Entenda por que a avaliação cardiológica é necessária antes, durante e depois da gravidez
As doenças cardiovasculares são a principal causa de óbito não-obstétrico durante a gestação
A avaliação multidisciplinar, com ginecologista e cardiologista, desde o início do desejo de engravidar, é de extrema importância tanto para a gestante quanto para o bebê. Esse acompanhamento deve ser mantido durante a gestação e também após o parto.
Sabemos que há um aumento das doenças cardiovasculares na população mundial. Logo, vem crescendo esse número também na gestação, devido aos seguintes fatores:
– aumento da prevalência dos fatores de risco cardiovascular na população;
– à elevação da idade em que as mulheres têm a primeira gestação;
– ao melhor manejo das cardiopatias congênitas.
As doenças cardiovasculares são a principal causa de óbito não-obstétrico durante a gestação. Embora a presença de doenças cardíacas na gravidez ocorra em apenas 1% a 4% das mulheres.
As alterações fisiológicas que ocorrem na gravidez podem alterar tanto algumas propriedades das medicações, como sua absorção, afetando tanto a mãe como o feto.
Quais as principais alterações fisiológicas da gravidez?
– Início da gestação: ocorre ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona pelo hormônio estrogênio, ocasionando retenção de sódio e água e um aumento de 40% do volume plasmático. Para acomodar esse volume maior de líquido, ocorre vasodilatação e remodelamento vascular, acarretando redução da resistência vascular sistêmica e pulmonar (relaxina, prostaciclina e óxido nítrico são responsáveis por esses efeitos) com consequente redução da pressão arterial.
– Durante a gravidez: ocorre aumento de 10-20 bpm da frequência cardíaca. Esses efeitos levam ao aumento de 30-50% do débito cardíaco;
– Durante o trabalho de parto: ocorre elevação de catecolaminas, aumento de frequência cardíaca e incremento aproximado de 500 ml de sangue na circulação a cada contração uterina;
– No pós-parto imediato: o incremento de volemia pela autotransfusão que ocorre pela placenta, e o aumento de retorno venoso garantido pela descompressão da veia cava inferior elevam a pressão venosa central. O débito cardíaco nesse momento chega a aumentar em até 80% comparado aos valores pré-gestacionais;
– As pacientes estão mais vulneráveis às complicações cardiovasculares durante o trabalho de parto e no pós-parto imediato devido às grandes alterações hemodinâmicas.
Quais doenças mais relacionadas?
No Brasil, a doença reumática é a causa mais frequente de cardiopatia na gravidez e sua incidência é estimada em 50% das cardiopatias em gestantes.
A síndrome hipertensiva da gestação – considerada um grave problema de saúde pública -, que acomete de 5 a 10% das gestantes em todo mundo.
Surge nos últimos seis meses de gravidez, pode haver o aumento da pressão arterial, edema, inchaço dos membros inferiores e alteração em exames, como aumento de ácido úrico.
-Quais outros fatores estão relacionados às cardiopatias em grávidas?:
Hipertensão pulmonar, fibrilação atrial, antecedentes de tromboembolismo e endocardite infecciosa (infecção por micro-organismos, tanto bactérias quanto fungos, no coração).
Quais os fatores de risco para cardiopatias?
* Sedentarismo
* Má alimentação;
* Tabagismo
* Estresse;
* Obesidade.
Quais sintomas e sinais de cardiopatias na gestação?
* falta de ar por esforço ou ao dormir;
* palpitações;
* cansaço excessivo;
* dores no peito após esforço;
* pele arroxeada e ruídos respiratórios.
Há riscos de má formação?
Para o bebê de uma mãe cardiopata, o risco de má-formação, mortalidade e morbidade também é aumentado.
Por isso, é importante que a gestante portadora de cardiopatia congênita seja submetida ao ecocardiograma fetal em torno da 20.ª semana de gravidez, além do exame morfológico para se chegar a um diagnóstico precoce, e exames de vitalidade fetal, como dopplerfluxometria.
Quais são os riscos na gravidez em mulheres cardiopatas?:
• Trabalho de parto prematuro
• Restrição de crescimento do feto
• Alterações da vitalidade fetal
• Bolsa rota (quando rompe a bolsa gestacional e há perda de líquido amniótico)
Assim, a avaliação cardiológica antes e durante e após a gestação é de extrema importância, tanto a avaliação clínica, laboratorial e com exames de imagens para melhor ajudar e definir o diagnóstico, e com o tratamento precoce reduzir os riscos cardiovasculares da gestante e do bebê.
Rizek Hajjar Gomides é médico, formado pela Uniceplac – Brasília. Especialista em Clínica Médica pelo Hospital IGESP – SP. Especialista em Cardiologia pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – InCor. Fellow em CardioOncologia pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – ICESP e InCor. Tem consultório próprio em Brasília e escreve no Portal 6. Siga-o no Instagram: @rizekhajjar