Na sala ali ao lado, temos um encontro marcado

Pode parecer de mau gosto escolher esse tema no último texto do ano, mas uma das maneiras mais eficazes de olhar pra vida e valorizá-la, é pensarmos sobre o fim

José Fernandes José Fernandes -
Na sala ali ao lado, temos um encontro marcado
(Foto: Ilustração / José Fernandes)

Bom dia morte! É assim que as vezes tem início meu dia de trabalho. A morte está me esperando na sala ao lado, onde no mínimo uma vez por semana temos um encontro. Idades distintas, histórias trágicas, finais tristes. A verdade é que em todas as situações chegam no mesmo lugar. Na sala ali ao lado.

Hoje não foi diferente. O dia amanheceu chuvoso e recebo a ligação de que um amigo médico morreu afogado e caberia a mim a difícil missão de fazer a necropsia dele. Fiquei realmente triste com a notícia e de imediato lembrei-me do texto que escrevi nesse espaço no dia da morte da cantora Marília Mendonça há um ano.

Momentos mais tarde, em que pese a dor da família enlutada que cumprimento com sinceros pêsames, fiquei aliviado ao saber que a ocorrência se tratava de uma outra pessoa, que tinha o mesmo nome e a mesma profissão.

Pode parecer de mau gosto escolher esse tema no último texto do ano, mas uma das maneiras mais eficazes de olhar pra vida e valorizá-la, é pensarmos sobre o fim.

Estamos no final do ano! Seja sincero e faça uma retrospectiva pessoal sobre a sua vida nesse período. Hoje o susto da morte, que está ali na sala ao lado, foi seguido de um alívio ao saber que o amigo estava vivo. No telefonema, o cumprimentei e disse o quanto foi bom ouvir a voz dele e o desejei um super ano novo.

No texto citado anteriormente e escrito aqui há um ano, comentei sobre como nos tornarmos seres humanos melhores. De que forma? Usando palavras uns aos outros que não ofendam e gerem confusão, escolhendo bem as pessoas do nosso convívio e perdoando mais.

Quero ir mais além. Superem o orgulho e a indiferença com as pessoas e faça ainda esse ano um contato com alguém que você está distante. Amanhã a morte poderá te encontrar.

Finalizo citando as últimas palavras escritas na carta que estava no bolso de Van Gogh, famoso pintor holandês, após supostamente receber um tiro de arma de fogo: “Já que tudo está indo bem, por que eu deveria insistir em coisas de menor importância?”

Desejo que nesse próximo ano, todos tenham consciência do que é importante e tenham uma vida abundante.

É isso!

José Fernandes é médico (ortopedista e legista) e bacharel em direito. Atualmente vereador em Anápolis pelo MDB. Escreve todas às sextas-feiras. Siga-o no Instagram.

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