente implanta mais de 90 indústrias.

E uma terceira via, que já foi entregue aqui na associação em mãos para o governador Marconi Perillo, é usar parte da plataforma logística nossa, que vai fazer aniversário de dez anos agora. Ela tem toda infraestrutura básica para instalação de empresa e está lá abandonada. Nós pedimos para o governador que parte dessa plataforma seja usada para implantação de indústria. Então saída tem. Está faltando é ação, protagonismo.

Vontade política?

Anastácios – Também.

Se a Prefeitura conseguir diminuir o tempo de mais de 80 dias atuais para sete dias, como quer perseguir a nova gestão, pode mudar a realidade de negócio de geração de empregos na cidade?

Anastácios – Pode. Esse dado que você está dando, de 80 dias, está muito otimista. O Sindicato da Indústria da Construção, a ACIA e o Fórum Empresarial mostraram ao prefeito que tem projetos aqui que levam até oito meses para ser liberado na Prefeitura. Oito meses! (repeteu de maneira enfática).

A criação de empresas leva aí três meses para a parte burocrática. Você vê que o camarada quer empreender, quer abrir uma lojinha, não pode ficar 90 dias [esperando]. Um dos pedidos que nós fizemos ao prefeito é que o alvará de construção fosse liberado em uma semana. Sobre a abertura de empresa nós passamos algumas sugestões para ele. [Nós da ACIA] visitamos alguns municípios como Maringá (PR), onde o camarada entra na internet hoje e em questão de dias a empresa dele está aberta. Criamos aqui na associação um elemento chamado “Pacto por Anápolis”, chamamos todas as entidades representativas do município e vamos apresentar ao prefeito. Foi combinado que seria apresentado agora na segunda quinzena de janeiro para dar um tempo de ele assumir a Prefeitura. Serão apresentadas demandas e sugestões. Nós não estamos cobrando, estamos mostrando o caminho. Um exemplo: é possível conceder o alvará de licença e funcionamento em três dias para uma empresa começar a funcionar. Para a construção civil em uma semana é possível. Como? A gente estará apresentando propostas e sugestões para o prefeito. 90% dos entraves que estão travando nosso crescimento são burocráticos, dependem de vontade política.

No que a associação pode contribuir com o novo governo, que não pôde na gestão anterior?

Anastácios – Na gestão anterior nós fomos ouvidos, não fomos atendidos. É uma mágoa que nós temos. Fomos ouvidos várias vezes, mas não fomos atendidos. Com o prefeito Roberto Naves nós esperamos que seja diferente. Fomos ouvidos também e ainda não fomos atendidos. Vamos entregar o “Pacto por Anápolis” ao prefeito e estaremos cobrando. Daí para frente vamos saber se essa parceria vai render frutos para o município.

Tem pouco dias que o Roberto assumiu a prefeitura. Quais pontes já foram estabelecidas entre a ACIA e a nova gestão?

Anastácios – Está muito cedo. A ponte que nós temos é um bom relacionamento inicial com o prefeito. Ele vai nos receber com a apresentação do “Pacto por Anápolis” e nós estamos dando um tempo para ele. Nós estamos acompanhando, torcendo e vamos ajudá-lo. É isso que vamos fazer.

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE) ainda está sem gestor definido. Em breve o prefeito enviará para a Câmara votar em sessão extraordinária um texto refazendo o organograma da Prefeitura, extinguindo secretarias. A ACIA considera importante a existência da SMDE? O fato dela ainda não ter um titular atrapalha o seu pleno funcionamento?

Anastácios – A cidade de Anápolis precisa de uma secretaria que trace planos para seu desenvolvimento. O nome não é importante

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