Acusado de deixar jovem de Anápolis paraplégico após jogo entre Corinthians e Palmeiras vai a júri popular

Confusão teria se iniciado por conta de desavenças relacionadas a futebol e vítima foi alvo de três disparos, com um deles lhe atingindo a coluna

Davi Galvão Davi Galvão -
Apesar da dor, Bruno encontrou no esporte um meio para superar as dificuldades. (Foto: Arquivo Pessoal)

Última rodada do Brasileirão de 2011. Corinthians contra Palmeiras.  Muitos em Anápolis pararam para assistir à disputa, incluindo o jovem Bruno Makey de Oliveira Botelho, à época com 22 anos. Quando saiu de casa, ele sequer podia imaginar que jamais voltaria a andar, após ser vítima de um atentado a tiros que quase lhe custou a vida.

Logo ao fim da partida, em uma confusão iniciada por rivalidades esportivas, Bruno foi vítima de três disparos de arma de fogo, efetuados por outro jovem, de 21 anos. Um dos projéteis, atingiu a coluna, o deixando paraplégico. Após quase 13 anos, o Tribunal do Júri que decidirá a pena para o autor, foi marcado para iniciar às 08h30 da quinta-feira (27). O réu, inclusive, já foi condenado por homicídio e tem passagens por porte ilegal de armas segundo o próprio Ministério Público (MP).

Em entrevista ao Portal 6, o promotor Denis Augusto Bimbati, responsável pelo caso, lamentou a morosidade no processo, mas garantiu estar confiante em conseguir evidenciar aos jurados o que realmente aconteceu naquele dia e trazer paz e um pouco de conforto à vítima.

“Estamos seguros de nosso trabalho e esperamos provar com vídeos, fotos e testemunhas, que a versão apresentada pelo réu, de legítima defesa, destoa completamente da realidade. A gente quer agora que o réu pague pelo que fez, que tenha o futuro impactado pelas ações que tomou, tal qual impactou para sempre o futuro do Bruno”, declarou.

Na visão de Denis, o caso tem sido conduzido pela defesa de tal forma que transfere a culpa do réu para a vítima. “O que eles estão tentando fazer é quase que culpar a vítima, ou seja, ele já ficou paraplégico e ainda querem punir ele de novo, fazer ele sair como culpado. Do jeito que estão fazendo, é perigoso até falarem que é ele quem devia ir preso”, disse o promotor.

O atentado

Conforme a versão da vítima, ao final do jogo, que estava sendo transmitido no antigo Absoluto, localizado no bairro Jundiaí, os ânimos estavam bastante acirrados e que não demorou muito até uma briga generalizada começar.

Bruno estava com amigos vendo o final do Brasileirão de 2011 no bar Absoluto, que ficava localizado no bairro Jundiaí. (Foto: Reprodução)

Em determinado momento, um dos amigos que o acompanhava foi atingido por uma barra de ferro. Por conta disso, Bruno e alguns colegas foram rumo à Santa Casa de Anápolis, a fim de buscar assistência médica. Foi neste momento que, segundo a vítima, o réu, na companhia de outro jovem, passou de carro na frente do grupo e efetuou os disparos.

“Nessa hora meus amigos mandaram eu correr, mas quando eu vi ele já estava com a arma apontada para mim. Eu até tentei levantar a mão, como que para bloquear, alguma coisa, qualquer coisa, aí veio o primeiro disparo, me virei, para tentar fugir e foi nessa hora que o outro tiro pegou na minha coluna”, relembrou Bruno, em entrevista ao Portal 6.

No momento, ele contou que simplesmente desabou ao chão, mas que ainda não tinha ciência da gravidade do que havia acabado de ocorrer. Foi apenas no outro dia, quando acordou no hospital, que a realidade veio à tona.

“Minha mãe estava do meu lado, eu acordei e falei que não estava sentindo as minhas pernas. Aí ela começou a chorar. Eu entendi”, disse.

Investigação e diferentes versões

Autos juntados pelo MP revelaram que, ainda em 2012, um jovem que acompanhava o agressor foi interrogado pela Polícia Civil (PC) e apresentou uma versão destoante do que foi narrado pela vítima e por diversas outras testemunhas.

Segundo o rapaz, após a confusão no bar, ele e o réu entraram em um veículo e saíram do local, porém Bruno teria jogado uma pedra em direção ao carro, de modo com que pararam o automóvel.

Neste momento, uma multidão teria cercado o carro e tentado agredi-los. Ele ainda contou que, enquanto tentava ajudar o amigo, viu Bruno deixar cair um revólver, o qual o réu teria pego e, em legítima defesa, efetuado os disparos.

Porém, conforme afirmado pelo promotor, tal versão não coincide com a de nenhuma outra testemunha, que sustentam que os tiros haviam sido realizados com a camionete ainda em movimento e que a vítima estava desarmada.

“Não só não foi legítima defesa, como o agressor sequer chamou o socorro. Bruno não tinha um histórico violento, não tinha nada. Por outro lado, o réu não tem esse histórico e também já foi condenado por homicídio […] Além disso, quem sai, para assistir um jogo de futebol, beber e com arma na cintura?”, questionou.

“Brigar no bar já foi um desvio de todos, já estavam errados. Mas era isso, teve uma confusão, ambas as partes se agrediram e foi isto, estavam indo embora já. Agora, o réu voltar e atirar a sangue-frio, sem oferecer qualquer chance de defesa, isso já extrapola qualquer possibilidade de defesa”, pontuou.

Bruno contou que, apesar de ter deixado tudo isso para trás, ainda deseja ver a Justiça sendo cumprida. (Foto: Arquivo pessoal)

Fé e esperança

Bruno, já acostumado com a rotina em uma cadeira de rodas, contou que tenta deixar tudo isso para trás e, inclusive, encontrou no esporte um meio para lidar com toda essa dor.

Ele revelou que, para o bem da própria família, espera que esta semana ponha fim a toda ao sentimento de injustiça.

“Quero mesmo é que a Justiça aconteça, não consigo mais ficar com isso na cabeça, ficar revivendo tudo isso”, disse.

Por muito tempo, após o atentado, ele conta que tentou transparecer que não estava abalado, especialmente pela mãe, que sempre permaneceu fiel ao lado dele, sem jamais desistir do sonho de que os culpados fossem penalizados.

Com relação a tanta demora, ele revelou que, apesar de ter fé na Justiça e em Deus, ainda teme que a defesa do réu tente, de alguma forma, prolongar ainda mais este sofrimento, mas que jamais irá perder as esperanças, já que, nas próprias palavras “Deus tudo vê e nada passa despercebido aos olhos dele”.

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