Rompimento de geleira que matou 7 é consequência de mudanças climáticas, diz premiê da Itália
Tragédia aconteceu neste domingo na montanha Marmolada, a maior da cadeia das Dolomitas
O desprendimento de uma geleira nos Alpes italianos que provocou uma avalanche e deixou ao menos sete pessoas mortas foi consequência da degradação do meio ambiente e das mudanças climáticas, afirmou nesta segunda-feira (4) o premiê da Itália, Mario Draghi, durante visita à região.
A tragédia aconteceu neste domingo na montanha Marmolada, a maior da cadeia das Dolomitas. Imagens registradas de um abrigo próximo mostram como neve e rocha começam a cair da montanha.
Outros registros exibem a avalanche arrastando tudo no caminho. Pelo menos oito pessoas ficaram feridas.
“Essa tragédia certamente tinha um elemento de imprevisibilidade, mas também está relacionada, sem dúvida, à degradação do meio ambiente e à situação climática”, afirmou Draghi, que esteve na cidade de Canazei, perto de onde sai o teleférico que leva ao topo da geleira.
O premiê se reuniu com socorristas que fazem buscas por ao menos 14 desaparecidos. Mas, nesta segunda, o chefe dos serviços de resgate, Giorgio Gajer, admitiu que as esperanças de encontrar sobreviventes são quase nulas. Entre os feridos, dois estão em estado grave e sob cuidados intensivos.
Pelo menos três italianos e um tcheco foram atingidos pela avalanche e não resistiram aos ferimentos, segundo a imprensa local. As nacionalidades das outras vítimas não foram divulgadas. “Encontramos alguns corpos mutilados entre a pilha de gelo e detritos espalhados por uma área de mais de mil metros”, disse Gino Comelli, que faz parte das equipes de resgate, segundo o jornal italiano Corriere della Sera.
O desastre aconteceu um dia após o registro da temperatura recorde de 10°C no topo da geleira. Helicópteros continuam sendo usados nas operações de resgate e monitoramento. Autoridades afirmam que a área é perigosa para os socorristas, que não podem avançar a pé.
Em linha com Mario Draghi, o professor Massimo Frezzotti, do departamento de Ciências da Universidade Roma, disse à agência AFP que o colapso da geleira “é consequência das condições climáticas atuais, ou seja, de um episódio de calor antecipado que coincide com o problema do aquecimento global”.
O papa Francisco escreveu no Twitter que “as tragédias que estamos vivendo devido à mudança climática devem nos encorajar a buscar buscar urgentemente novos meios que respeitem as pessoas e a natureza”.
O engenheiro Stefano Dal Moro estava na geleira com um amigo israelense no momento do rompimento e disse ser um milagre o fato de estarem vivos. “Ouvimos um barulho e, naquele momento, um mar de gelo se soltou. Não adiantava correr, só rezar”, disse ele ao italiano Corriere della Sera.
A geleira Marmolada, apelidada de “rainha das Dolomitas”, é a maior da cordilheira no norte da Itália. A velocidade da avalanche foi de aproximadamente 300 km por hora, segundo cálculos de especialistas.
De acordo com relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) divulgado em março, o derretimento do gelo e da neve é uma das dez principais ameaças causadas pelo aquecimento global, perturbando ecossistemas e ameaçando infraestruturas. O painel alertou que as geleiras da Escandinávia, Europa Central e Cáucaso podem perder de 60% a 80% de massa até o final deste século.
Também nesta segunda, a Itália declarou estado de emergência para áreas ao redor do rio Pó, o maior do país e que enfrenta a pior seca em 70 anos. O decreto do governo permitirá que autoridades tomem medidas imediatas caso necessário, como impor o racionamento de água para residências ou empresas.
O rio Pó percorre mais de 650 km no norte da Itália e tem trechos secos. Agricultores dizem que o fluxo é tão fraco que a água do mar está se infiltrando no interior e destruindo as plantações.
A Itália vem registrando altas temperaturas desde o início de junho. Em Milão, apagões de energia foram provocados no mês passado pelo aumento do uso de ar-condicionado, afetando pontos turísticos como o Duomo, que ficou sem elevador para acesso ao topo da catedral.