Polícia apura suposto racismo em loja da Renner em Salvador

Vítima até fraturou o pé e polícia vai investigar se houve racismo contra cliente

Folhapress Folhapress -
Fernanda Rodrigues dos Santos, 42, desmaiou em loja da Renner em Salvador – (Foto: Arquivo pessoal)Polícia apura suposto racismo em loja da Renner em Salvador
Fernanda Rodrigues dos Santos, 42, desmaiou em loja da Renner em Salvador – (Foto: Arquivo pessoal)

(FOLHAPRESS) – A Polícia Civil da Bahia abriu inquérito para investigar a abordagem de um segurança contra uma mulher negra, que foi acusada de furto na loja da Renner do shopping Bela Vista, em Salvador. O inquérito da 11ª Delegacia Territorial apura a prática de crime de racismo contra a cliente.

O caso ocorreu na última sexta-feira (20), mas veio a público dias depois, quando imagens da cliente começaram a circular nas redes sociais. Fernanda Rodrigues dos Santos, 42, que relata ter sido vítima de racismo, fraturou o pé esquerdo após desmaiar na loja. Ela afirma ter sofrido um pico de pressão alta.

Por meio de nota, a Renner informou que apurou o incidente imediatamente, conforme os protocolos para relatos de casos de discriminação, mas que, após verificar as imagens e analisar os fatos, não encontrou evidências das acusações relatadas em relação ao suposto racismo.

Recepcionista de um laboratório no bairro Cabula, próximo ao shopping, Santos havia ido ao shopping para se encontrar com a irmã, que estava em horário de almoço. Após a irmã retornar ao trabalho, Santos ficou sozinha no centro de compras.

Após pesquisar preços em duas lojas de departamento, conta que entrou na Renner para comparar valores. “Enquanto eu olhava as peças, o segurança abordou uma mulher que havia furtado perfumes. Pouco depois, quando eu saía da loja, ele me acusou de cúmplice dela e mandou eu vazar [deixar o local]”, disse a cliente à reportagem.
Segundo ela, por volta das 14h30, o segurança recebeu uma mensagem pelo rádio e seguiu para a área restrita a funcionários. “Fui atrás dele, mas passaram-se cerca de 40 minutos sem ninguém aparecer”, diz.

A cliente ligou então para a irmã, que voltou do trabalho para ajudá-la. Somente depois da chegada da irmã, conta, uma funcionária da loja apareceu para dar explicações, mas informou não saber onde estava o segurança.

“Não podia sair dali sem limpar minha imagem, já estava trêmula. Enquanto conversávamos, tive um pico de pressão. Desmaiei com o rosto no chão. Na queda, fraturei o pé”, lembrou. “Nem sequer fui atendida pela loja, mas pelos brigadistas do próprio shopping.”

Na opinião dela, pesou na abordagem o fato de ela ser uma mulher negra, o que não ocorreu com outros clientes que continuaram na loja após a abordagem da suspeita de furto. “Não tenho nenhuma dúvida. Ele [de pele clara] achou que o negro na loja pode roubar.”

Para o advogado Marcos Alan Hora, que representa a recepcionista, a situação caracteriza a prática de crime de racismo, discriminação, além de calúnia, motivos pelos quais a defesa deverá buscar a responsabilização da loja e a reparação à recepcionista. “O que a loja está tentando construir é uma narrativa de falsa verdade em relação ao ocorrido. A gente espera que a polícia realize a devida apuração.”

Em nota, a Renner diz que “lamenta toda a situação e reforça aos seus clientes e ao público em geral seu comprometimento com a promoção da igualdade racial. Praticamos esses valores em nosso dia a dia.”

A marca informa dispor de uma agenda de treinamentos sobre relações étnico-raciais, trabalhando de forma muito próxima com as entidades e iniciativas representativas, como o Movimento pela Equidade Racial (Mover) e o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR).

“Temos 32% do nosso quadro de líderes formado por pessoas negras e a meta pública de aumentar esse número para 50% até 2030. Essas ações reforçam o nosso compromisso na luta antirracista, bem como o respeito e a equidade que aplicamos em todas as nossas relações”, diz a nota da empresa.

A marca comunicou, ainda, estar disposta a colaborar com as autoridades na investigação.

Por causa da fratura no pé, comprovada em exame médico no dia seguinte ao fato, Santos deverá ficar afastada do trabalho por 14 dias. “Eu nunca passei por uma situação dessas. Estamos muito abaladas, eu e minha filha de 13 anos.”

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