“Quem já não toma zolpidem chega ao meu consultório pedindo a receita”, alerta neurocirurgiã goiana
Segundo especialista, tratamento usual do medicamento é de seis meses a um ano, com acompanhamento psicológico e mudanças nos hábitos
“Quem já não toma zolpidem chega ao meu consultório pedindo a receita”, afirma a neurocirurgiã, Ana Maria Moura. A média de caixas vendidas do indutor de sono por mês em 2020 foi de 1,94 milhão, a maior até então, segundo a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
Os números continuam acima da média dos últimos dez anos, que é de 902,5 mil. Em 2021, foi vendido 1,58 milhão de caixas. Para a especialista, o que motiva a popularização do medicamento é o estilo de vida atual.
“Hoje, a tecnologia está violentamente rápida. Somos expostos a muitas informações que precisamos reter, o que já nos deixa ansiosos. Além disso, temos a exposição prolongada em tela e as sequelas da Covid-19”, exemplifica a médica, que atende pessoas todos os dias com problemas de memória, ansiedade e depressão que tiveram início após a contaminação.
“Tudo isso é estressante. Quando a pessoa vai deitar, ela não consegue desacelerar”, afirma. Neste cenário, o aumento pela busca de soluções mágicas intensificou, assim como o uso incorreto, como é o caso do zolpidem.
Segundo Ana Maria, o tratamento usual do medicamento é de seis meses a um ano, com acompanhamento psicológico e mudanças nos hábitos para proporcionar um estilo de vida mais balanceado. No entanto, o que a neurocirurgiã vem notando em Goiás é a tendência de indisposição de soluções efetivas, além do abandono do acompanhamento e uso por prazo indefinido do zolpidem.
Como resultado, o vício se instaura. São necessárias dosagens cada vez mais altas e o usuário não consegue parar. Isso porque, para além da dependência química, ele desenvolve a dependência psicológica. Isto é, acredita que não consegue dormir sem, explica.
“A maior parte dos fabricantes mudaram a embalagem para que ela seja difícil de abrir e a pessoa precisa acordar de fato se quiser tomar. O que acontecia muito era que ela caía no sono, acordava por causa do estresse e, no escuro e sem consciência, tomava várias pílulas”, aponta Ana Maria.
Entre os efeitos do abuso do medicamento, a especialista destaca quadros de psicose. “Pode causar alucinação, o usuário pode não reconhecer as pessoas, pode ser agressivo… Eles se tornam perigosos. Eles fazem coisas que não vão se lembrar, então fazem o que vem à cabeça”, explica.
O perfil mais propenso a desenvolver o vício é de pessoas que não querem mudar o estilo de vida em prol da saúde do sono, com foco nos homens de 35 a 55 anos, segundo a médica.