Cartazes espalhados em campus da Unesp de Bauru denunciam assédio de professor
Universidade não disse se foi feita alguma denúncia recente contra o docente na ouvidoria da instituição
Cartazes com denúncias de assédio sexual contra um professor foram espalhados no campus da Unesp de Bauru, no interior de São Paulo, na manhã desta sexta-feira (1º). Os banners trazem mensagens que teriam sido enviadas pelo docente.
Os cartazes foram colocados em frente ao prédio da Faac (Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design), onde trabalha o professor, que dá aulas de literatura e língua portuguesa no curso de comunicação social.
Nenhum coletivo ou grupo de estudantes reivindicou a autoria do protesto. A Folha tentou contato com o docente, mas ele não atendeu os telefonemas nem respondeu mensagens enviadas para o celular e pelas redes sociais.
Ao G1, o professor negou as acusações e disse ser vítima de calúnia.
Algumas das mensagens que aparecem nos cartazes são de 2018, e o restante não tem identificação da data.
Procurada, a Unesp não disse se foi feita alguma denúncia recente contra o docente na ouvidoria da instituição.
Em nota, a direção do campus da Unesp de Bauru disse que está “atenta e acompanhando as manifestações que circulam nas redes sociais e em cartazes dentro do campus referentes à conduta inadequada por parte de um dos seus docentes”.
A instituição afirmou que não tolera qualquer prática de assédio e que “não medirá esforços para colaborar com as soluções de qualquer fato oficialmente demandado tomando as medidas cabíveis, seguindo os protocolos administrativos com ética, responsabilidade e transparência”.
Bulhões já tinha sido denunciado por assédio sexual em 2017. Na ocasião, a universidade instaurou uma sindicância administrativa, que foi finalizada em 2018, com a decisão de arquivamento dos autos.
À época, a comissão que avaliou as denúncias, feitas por 12 alunas e ex-alunas do professor, fez uma recomendação de que o docente “venha captar as mudanças sociais e comportamentais da sociedade, para a devida adequação no ambiente de trabalho, abandonando eventuais atitudes ambíguas de tratamento pessoal com os alunos”.
Depois do período de afastamento para a apuração das denúncias, Bulhões voltou a dar aulas na Faac.
A Folha conversou com três ex-alunas que relatam ter sofrido assédio do professor. Elas pediram para não ser identificadas.
Uma delas contou que, quando estava no primeiro ano do curso de jornalismo em 2019, logo após o arquivamento das denúncias contra Bulhões, o docente tentou passar a mão em seus seios durante uma aula.
Outra ex-aluna conta ter sido vítima de situações mais recorrentes de assédio do professor. Ela foi uma das 12 mulheres que protocolaram a denúncia contra o professor na universidade.
A jornalista, hoje com 29 anos, conta que as situações de assédio começaram quando estava no primeiro ano do curso, em 2011, e se estenderam durante toda a graduação.
Ela conta que o professor a chamava de “linda” na frente de outros estudantes, passava a mão em seus cabelos e a dava abraços quando a encontrava nos corredores da universidade.
Em outra ocasião, em 2013, quando já não tinha mais aulas com Bulhões, ela encontrou o professor em um bar próximo da universidade. Na ocasião, ele a convidou para tomar vinho em sua casa e ela recusou. Alguns dias depois, o docente a enviou um email, usando o endereço institucional da Unesp, em que diz ter gostado de ver seu sorriso.
Ela conta ter tido dificuldade para denunciar o assédio, já que a situação era normalizada por professores e colegas do curso.
Uma outra estudante relatou que Bulhões também a tocava de maneira invasiva nos corredores da universidade e uma vez enviou mensagem a convidando para tomar vinho.
Em março de 2018, antes da conclusão da sindicância, alunas dos cursos de jornalismo, relações públicas e rádio e TV fizeram um protesto contra o professor durante uma cerimônia de formatura, pedindo punição pelos casos de assédio denunciados.
Veja a nota de Marcelo Bulhões na íntegra: “Foi com estarrecimento que fiquei sabendo que cartazes foram afixados no campus com teor acusatório a mim. Estou ainda chocado. De modo semelhante, foi com enorme e desagradável surpresa que em 2019, em postagem no Facebook, recebi uma acusação de assédio.
Naquela altura, ao tomar conhecimento que um coletivo da Unesp havia feito acusações com esse teor, solicitei uma reunião com o grupo de alunas. Elas recusaram o diálogo. Solicitei essa reunião por, naquela altura, estar totalmente perplexo diante das acusações.
Uma comissão de sindicância foi, então, constituída pela FAAC – Unesp. Após um processo de investigação, o arquivamento do processo se fez precisamente por afiançar que nenhuma ação do teor de assédio foi por mim cometida. No curso do processo, aliás, recebi depoimentos de incondicional apoio e elogio ao meu profissionalismo, escrito por dezenas de alunas que foram minhas orientandas (mestrado, doutorado e iniciação científica). Portanto, só posso afirmar que estou absolutamente estarrecido diante de uma situação que julgo absurda.
Os cartazes, aliás, foram anonimamente forjados e afixados no campus. Sou docente da Unesp desde 1994, ou seja, trata-se de 28 anos de trabalho em sala de aula, tendo atuado ao lado de milhares de alunos, sem que qualquer mínimo indício concreto do que se pode ser classificado como assédio possa ser apontado. Atingem-me do modo mais vil.
Entendo que legítimas e importantes demandas da atualidade -luta contra o racismo, movimento feminista- têm produzido uma mobilização de empatia diante de causas importantes. Nesse caso, todavia, estou sendo vítima de calúnia, cuja propagação em tempos digitais é implacável”.