Quem é e o que pensa padre de Anápolis que está sendo processado por Antônio Gomide

"Não sou famoso. O vídeo viralizou porque é o que todo mundo tinha vontade de falar", desabafa o religioso em entrevista exclusiva ao Portal 6

Rafaella Soares Rafaella Soares -
Padre Genésio. (Foto: Reprodução)

Genésio Lamunier Ramos tem 40 anos, cresceu em família humilde e renunciou a vida secular para viver como sacerdote na Paróquia Nossa Senhora D’Abadia, em Souzânia, distrito de Anápolis.

Não tem redes sociais e usa no celular apenas o WhatsApp para resolver questões da igreja e se comunicar com fiéis e amigos.

Há alguns dias, mais precisamente após uma missa no dia 17 de outubro, o padre ficou conhecido no município após a viralização de um vídeo, gravado por um fiel, em que ele conta porque “se curou do PT”.

Depois de tanta repercussão, o religioso decidiu gravar novos conteúdos, que igualmente circulou nas redes sociais. Subiu ainda mais o tom, questionando as ações do partido e a candidatura de Antônio Gomide para Prefeitura.

Surpresa

Para o padre, o resultado da disseminação das falas, tanto dentro quanto fora da igreja, foi inesperado. É que no intervalo da gravação dos vídeos, ele foi processado três vezes.

“O primeiro processo foi contra o Facebook e eu sou o segundo nome citado por conta de um vídeo que gravaram. Não foi no sermão, foi nos avisos [finais]. Os advogados [de Gomide] alegam que o templo tem concessão publica para o culto a Deus e não outra finalidade. Se eu tivesse cultuando ao ‘deus Lula’, como já fiz no passado, não processariam. O Gomide em Anápolis é seu profeta”, afirmou em entrevista exclusiva ao Portal 6 na tarde desta terça-feira (27).

“Antes de ser notificado, eu já tinha gravado um segundo vídeo. Eu não sou famoso. O vídeo viralizou porque é o que todo mundo tinha vontade de falar. Antes da notificação, gravei na porta da igreja. Tinha sido orientado a não gravar dentro. Processaram de novo como se fosse reincidente. Depois fui processado na Justiça comum, sob alegação que eu comprometi a imagem dele e [agora estão] pedindo indenização de R$ 20 mil”, acrescenta.

Defesa de graça

Se engana quem pensa que os processos amedrontaram o líder espiritual. Segundo ele, o objetivo é usar o momento como uma oportunidade para “dar voz àqueles que estão cansados dessa mordaça e agenda contra a fé cristã”.

“Para mim, o que falei foram cócegas perto do que eu gostaria de falar e que a população não aguenta. A igreja teve um papel importante na elevação do Lula, agora temos a reponsabilidade de dizer a verdade. Nós erramos e temos de impedir que ele volte. O alvo não é o Gomide ou o PT em Anápolis, é o Brasil”, sustenta.

Os processos contra o padre também despertou a ‘vontade de ajudar’ em muita gente. Conforme disse ao Portal 6, além da repercussão com a população em geral, mais de 20 advogados se ofereceram para fazer a defesa dele de graça.

“Sinto alegria de servir essa causa. É o tipo de batalha que gosto de lutar. Minha vida está à disposição de Deus e dos filhos de Deus. Não falo só para católicos. Falo para pessoas de boa vontade, que estão cansadas de trabalhar tanto pagar impostos caros e não ter retornos”, conta.

Apoio da igreja

Questionado pela reportagem se havia recebido apoio de outros padres, Genésio afirmou que diretamente não houve manifestações, mas nos bastidores, não soube de ninguém que desaprovou a atitude dele.

A Diocese de Anápolis, inclusive, colocou uma equipe jurídica à disposição do líder religioso para auxiliar na defesa dos processos.

“Soube que não houve nenhum padre contrário.  Sei que rezam. Também tem pessoas que oram e rezam por mim. São atitudes bastante bonitas, louváveis. Tem pastores orando por mim nas igrejas. Mas não tenho essas vaidades. Sou padre do interior, de condição humilde e fico feliz pela notoriedade como meio de divulgar a palavra de Deus”, sustenta.

“Não acionei [a equipe jurídica da Diocese] porque quem está falando é o CPF próprio, não a igreja. Embora eu esteja vinculado à igreja, a iniciativa é minha e a responsabilidade é minha”, justifica.

A ‘cura do petismo’

O líder religioso lembra que foi por um tempo seguidor do ex-presidente do Lula e votou em Antônio Gomide em eleições passadas. Mas reafirma, assim como havia dito em vídeo, que agora “está curado”.

“É mais fácil fácil descobrir a cura da Covid-19 do que se curar do petismo. Dá muito trabalho. Tem que ter dois ingredientes: graça de Deus e razão humana. Deus colocou um padre na minha vida para quem eu falei que era conservador para o mundo de hoje e ele virou meu amigo. Eu falava, ele dizia outra coisa. Teve um ano ministrando, confrontando, e me curei”, conta.

“Tem que ter honestidade intelectual e boa vontade, para questionar, debater e refletir. Uma vez curados, curados para sempre. A vacina é tão boa que tem um exemplo aqui de pessoa que deixou aquela bandeira”.

Jejum e oração

No próximo domingo (1º) é comemorado entre os católicos o Dia de Todos os Santos. Por isso, o padre Genésio contou que está convocando todos os cristãos, até mesmo de outras denominações, para orar e jejuar pela cidade.

“Não importa o nome do padre e sim as nossas causas, a fé, a liberdade de expressão, o amor sincero a essa cidade, sua história, tradições, empresas, seu mercado e essa gente, que acolhe quem vem de fora”, defende.

Debate

Agora, tendo uma equipe boa de advogados e tão perto das eleições, o líder religioso espera ter a oportunidade de conversar pessoalmente com Antônio Gomide para falar sobre as propostas para a cidade.

Genésio também quer utilizar os dias que antecedem o primeiro turno das eleições para conversar com as pessoas, saber quais os problemas e levá-las a pensar que, em um cenário que abrange nove candidatos ao cargo mais importante da cidade, o voto é importante e deve ser bem analisado.

“Estou pronto. Não tenho medo de conversar, mas [o Gomide] não compareceu nem no debate, não dá firmeza para o eleitor. Reconheço que o candidato fez coisas boas, mas agora está pagando advogado com meu dinheiro também [dinheiro público] e não posso questionar”, afirma.

“Ele não chama o povo para um debate, não expõe as ideias, passa imagem de uma pessoa inconstante, não termina o que começa. Eu proponho ao senhor Gomide que reúna padres e pastores, que converse conosco ainda no primeiro turno, com hombridade e cabeça erguida”, desafiou.

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