Relembre história de superação dos moradores da Vila Jaiara, que ficaram sem ‘rumo’ na década de 1990

Pessoas mais antigas do bairro contam como desespero e medo bateram à porta e causaram incertezas

Samuel Leão Samuel Leão -
Instalações da indústria têxtil Vicunha, na Vila Jaiara. (Foto: Museu Histórico de Anápolis)

Apesar de se consagrar como sendo o maior bairro de Anápolis atualmente, com população maior que muitos municípios de Goiás, a Vila Jaiara também enfrentou momentos de insegurança. Em um deles, a população chegou a acreditar que faltariam empregos e as pessoas teriam que deixar a região.

O ano era 1998, quando cerca de 700 funcionários foram demitidos da Vicunha, como era conhecida a Companhia Goiana de Tecelagem e Fiação de Algodão, ativa desde a década de 1940. A empresa era tão grande que, onde ela ficava, hoje funcionam a Faculdade Fama, o Jaiara Shopping, a Clínica Polisaúde Jaiara e o condomínio Torres do Mirante.

Foto do prédio onde ficava a Vicunha. (Foto: Museu Histórico de Anápolis)

“O povo ficou desesperado, pois a maioria da população trabalhava lá, todas as famílias daqui tinham um ou dois integrantes que trabalhavam na Vicunha. De repente ela fecha, e o povo ficou doido, mas graças a Deus muitos recomeçaram, vários compraram máquinas da própria Vicunha, enquanto outros já procuraram outros trabalhos, e ninguém passou fome por ela fechar”, explicou Maria Consolação, de 68 anos, moradora da Jaiara há 45 anos, ao Portal 6.

Com o bairro ainda sem estruturas para atrair moradores, a indústria acabou sendo responsável por uma migração massiva para a região, impulsionando o crescimento do que seria o maior bairro de Anápolis. Na época, a distância entre a Vila Jaiara e o centro urbano era de cerca de 5 km, percurso de difícil acesso pelos meios de transporte serem arcaicos e pelas estradas não serem pavimentadas.

Avenida Fernando Costa, a principal da Jaiara, por volta de 1951. (Foto: Museu Histórico de Anápolis)

A ocupação do bairro se deu, inicialmente, pela parte direita da Avenida Central, onde antes ficavam as fazendas Reboleira e Gomes. Na época, segundo o jornal “O Anápolis”, do dia 19 de junho de 1947, a Prefeitura prometeu a instalação de escola, hospital, igreja, praça de esportes e linhas de ônibus, como forma de fomentar a vinda de moradores. Apesar da promessa, essa realidade levou décadas para se concretizar.

“Aqui era de terra, não tinha nem asfalto, e aí foi aumentando e crescendo. Hoje a Jaiara é uma cidade, só não é emancipada, mas é uma cidade”, pontuou José Cassiano, de 86 anos, seguido por Maria Consolação, que lembrou: “quando chegamos aqui só tinha três casas, e uma era de lona. Demorou chegar a energia elétrica e a água tratada, tínhamos que subir o morro e descer toda a extensão da atual Tiradentes para ir até a cidade”.

Após se consolidar, na década de 1990 veio o baque, quando o vice-presidente da Vicunha, Eduardo Rabinovich, apontou a companhia têxtil como “uma fábrica velha, cuja produção era deficitária”. Na época, afetado pelo crescimento do mercado de exportação chinês, ele chegou a cobrar barreiras alfandegárias para proteger a produção nacional: “Nossos concorrentes internacionais produzem em grande escala, o que também prejudica nossas exportações”.

Apesar do apelo, o grupo Vicunha, que contava com 20 unidades pelo país e faturou R$ 1,3 bilhão no ano de 1997, encerrou as atividades em Anápolis no ano seguinte.

“Trabalhei 04 anos como mecânico na Vicunha, aqui na Jaiara é difícil você achar um cara que não trabalhou lá”, relembrou Osmar, de 69 anos. “Muita gente ficou desempregada quando ela fechou, todo mundo ficou preocupado, mas logo as pessoas foram migrando para empregos na Base Aérea e no DAIA, pois já havia transporte público na cidade”, complementou José Cassiano, de 86 anos.

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