Novo Plano Diretor pode deixar insustentável a vida de quem vive nos bairros nobres de Goiânia
Principal impacto será incentivado pela extinção da outorga onerosa. Portal 6 também ouviu profissional que fala sobre o comprometimento da qualidade de vida caso o documento vire lei
Imagine a cena: uma série de prédios imensos, colados um após o outro. Pouca circulação de ar, mais sombra que iluminação solar, mobilidade descompensada com carros e mais carros nas vias, além de calçadas não adequadas para prática de caminhadas e poucas árvores. Mais do mesmo de uma selva de pedras.
O cenário hipotético pode ser o futuro em médio prazo de bairros nobres de regiões de Goiânia como Marista, Bueno, Alto da Glória, Serrinha e Oeste caso tudo o que está proposto no Plano Diretor (PD) da capital (cuja audiência pública está prevista para o próximo dia 31) seja aprovado como proposto pela Câmara Municipal de Goiânia.
A lógica parte do pressuposto que há muito mais permissividade para amplitude de áreas construídas por metro quadrado no documento proposto. Na prática, atualmente, pode-se construir seis vezes o tamanho de uma área pagando-se a chamada “outorga onerosa”. Caso o documento seja aprovado, esse limite sêxtuplo de área nem precisará passar pelo aval da Prefeitura.
Para exemplificar, é como se os casarões antigos do Marista fossem demolidos um a um e prédios, sem limites de extensão vertical, fossem brotando nesses lugares dando uma nova ‘cara’ a cidade.
E o impacto mais severo de tudo isso seria o comprometimento da qualidade de vida. É isso o que aponta a presidente da Associação para Recuperação e Preservação Ambiental (ARCA), a arquiteta e urbanista, Maria Ester de Souza.
“É anti-sustentável, anti-cidade é um Plano Diretor feito para a construção civil ter lucro”, diz. O plano de mobilidade é outra falha, explica ela.
“Não se pensa a cidade para circular por dentro dos bairros. Entende-se que se passa ônibus, pode-se ir construindo”, reclama.
Maria Ester lembra ainda que o adensamento populacional pode gerar insegurança em pontos considerados essenciais, como água, energia e até internet.
“Se hoje estamos vivendo com total insegurança nessas áreas o que será feito com mais e mais pessoas numa só área?”, pondera.
Meio Ambiente
O reconhecimento de Goiânia como metrópole verde pode ir por terra abaixo não só pela possível busca desenfreada de construções imensas em áreas que geram micro clima e qualidade do ar, como também por outros pontos que podem imprimir maior força a esse retrocesso: a região do Goiânia 2 e Parque Amazônia.
“Essas são outras duas preocupações, por que estão permitindo receber edifícios de forma liberada e, no caso do Goiânia 2, em área de preservação ambiental”, explica.