Brasil tem o desafio de reverter o prejuízo na educação causado pela pandemia
Uma reportagem publicada no Portal 6 mostra uma situação preocupante para nossos jovens: 41% dos alunos matriculados em instituições públicas de ensino superior em Goiás tiveram o aprendizado prejudicado por causa da pandemia da Covid-19, que levou à suspensão das aulas presenciais por longos meses em 2020 e 2021. São alunos com pouco ou nenhum suporte para estudar em casa, geralmente de baixa renda, e que perderam um tempo precioso numa das etapas mais decisivas na vida de um indivíduo.
A pesquisa foi feita com 7,2 mil estudantes do Instituto Federal de Goiás (IFG), Universidade Estadual de Goiás (UEG) e Universidade Federal de Goiás (UFG) e coloca em vidência o quanto a desigualdade social dificulta a justa competição no mercado de trabalho. Cerca de 70% dos alunos das instituições públicas de ensino superior vêm de famílias de baixa renda e contavam com as estruturas que são oferecidas nas universidades para poderem estudar com qualidade. Estamos falando de pessoas que não têm, por exemplo, um acesso adequado à internet em casa e nem um ambiente adequado para a aprendizagem.
O Brasil, de uma forma geral, falhou ao não instituir uma estratégia universal de ensino para o enfrentamento da pandemia que reduzisse os danos do ponto de vista do atraso educacional. É fato que a pandemia pegou o mundo de surpresa e não é razoável imaginar que problemas estruturais da nossa educação seriam corrigidos em meses somente pela vontade dos agentes públicos. Muito menos seria o caso de colocar em risco estudantes e profissionais da educação com aulas presenciais nos momentos mais críticos da pandemia. Mas também é evidente que a situação virou praticamente um “cada um por si”, com as instituições de ensino, tanto públicas quanto particulares, adotando suas próprias políticas para tentar superar as dificuldades trazidas pela Covid-19.
A situação é semelhante na rede pública de ensino fundamental. Outro levantamento, feito por técnicos dos tribunais de contas de todo País, com o apoio do Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa (CTE-IRB), apontou que mais de 450 mil alunos entre o 5º e o 9º anos ficaram sem atividade remota por mais de um ano durante a pandemia. Isto representa cerca de 15% do total de crianças nesta fase. A tendência, no entanto, é que a realidade seja bem pior, já que alguns tribunais não conseguiram levantar os dados da evasão.
Quem já lecionou, como é meu caso, sabe o quanto esse hiato nos estudos pode ser prejudicial para o aprendizado, especialmente das crianças, e o quanto o ambiente interfere no desempenho dos estudantes. É algo simples de mostrar. Em Goiás, as escolas de tempo integral tiveram em 2019 (antes da pandemia, portanto) uma pontuação 63% maior do que as escolas regulares, de acordo com dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Enquanto as escolas de tempo parcial em Goiás tiveram pontuação média de 4,7 em 2019, as escolas de tempo integral tiveram média de 5,3 no mesmo ano. É o óbvio: quanto mais tempo o aluno passa na escola, melhor seu desempenho. Diferença que geralmente fica muito maior quando se trata do estudante de baixa renda, que geralmente não tem em casa as melhores condições para o estudo.
Mesmo com a pandemia aparentemente mais controlada hoje e a vida retornando a uma quase normalidade, essa questão do déficit educacional ainda não está resolvida. Os governos e entidades da área da educação vão precisar de elaborar e colocar em prática durante anos medidas para compensar esse atraso provocado pela pandemia. O sucesso das escolas de ensino integral pode ser um norte e ampliar o modelo pode ser uma das primeiras ações pela frente.
Márcio Corrêa é empresário e odontólogo. Preside o Diretório Municipal do MDB em Anápolis. Escreve todas as segundas-feiras. Siga-o no Instagram.
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