Jovem detalha como teve prejuízo de mais de R$ 50 mil com estelionatária que fingia câncer: “dom da lábia”
Kamilla Morgana pedia pequenas ajudas financeiras para tratamentos. Logo, as quantias se tornavam impressionantes
Imagine estar tão envolvido emocionalmente com uma pessoa que, de repente, mais de R$ 50 mil vão embora sem nem perceber. Essa triste realidade foi vivida pelo professor de artes Gustavo Henrique de Moura Pereira, de 27 anos, vítima da estelionatária Kamilla Morgana.
Ao Portal 6, o artista visual contou que conheceu a jovem, hoje com 29 anos, em 2022. Na época, ele havia sido contratado para dar aulas particulares na casa da família, em Goiânia, onde ela e o filho, de 10 anos, seriam alunos.
“Dava aula para ela uma vez por semana, durante uns dois meses. Foi se passando o tempo e fui criando muito afeto, tanto afeto que começou uma amizade”, explicou o jovem.
“Eu tomava banho de piscina com o menino dela, ele gostava de mim e eu gostava dele, e assim fui acreditando em tudo, conheci até a mãe dela e uma irmã, que hoje sei que é uma falsa irmã”, completou.
Narrativa de mentiras
Assim, quando já tinha o ‘amigo’ nas mãos, Kamilla iniciou uma narrativa, dizendo que havia sido diagnosticada com lúpus e também havia desenvolvido um câncer.
Devido a isso, ela teria precisado sair do emprego onde atuava — supostamente — como médica. Ademais, toda renda vinha de uma empresa de alimentos, onde até gerava um pequeno lucro, mas por se tratar de revendas, não era o suficiente para custear as doenças.
“Um dia ela me disse que tinha sido assaltada, tinha perdido o acesso aos bancos e precisava pagar algumas contas, tanto de tratamento quanto de coisas da criança”, relembrou.
Assustado em ver a amiga naquela situação, Gustavo ajudou. Mas, segundo ele, por não serem valores exorbitantes, não imaginou que poderia haver algum problema nisso.
No entanto, isso não passava de uma estratégia da jovem, que retornaria a pedir auxílio financeiro outras vezes para o amigo, sempre de pouco em pouco, gerando um rombo exorbitante ao final.
“Mesmo não sendo uma transferência para o nome dela, eu acreditava fielmente, porque via que ela estava mal. Na hora que eu ia ensinar ela a desenhar, ela era tão dissimulada a ponto de tremer, tremia muito, eu percebia que ela não estava nada bem da saúde”, contou, indignado.
Prejuízo
Foi assim que, de repente, o artista visual viu um grande sonho evaporar, tudo por conta da “lábia” de Kamilla — como o próprio definiu.
O jovem havia feito uma reserva, a qual estava juntando desde 2018 com o intuito de financiar um apartamento. Planos que já vinham sendo estudados há muito tempo, mas que, por conta da estelionatária, foram interrompidos.
“Foi uma boa quantia que perdi com ela, eu tinha uma graninha, mas no final fiquei endividado, porque além de gastar toda reserva, ainda foram gerados juros”, explicou a vítima, que teve um prejuízo que ultrapassou os R$ 53 mil.
Outras vítimas
Em uma das mentiras da suspeita, ela teria chegado a se ausentar das aulas de artes, pois iria fazer “sessões de quimioterapia”, ajudando a fortalecer ainda mais a narrativa.
No entanto, logo Gustavo começou a sentir falta do dinheiro e, passando os meses, começou a cobrá-la. Porém, Kamilla sempre o respondia com uma desculpa diferente, mesmo com prazos estendidos e condições facilitadas.
“Chegou um ponto que eu já não aguentava mais, precisava do dinheiro e decidi jogar o nome dela no JusBrasil. Lá, eu vi vários processos”, disse.
Dentre estes, o jovem encontrou outra vítima: um artista goiano do mesmo meio profissional que o dele.
Assim, ao entrar em contato com esta pessoa, Gustavo teve certeza de que tudo não passava de uma farsa. Durante uma conversa, os dois descobriram pontos em comum do ‘modus operandi’ da estelionatária.
“A gente se juntou e foi descobrindo um monte de outras pessoas. Um monte mesmo. Hoje nós temos um grupo com umas 10 vítimas, e ela usava a mesma tática com todo mundo”, explicou.
Chantagens
Pronto. De uma hora para a outra, o império de fraudes de Kamilla Morgana havia caído. Todas as vítimas se juntaram e entraram na Justiça contra ela, assim como realizaram boletins de ocorrência evidenciando o crime.
“No começo, a gente deu entrevista para algumas emissoras, mas ela me ameaçou, me coagindo para não seguir adiante com as reportagens. Ela dizia que ia tirar a própria vida, que ela não ia conseguir ver essas reportagens, que não ia conseguir resistir àquilo tudo”, relembrou.
“Tudo isso aconteceu porque eu estava muito fragilizado emocionalmente, estavam acontecendo algumas coisas na minha vida e coincidiu dela topar na minha reta. E aí eu queria fazer o bem de alguma forma, queria, né? Aí ela me pegou e achou que ia cair na dela, que eu ia ficar fragilizado. Ela sabia que eu era bem sentimental, achava que eu não ia seguir adiante”, continuou.
Mesmo assim, Gustavo não se deixou levar ainda mais pela suposta criminosa, dando continuidade à ocorrência.
Uma luz de esperança
Agora, com a estelionatária presa, o professor de artes se diz esperançoso de que um dia a Justiça seja feita por completo e ele tenha todo o dinheiro de volta.
“Ontem estava voltando para casa e eu tinha até lembrado poucos minutos antes dela, uma sensação de impunidade muito grande. É tão difícil, sabe? Enquanto crianças precisam de hospital, tem pessoas assim, trazendo mais malícia para o mundo”, pontuou.
“De alguma forma, eu vou receber, eu acredito. Eu não acreditava nem que ela ia ser presa, mas aí então eu passei a acreditar de alguma forma. Às vezes não diretamente dela, mas alguma oportunidade, uma porta que vai se abrir na minha vida e vou receber o dinheiro”, concluiu o jovem.